Um olhar pelas portuguesas em Espanha – Parte 3
Desengane-se quem pensa que os talentos femininos apenas correm na estrada… Ana Santos (X-Sauce Factory Team) e Raquel Queirós (MMR Factory Racing) são das mais experientes no que toca ao XCO (Cross Country Olimpico), e na última parte direcionada às portuguesas que correm em Espanha é destas duas atletas que falamos.
Ana Santos representa a equipa X-Sauce Factory Team desde a temporada de 2021 e em 2023 não será diferente. É uma atleta de destaque tanto na vertente do XCO como do Ciclocross ao mesmo tempo que concilia a bicicleta com o curso de Fisioterapia.
No seu primeiro ano a correr numa equipa espanhola, participou em várias corridas importantes. Foi Campeã Nacional de Ciclocrosse, participou em diversas Taças do Mundo, venceu 2 provas pontuáveis para a Taça de Portugal de XCO, sagrou-se vice-campeã nacional de XCO em elites, participou no Campeonato Europeu de XCO, embora este tenha sido algo azarado devido a problemas mecânicos, fez 33º lugar no Campeonato do Mundo em Val di Sole, Itália, e concluiu a Copa Catalana Internacional no 3º lugar no escalão de sub23 e no 8º lugar à geral.
Na presente época de 2022, sagrou-se Tetra-Campeã Nacional de Ciclocrosse, ganhou a 1ª prova pontuável do Superprestigio no escalão de Sub23, venceu a 2ª Copa de Espanha, participou nas provas pontuáveis para a Taça do Mundo tendo alcançado o melhor lugar no Brasil (7ª posição) e venceu ainda a 3ª Taça de Portugal.
Ainda no ano de 2022, Ana Santos sofreu uma miocardite que a deixou de lado da bicicleta durante 6 meses, estando agora a reiniciar os treinos (pode ler-se a entrevista completa na ligação abaixo).
Estar numa equipa Continental UCI é uma responsabilidade maior e os cuidados também são diferentes.
“Não estava nada à espera do convite para ingressar nesta equipa pois já tinha tudo programado para ficar em Portugal. Entrei num mundo completamente diferente, mais organizado, mais profissional, pequenos detalhes que marcam… completamente diferente do que encontramos cá! Correr no estrangeiro é outro mundo, a concorrência e a disputa por um pódio é muito mais competitiva e dá-me muito mais pica, embora sejam mais duras as competições, isto em Espanha, pois se falarmos em Taças do Mundo, por exemplo, a diferença é brutal, primeiro pela quantidade de atletas que há e segundo por causa do andamento, onde vamos do início ao fim à morte!”
Ana Santos (X-Sauce Factory Team)
Após o incidente na 4ª Taça de Portugal de XCO, no Fundão, os objetivos são mais claros mas também a ponderação é maior.
“Depois da miocardite, que me obrigou a estar parada durante 6 meses, tenho de esperar e ver até onde o meu corpo é capaz de ir. A partir daí, já não gosto tanto de traçar objetivos, pois tinha muitos para este ano e uma coisa “simples” fez com que tudo fosse por água abaixo. Sinto que a miocardite fez-me abrir os olhos para a realidade e talvez não seja tão importante traçar objetivos, mas sim viver dia após dia, ciente de que vou sempre fazer o meu melhor. Será o meu 3º ano como Sub23, não vou traçar objetivos, apenas respeitar o meu corpo dando sempre tudo para alcançar títulos. Vão ver uma Ana a lutar pelo título de Campeã Nacional de Ciclocrosse e de XCO, vencer a Taça de Portugal, ganhar provas em Espanha, fazer um bom Europeu e Mundial mas não vou pôr lugares como objetivo pois não sei o que me espera. Só sei que darei o meu melhor!”
Ana Santos (X-Sauce Factory Team)
Foto: Satoshi Oda
Raquel Queirós atingiu o ponto alto da sua carreira ao participar nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 na vertente do XCO, tendo sido 27ª classificada, numa corrida ganha pela suiça Jolanda Neff. Iniciou cedo no ciclismo, passou pela estrada, mas nunca pôs de lado o BTT. Foi várias vezes Campeã Nacional de XCO e vencedora da Taça de Portugal, é presença recorrente em provas da Taça do Mundo, Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa e é agora também atleta olímpica. Em 2021 venceu a 1ª edição da Volta a Portugal Feminina, com as cores da VeloPerformance, fez top10 no Campeonato do Mundo de XCO, em Val di Sole, Itália, e é aí que dá o salto para uma equipa estrangeira.
“Foi a melhor experiência da minha vida, é o ponto mais alto da carreira de qualquer atleta, e sinto-me mesmo muito orgulhosa por tudo o que fiz para me apresentar nas melhores condições possíveis. Qualquer atleta de qualquer modalidade sonha estar nuns Jogos Olímpicos, e a verdade é que só os melhores estão lá, e é mesmo especial sentires-te parte desse grupo, é a prova de que todo o trabalho tem sido bem feito e que foi recompensado! Sinto que toda a situação do Covid-19 fez com que não pudessemos vivenciar toda a experiência a 100%, mas tentei desfrutar ao máximo em todos os aspetos. Foi um momento muito importante para mim, senti que realmente estou no caminho certo e que é mesmo o ciclismo profissional que quero fazer da minha vida.”
Raquel Queirós (MMR Factory Racing)
Foto: Ana Santos
Atualmente, representa a equipa MMR Factory Racing. Foi 27ª na Taça do Mundo de Albstadt, na Alemanha e 14ª na Taça do Mundo em Nové Mesto, na República Checa. No Campeonato da Europa disputado em Portugal, na cidade de Anadia, foi 8ª classificada no XCC (Cross Country Curto) e 9ª na corrida de XCO. Fez também top5 na Taça do Mundo de Mont Sainte Anne, no Canadá e o 11º lugar na última prova da Taça do Mundo disputada no circuito de Val di Sole. No Campeonato do Mundo, realizado em Les Gets, obteve o 12º lugar nas Sub23, numa corrida ganha pela francesa Line Burquier. Sagrou-se Campeã Nacional de XCO e XCC e foi terceira classificada no Campeonato Nacional de Enduro.
“Em 2023 o principal objetivo é aprender! Será o meu primeiro ano como elite e sei que será difícil, principalmente nas corridas da Taça do Mundo e nos Campeonatos do Mundo, mas estou a trabalhar bem e sei que mais tarde ou mais cedo as coisas vão sair!”
Raquel Queirós (MMR Factory Racing)
No que mais poderão estas duas atletas supreender-nos?
