Demi Vollering: um olhar sobre a mudança para a FDJ-SUEZ e o ciclismo feminino!

Demi Vollering é uma das ciclistas mais conhecidas em todo o Mundo. A neerlandesa de 28 anos, ainda ao serviço da Team SD Worx – Protime, atingiu o seu ponto mais alto da carreira ao vencer a segunda edição do Le Tour de France Femmes, em 2023. Ao gravar o seu nome na mais importante corrida do mundo, Demi colocou-se num patamar restrito de excelência. Perante a rápida evolução do ciclismo, Demi conseguiu estabelecer-se entre as melhores do Mundo. O que a distingue e o que ambiciona ela para o futuro?

O Ciclismo Mundial veio à procura de respostas à Web Summit, onde Demi Vollering marcou presença como oradora. No primeiro dia completo do evento, Demi marcou presença num painel com Siem de Jong e Koen Bosma, com moderação do jornalista Miguel Delaney. Os quatro abordaram o envolvimento dos atletas durante e após a sua carreira no mundo dos investimentos, estratégias e empreendimentos que beneficiem ambas as partes. No dia seguinte, Demi esteve com Brittni Mason e Christine Zonca numa sessão de perguntas e respostas sobre o bem-estar e saúde mental dentro e além do desporto feminino.

A derrota no Tour de France Femmes 2024

Apesar da vitória na etapa final, Demi Vollering perdeu o Tour de France Femmes por 4s!
Apesar da vitória na etapa final, Demi Vollering perdeu o Tour de France Femmes por 4s! (Foto: Getty Images)

Voltando ao que nos trouxe ao evento, tivemos a oportunidade de entrevistar Demi Vollering numa pequena conferência. Uma das primeiras questões abordadas foi relativa ao Tour de France Femmes 2024. Para Demi Vollering, perder por apenas 4s “foi devastador, mas é importante também olhar aos números e ouvir as tuas sensações. Depois do Tour, precisei de um pouco mais para recuperar mentalmente. É uma sensação amarga saber que podia ter ganho esse Tour, mas foi uma enorme lição para mim e isso deixa-me contente.

Numa perspetiva já futura, Demi abordou que a experiência será importante para os grandes objetivos futuros. Para Demi, “o medo de perder o Tour era quase maior do que a vontade de vencer. Quando perdi, a vontade de vencer voltou a ser muito grande, porque aquele Tour já não o poderia ganhar. Permitiu-me perceber que no futuro preciso de me focar na fome de vencer e não no medo da derrota.

Esta vontade de vencer voltou a mostrar-se muito grande no mês seguinte, nos Campeonatos do Mundo. A medalha de prata no contrarrelógio individual foi especial, por ter sido também a segunda participação num grande evento. Foi “um grande feito” para Demi Vollering, porque foi também um momento para o qual “trabalhou muito”.

(Numa mensagem para as jovens atletas que também passam pela experiência de falhar) É parte da vida, claro. No fim, vamos perder mais do que ganhar, mas é na derrota que aprendemos mais. Por isso, devemos também ser gratos por tudo o que perdemos. Há muitas lições nas derrotas, e muito poucas nas vitórias, porque por norma corre quase tudo bem. Perder aumenta a vontade de vencer, e traz também lições importantes para o futuro.

Demi Vollering

Os hábitos e rituais pré-corrida

Os dias de corrida são sempre intensos, e Demi Vollering falou-nos um pouco sobre a sua rotina em dias de prova. “Começo sempre o meu dia com 15min de alongamentos, um leve trabalho de core, e ativação corporal. É algo que eu gosto muito porque é o primeiro momento do meu dia e permite-me conectar a mente ao corpo. Só depois disso tomo o pequeno almoço e faço o resto das coisas. No autocarro, ou ainda no hotel, faço também uma pequena meditação para me conectar com a respiração. Por fim, tento visualizar os pontos chave da corrida, para estar mentalmente bem para a corrida“.

A mudança para a FDJ-SUEZ

O ano de 2025 será de mudança para Demi Vollering. A neerlandesa assinou por dois anos com a FDJ-SUEZ e irá alinhar, pela primeira vez, numa formação estrangeira. Demi contou-nos que foi “uma necessidade de mudança. Precisei de sair um pouco da minha zona de conforto para procurar crescer um pouco mais. A FDJ-SUEZ tem um projeto muito interessante, e senti que houve um clique logo após a primeira reunião. Vi muitas pessoas apaixonadas por ciclismo e guiadas pelo sucesso que queriam muito trabalhar comigo.

Demi Vollering procura voltar a vencer o Tour de France Femmes com a ida para a FDJ-SUEZ! (Foto: ASO)
Demi Vollering procura reconquistar o Tour de France Femmes com a ida para a FDJ-SUEZ! (Foto: ASO)

Na perspetiva de voltar a vencer o Tour de France Femmes, “a ida para uma equipa francesa seria algo lógico, e algo que os elementos da equipa também quereriam. Vi aquela vontade em contar comigo e em vencer, e isso fez-me querer também fazer parte da equipa.” Na perspetiva dos patrocinadores, “sendo todos franceses, e liderados por mulheres, foi algo que também ajudou.

