Milão-Sanremo 2022! Está na hora da Roleta da Primavera!

Para os adeptos mais puristas do ciclismo, os grandes momentos da temporada começam hoje, com a disputa do primeiro monumento do ano, a mítica Milão-Sanremo! A prova conhecida por La Classicissima representa a corrida mais longa de todo o calendário, o que lhe confere um estatuto bem especial, a que se alia todo o peso histórico da competição e ainda as próprias características do percurso.

Como diz uma velha máxima do ciclismo: Milão-Sanremo é o monumento mais fácil de completar, mas também o mais difícil de vencer! E, de facto, La Primavera apresenta um traçado verdadeiramente único, longo e maioritariamente plano, mas com duas subidas perto do final, a Cipressa e o Poggio, que abrem a porta a ataques que têm sempre fortes possibilidades de sucesso. Trata-se de uma das grandes dicotomias do ciclismo mundial: o combate entre sprinters e puncheurs pela supremacia da Classicissima!

A versão de 2022 irá consistir num percurso de 293 km, que irá partir da capital da Lombardia, para terminar na cidade costeira, símbolo da Ligúria.

Trajeto da Milão-Sanremo 2022

O perfil da corrida será plano, na sua maioria, destacando-se como principais dificuldades a subida ao Passo del Turchino a meio da jornada, e depois o prato forte, com as subidas à Cipressa e ao Poggio, antes da chegada na Via Roma!

Colocado 7 km antes da meta, o Poggio di Sanremo representa, habitualmente, a grande pedra no sapato dos homens rápidos do pelotão. São apenas 3.6 km, a 3.6% de inclinação média, no entanto, com as maiores percentagens perto do topo, e depois de quase 300km a pedalar, esta é uma dificuldade de monta para muitos ciclistas. Trata-se de um ponto verdadeiramente decisivo do percurso, perfeito para lançar um ataque devastador rumo à vitória, mas onde muitos homens rápidos e pesados acabam por conseguir minimizar perdas e encostar na descida, mantendo-se na luta pela vitória. Esta é, de facto, uma das grandes corridas do ano, e uma das mais difíceis de prever, como fica provado ano após ano!

Perfil da Milão-Sanremo 2022

Os Favoritos

Nos últimos anos, a balança tem pendido para o lado dos homens que atacam nas subidas, especialmente no Poggio, embora, em diversas ocasiões, o pelotão tenha ficado muito perto de eliminar as movimentações dos melhores trepadores. A última vez que um sprinter puro venceu a prova foi no ano de 2016, quando Arnaud Démare bateu Ben Swift, na última chegada em pelotão compacto.

No ano passado, tudo parecia apontar para um sprint em pelotão reduzido, com um grupo ainda numeroso a superar o Poggio, no entanto, Jasper Stuyven acabou por atacar a 3 km do final, já depois da descida, conseguindo abrir um espaço decisivo face aos rivais, que depois ainda tentaram alcançar o belga, mas sem sucesso.

Logo atrás de Stuyven, fecharam um superlativo Caleb Ewan, ausente em 2022, e também Wout Van Aert, da Jumbo-Visma, que surge como grande candidato a repetir o título conquistado em 2020! O King Kong de Herentals será o homem-chave da corrida, sendo o principal candidato num sprint, mas também um dos mais fortes nas subidas. Em 2022, o campeão belga acumula já vitórias na Omloop Het Nieuwsblad e também no contrarrelógio e na classificação por pontos do Paris-Nice, sendo a Milão-Sanremo um objetivo claro da temporada.

Importa ter em conta o óbvio elefante na sala. Entre o conjunto de puncheurs, classicómanos, e trepadores que irão fazer a vida negra aos sprinters, está nada mais nada menos que o melhor ciclista do mundo (em três semanas e não só): Tadej Pogacar! Se alguém pode fazer com que um ataque resulte na Milão-Sanremo é certamente o Pequeno Pogi, que irá estar em busca do seu terceiro monumento, depois de no ano passado ter arrecadado Liège-Bastogne-Liège e Volta à Lombardia! A formação da UAE Team Emirates irá certamente endurecer a corrida para o seu líder, que irá atacar ou no Poggio ou até mesmo na Cipressa, tentando desfazer as ideias dos homens mais rápidos desde cedo. Note-se que desde 1996 que não assistimos a um ataque vitorioso a partir da Cipressa!

A Emirates e a Jumbo surgem como as duas principais equipas para esta prova, ambas interessadas num ritmo alto. Será interessante de analisar o que farão WVA e a Jumbo se Pogacar atacar na Cipressa. Certamente irão perseguir, mas não é claro qual o comprometimento de Van Aert com um ataque de muito longe ou até mesmo já no Poggio. A Jumbo terá um dos elementos fulcrais desta equação: Primoz Roglic, que será o homem-charrua das abelhas assassinas, tentando fechar os espaços para os atacantes, em especial para o outro super-esloveno.

