La vita è bella!

A décima etapa do Giro d’Itália proporcionou-nos uma das melhores etapas das grandes voltas mais recentes, com demonstrações de classe de ciclistas muito especiais. Peter Sagan, que tanta fome de vitórias tinha, voltou a mostrar todo o talento que o elevou ao estatuto dos grandes vultos da história do ciclismo, efetuando uma etapa extraordinária. Forçou a entrada e manutenção na fuga, puxou, atacou na altura chave, e fechou isolado, “para a foto”.

Um dos veteranos, Domenico Pozzovivo, que está num grande momento de forma, teve a sua equipa a trabalhar para si em grande nível até que um furo o fez atrasar. Sem perder o foco, o italiano recuperou rapidamente a posição para, pouco depois, atacar do grupo de favoritos! O ciclista da NTT segue na quarta posição a 57 segundos do líder.

E o que dizer de João Almeida? Teve um desempenho simplesmente de campeão, mais uma vez, mostrando de forma enfática que não teme ninguém. Estamos perante o nascimento de uma estrela, de alguém que se arrisca a ser um dos melhores ciclistas portugueses de sempre, ao nível de Agostinho, de Acácio da Silva, de Azevedo, e de Rui Costa. De camisola rosa pelo sétimo dia consecutivo, Almeida teve uma grande equipa do seu lado mas mostrou ele próprio que tem de ser levado muito a sério como líder da classificação geral. Sempre bem colocado, analisou, falou com a equipa, puxou, fechou espaços, e, quando a oportunidade se proporcionou, atacou com “panache”! No fim, num grupo restrito de favoritos, composto por alguns dos melhores ciclistas do mundo, não só puxou na frente na tentativa de alcançar McNulty e, desse modo, lutar pelo segundo lugar e respetivas bonificações, como lançou um sprint demolidor para o terceiro posto que ninguém conseguiu igualar. Se até agora o português ia sendo visto como alguém com qualidade mas cuja posição era temporária e um pouco uma obra do acaso e da circunstância, nesta altura o português já ganhou o respeito de todos os demais favoritos. Todos sabem que se se distraírem, João Almeida não vai perdoar.

Num Giro que tem tido tantos abandonos importantes e cujo próprio desenrolar pode estar ameaçado, todas as condicionantes têm que pesar para quem quer vencer a prova. Um ciclista como João Almeida, novo, sem qualquer referência em três semanas, apoiado por uma equipa jovem e ambiciosa à sua imagem, muito forte no contrarrelógio (e ainda faltam dois), não pode neste momento ser menosprezado por qualquer corredor. Nibali e Fuglsang, por exemplo, são 5º e 11º, a 1:01 e 2:20, respetivamente, e arriscam-se a perder tempo nos contrarrelógios. Não está fácil para os únicos superfavoritos que ainda sobrevivem.

Pode-se argumentar que Wilco Kelderman é neste momento o maior candidato a vencer o Giro, fruto da sua forma na montanha e da sua capacidade de contrarrelogista, no entanto, todos os ciclistas em prova poderão e provavelmente terão pelo menos um dia mau. Existe maior incógnita à forma como Almeida irá responder mas não podemos afastar nesta altura qualquer cenário, incluindo a vitória final. Pode-se insistir que ele é novo, que não se pode colocar pressão, que no futuro irá ganhar, mas porque não ganhar já? É inegável a forma como se defende na montanha, e num bom dia de contrarrelógio pode recuperar grandes diferenças para qualquer um, pelo menos deste pelotão. Além disso, todos os grandes ciclistas sabem que não se ganham grandes voltas sem sorte. Que o diga Nibali, um dos grandes da história, que ganhou um Tour com todo o mérito mas onde os abandonos dos outros favoritos foram decisivos. Se as ausências de Thomas, Yates, e Kruijswijk, se os azares de Fuglsang, se a não presença de colossos do contrarrelógio como Dumoulin, Roglic, ou até Pogacar, acabarem por ser decisivos para que um português eventualmente vencesse uma grande volta, o feito seria de tal ordem que as condicionantes (que sempre existem em todas as grandes voltas) perderiam relevância.

Na décima primeira etapa, muito provavelmente haverá uma trégua na luta pela geral. Serão 182 km entre Porto Sant’Elpidio e Rimini, e apenas uma subida de quarta categoria, numa jornada que deverá ser discutida pelos sprinters, e logo a seguir a um deles ter vencido a partir de uma fuga.

Perfil da 11ª etapa da Volta a Itália

O desgaste de Sagan poderá retirar alguma força para o sprint, mas na lista de favoritos ele seria sempre o número dois atrás do campeão francês Arnaud Démare (Groupama-FDJ). Nos sprints puros (e não só, como na sexta etapa), Démare tem estado intratável, colecionando já três triunfos em etapas, além da liderança da classificação dos pontos. Com uma equipa dedicada totalmente a si, Démare é o favorito nº 1 de forma destacada para esta etapa.

Com o abandono de Michael Matthews, com o desgaste de Sagan, com a falta de forma/inspiração dos restantes sprinters presentes no Giro, torna-se difícil de apontar a um forte candidato a bater Démare. Apesar de tudo, Sagan está num bom momento e, uma vez que existe uma curva na parte final, que irá obrigar a uma boa colocação, o eslovaco irá com certeza tentar bisar neste Giro, pelo que tem que ser apontado como segundo favorito.

Seguem-se nomes como Fernando Gaviria (UAE-Team Emirates) ou Elia Viviani (Cofidis) como homens que poderão ter capacidade para se bater pela vitória. Além deles, destque para a Deceuninck-Quick Step, que conta com dois nomes que certamente irão colaborar, podendo um ou outro tentar a vitória: Davide Ballerini e Álvaro Hodeg.

Refiram-se também nomes como Davide Cimolai (Israel Start-Up Nation), Andrea Vendrame (AG2R La Mondiale), Ben Swift (INEOS), ou o próprio Juan Sebastián Molano (UAE-Team Emirates) como ciclistas que podem estar em destaque nesta chegada.

Relembre-se que para a décima primeira etapa do Giro d’Itália, dois portugueses partem na liderança de três das competições individuais da prova, com João Almeida a arrancar para o seu oitavo dia de rosa e Ruben Guerreiro para o segundo dia com a camisola da montanha.

Favoritos Ciclismo Mundial:

⭐⭐⭐⭐⭐ Arnaud Démare
⭐⭐⭐⭐ Peter Sagan e Fernando Gaviria
⭐⭐⭐ Elia Viviani, Davide Ballerini, e Álvaro Hodeg
⭐⭐ Davide Cimolai, Andrea Vendrame, Ben Swift, e Juan Sebastián Molano
⭐ Stefano Oldani, Albert Torres, Enrico Battaglin, Jhonatan Restrepo, e Giovanni Lonardi

Podes acompanhar a etapa em direto na Eurosport!

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