Em 2025 espero poder ganhar o Tour de France Femmes novamente. Quero também, no futuro, tornar-me Campeã do Mundo e, pensando a longo prazo, tornar-me também Campeã Olímpica. Os Jogos são uma corrida muito especial.

Demi Vollering

Relacionando também a mudança com um ponto crucial como a transmissão televisiva das corridas, Demi aponta que “o desporto feminino tem ganho muitos fãs ao longo dos anos. Há cada vez mais gente que vem ter connosco antes, durante e após as corridas, e isso é muito bom de ver. Por vezes é difícil lidar com toda a atenção, mas acaba por ser um privilégio porque as pessoas interessam-se pelo desporto. Tenho a consciência que me tornei uma das caras do ciclismo, e tento usar isso de uma forma positiva.

Os primeiros passos de carreira e uma mensagem para as mais novas

A Liege – Bastogne – Liege será sempre uma corrida especial para Demi Vollering! (Foto: Getty Images)

Voltando um pouco atrás no tempo, a primeira grande memória de Demi Vollering chega ainda antes da primeira vitória profissional. “O terceiro lugar na Liege – Bastogne – Liege de 2019 foi especial. Era o meu primeiro ano como profissional, e eu já ali estava no pódio em Liege. Foi a corrida que me fez perceber que o ciclismo era o lugar onde eu queria estar“.

(Às mais novas que olham para mim) eu diria que é muito importante desfrutar, mas também compreender toda a jornada. Devem desfrutar de todo o processo de trabalhar para um objetivo. No fim, as corridas vêm e vão, mas o processo é algo especial. Toda a construção para uma corrida representa o porquê de pedalar e competir, e por isso devemos aproveitar bem esse momento.

Demi Vollering

Perguntando também a Demi pelas suas referências, ela revelou-nos que “no ciclismo, nunca tive propriamente uma. Olhei sempre para o Kobe Bryant, durante e após a sua carreira, como ele se conseguiu promover e contar as suas histórias. Era um bom contador de histórias, e isso sempre me gerou interesse. Hoje em dia é uma grande inspiração para mim“.

Demi revelou também ter uma pequena paixão pela escrita. “Tenho um diário que uso para escrever como me estou a sentir, que ideias tenho na mente, mas por vezes também escrevo pequenas histórias. Por vezes elas são muito grandes, mas outras consigo publicar no Instagram. Tenho guardado tudo, e espero no futuro poder fazer algo com elas.

As diferenças entre o masculino e o feminino no ciclismo

A vitória de Demi Vollering na Itzulia 2022 onde dominou todas as etapas da corrida! (Foto: Getty Images)
A vitória de Demi Vollering na Itzulia 2022 onde dominou todas as etapas da corrida! (Foto: Getty Images)

Demi Vollering abordou também as diferenças que tem sentido perante o ciclismo masculino. “Nós, como mulheres, sempre tivemos de lutar um pouco mais que os homens pelas mesmas oportunidades. Esta geração de ciclistas conhece esta luta, e percebe que o desporto no feminino ainda está a crescer.” Na diferença entre o masculino e o feminino, Demi reconhece que “os homens atrevem-se a arriscar um pouco mais, enquanto as mulheres querem sempre saber primeiro tudo antes de falar ou executar.

Fazendo o paralelo da ideia para a perspetiva dos patrocinadores, Demi exemplificou que “se um sponsor abordar uma ideia, as mulheres dirão que sim, mas querem estar envolvidas em todo o processo. Isto para perceber todo o conceito e tentar fazer o melhor pelo patrocinador. Por outro lado, os homens talvez arrisquem mais no processo depois de dizer que sim. As mulheres acabam por estar mais comprometidas com os patrocinadores.

Subestimamos um pouco que devemos tratar o desporto feminino de forma um pouco diferente. É importante termos as mesmas chances, mas não devemos tentar copiar tudo do lado masculino. Devemos ter orgulho em que o desporto feminino seja um pouco diferente, e muitas vezes ouço que os adeptos têm mais interesse em seguir as nossas corridas, porque são mais explosivas, por exemplo, ou porque as corridas são mais curtas podemos atacar desde cedo. É interessante haver esta diferença, mas o importante é termos as mesmas oportunidades, e trazermos mais patrocinadores focados nas mulheres.

Demi Vollering

O futuro do ciclismo feminino

Colocando um olhar final no futuro, perguntamos a Demi Vollering quais podem ser os próximos passos na evolução do ciclismo feminino. Para Demi “o importante é sermos vistas, termos transmissões em direto, porque neste momento o nível só precisa de subir. Isso significa termos mais ciclistas no pelotão e mais corridas, o que pode reduzir o número de dias de competição por ciclista. Assim, poderemos ter estágios de altitude e subir a qualidade do pelotão. Só o vamos conseguir se as pessoas nos virem, se se sentirem inspiradas por nós. Depois disso, procurarmos mais patrocinadores que queiram envolver-se no desporto feminino.

Foto de Capa: Ramsey Cardy/Web Summit via Sportsfile

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