Esta lógica de corrida praticamente elimina as possibilidades de um grupo numeroso vir a discutir a vitória. Depois de quase 300 km de esforço, não é fácil de imaginar quem poderá acompanhar o campeão belga e os dois eslovenos. Entre os principais candidatos estarão seguramente Tom Pidcock, com a Ineos Grenadiers também interessada num ritmo duro, e também outro ícone do ciclo-cross, Mathieu Van Der Poel, da Alpecin-Fenix. O Godzilla de Kapellen foi adicionado à startlist à última da hora e irá fazer a sua estreia nesta temporada, restando saber qual o nível a que se vai apresentar. De qualquer forma, para alinhar à partida é porque certamente estará em condições de se bater por um grande resultado.

Esta será uma corrida imprevisível, onde tudo pode e provavelmente vai acontecer, nomeadamente um ataque vitorioso de uma segunda linha. Pensamos, claro, em Primoz Roglic (Jumbo), mas também no próprio Filippo Ganna (Ineos), que tem estado a escalar a um grande nível e que num dia sim pode arrancar neste tipo de subidas. No ano passado, foi ele que alinhou e controlou o pelotão à entrada do Poggio, sendo que um ataque preciso do campeão do mundo de contrarrelógio pode ser difícil de negar, na própria subida e até quem sabe no acesso à Via Roma. Será possível termos um Stuyven 2.0?

Continuando a falar de segundas linhas, importa ter em conta nomes como Alessandro Covi (UAE Team Emirates) e também Michal Kwiatkowski (Ineos), campeão em 2017.

Como temos vindo a frisar, a tarefa não se prevê nada fácil para os velocistas do pelotão, que irão ter de lutar contra Pogacar e companhia, mas também contra o vento cruzado que se adivinha para o final e que irá dificultar a perseguição! Ainda assim, o lote de homens rápidos é alargado e diversificado, sendo que muitos poderão, num bom dia, conseguir manter-se na luta no Poggio e fechar espaços para o sprint, ou até, quem sabe, fazer um ataque “a la Stuyven”. Assim, importa ter em conta os nomes que se seguem, sendo que uns estarão mais confortáveis num sprint alargado e outros preferirão lutar com um grupo mais reduzido: Mads Pedersen, Biniam Girmay, Jasper Philipsen, Søren Kragh, Alex Aranburu, Anthony Turgis, Michael Matthews, Alexander Kristoff, Arnaud Demare, Giacomo Nizzolo, Nacer Bouhanni, Danny van Poppel, Ivan Garcia Cortina, Bryan Coquard, Phil Bauhaus, ou mesmo o Hulk de Zilina, Peter Sagan, ele que já por nove vezes fechou top 10, mas nunca fez melhor que o 2º posto.

Este é um dos percursos do calendário internacional mais propícios para termos um grande espetáculo e incerteza até ao último metro de asfalto! Não esqueçamos a presença de outros nomes que poderão facilmente surpreender, como Benoit Cosnefroy, Alberto Bettiol, Ethan Hayter, ou Matej Mohoric.

Depois há ainda o caso do Wolfpack. Torna-se estranho tecer considerações sobre um monumento e apenas no final do artigo fazermos referência à grande equipa das clássicas. Com a troca de Julian Alaphilippe por Fabio Jakobsen, a Quick-Step Alpha Vinyl acaba por passar do lado dos puncheurs para o dos sprinters, mas será difícil de imaginar o possante neerlandês a bater-se no Poggio com a larga maioria dos nomes já mencionados. Assim, as melhores hipóteses da Quick-Step deverão surgir através de um dos outros lobos, como Mikkel Honoré, Florian Senechal, Zdenek Stybar, ou ainda Andrea Bagioli.

Quem será o novo Rei da Primavera, que irá juntar o seu nome a um dos mais belos livros de ouro do ciclismo mundial? Apenas quatro ciclistas do pelotão de 2022 venceram a prova: Van Aert, Kristoff, Demare, e Kwiatkowski, todos eles apenas por uma vez, todos eles longe do monstro sagrado Eddy Merckx, dono de sete triunfos na Classicissima!

Favoritos Ciclismo Mundial

⭐⭐⭐⭐⭐ Wout van Aert
⭐⭐⭐⭐ Tadej Pogacar e Tom Pidcock
⭐⭐⭐ Mathieu van der Poel, Primoz Roglic e Filippo Ganna
⭐⭐ Alessandro Covi, Michal Kwiatkowski, Mads Pedersen e Biniam Girmay
⭐ Jasper Philipsen, Søren Kragh, Alex Aranburu, Anthony Turgis, Michael Matthews, Alexander Kristoff, Arnaud Demare, Giacomo Nizzolo, Nacer Bouhanni, Danny van Poppel, Ivan Garcia Cortina, Bryan Coquard, Phil Bauhaus, Peter Sagan, Benoit Cosnefroy, Alberto Bettiol, Ethan Hayter, Matej Mohoric, Mikkel Honoré, Florian Senechal, Zdenek Stybar, Andrea Bagioli e Fabio Jakobsen

Portugueses em Prova

O primeiro Monumento da temporada não conta com a presença de qualquer ciclista português.

Transmissão em Direto

A prova contará com transmissão em direto na Eurosport 2 a partir das 8:50 (PT).

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