Tour de France, um caminho de evolução ou regressão no século XXI?

Quando falamos do Tour de France, falamos daquela que é a maior corrida de ciclismo em todo o Mundo! O que não quer dizer que seja a melhor ou que mais espetáculo traga… Mas é a maior porque é aquela que mais adeptos junta nas estradas, que toda a gente espera para ver, mesmo quem não acompanha ciclismo durante o resto do ano, e que mais patrocinadores atrai, juntando todos os anos uma caravana de milhares e milhares de pessoas, entre staff da organização, patrocinadores, staff das equipas, comissários, e, claro, aqueles que todos querem ver, os ciclistas.

Em 21 anos de competição, o panorama do ciclismo mudou imenso, e foi marcado também por diversos escândalos, como o caso de Lance Armstrong, que é certamente o maior de todos eles. É com Armstrong que este artigo vai começar, porque foi ele que venceu o primeiro Tour de France do século XXI, na sua edição 88. Em 2001, Lance Armstrong estava exatamente na mesma posição que Tadej Pogacar se encontra em 2022 a nível desportivo. Para Armstrong, era o quarto ano ao serviço da US Postal Service, e o norte-americano arrancava para o Tour como o principal favorito, contando já com 2 vitórias na La Grand Boucle. Para Pogacar, 2022 marca o seu quarto ano ao serviço da UAE Team Emirates, e o esloveno vai arrancar de Copenhaga como o principal favorito, tendo já vencido a corrida por duas vezes. Os factos são curiosos, mas o ciclismo também evoluiu, nunca tendo perdido, infelizmente, a conotação negativa do doping, que todos os anos surge na boca da imprensa e do Mundo, mesmo que os “acontecimentos” não sejam factos e apenas rumores. Em todo o caso, este não é o foco deste artigo, mas sim a evolução da corrida ao longo de 21 anos e é com isso que vamos seguir.

Tour 2001

Em 2001, Lance Armstrong era coroado vencedor do seu terceiro Tour de France, numa edição que teve um percurso marcado por muito contrarrelógio. O norte-americano levantava os braços nos Campos Elísios, com 6:44 sobre Jan Ullrich e 9:05 sobre Joseba Beloki. A maior curiosidade é que a corrida teve 168.2km de contrarrelógio, divididos por um prólogo de 8.2km, um contrarrelógio coletivo de 67km, uma cronoescalada de 32km e um exercício individual de 61km já no antepenúltimo dia de corrida. Contas feitas, nessas 4 jornadas, Armstrong ganhou 3:06 a Ullrich e 3:21 a Beloki, o que representa uma parte muito significativa da diferença final.

A primeira semana do Tour teve 12 dias de corrida, dos quais 6 eram jornadas planas, 1 de média montanha, 3 contrarrelógios e 2 dias de montanha, enquanto a segunda semana teve apenas 3 míseros dias, mas todos eles de alta montanha, onde se jogou muito da classificação geral. A semana final teve o tradicionais 6 dias, mas, surpreendentemente para muitos, foram 4 dias planos, 1 dia de média montanha e 1 dia de contrarrelógio, totalizando então 10 dias planos, 2 dias de média montanha, 5 de alta montanha e 4 contrarrelógios. Metade do Tour era assim dedicado aos sprinters e a homens rápidos, o que hoje em dia, na mente de muitos adeptos, parece impensável. A título de curiosidade, Erik Zabel venceu a camisola verde pela sexta e última vez.

Tour 2002

Em 2002, Armstrong voltou a ser coroado nos Campos Elísios, numa edição 89 com 9 jornadas planas, das quais 7 estavam numa primeira semana com 10 dias de corrida que ficava completa com 3 contrarrelógios. A alta montanha só surgiu no 12º dia e dividiu-se de forma igual entre a segunda e terceira semana, que teve no penúltimo dia um segundo contrarrelógio individual, com 50km, que incluía uma difícil subida e uma longa descida na sua primeira metade. No total foram 176.5km de contrarrelógio, com 67.5km em modo coletivo, e Armstrong ganhou 1:23 sobre Joseba Beloki e 2:23 sobre Raimondas Rumsas, eles que completaram o pódio a 7:17 e 8:17, respetivamente. A classificação dos pontos foi ganha por Robbie McEwen, um puro sprinter australiano.

Tour 2003

2003 voltou a não ser diferente, e o 90º Tour apresentou 4 contrarrelógios, num total de 171.5km, divididos entre 1 prólogo, 2 exercícios individuais longos de quase 50km, e um exercício coletivo de 69km. Em termos de jornadas de montanha e planas, elas mantiveram-se praticamente iguais, apenas com a diferença que 3 jornadas de alta montanha surgiram na primeira semana e outras 3 na segunda, enquanto a semana final teve apenas um dia de montanha, que incluiu duas primeiras categorias ainda numa fase muito inicial que é um dia que pode muito bem ser considerado de média montanha. Contas feitas, Armstrong ganhou 1:01 sobre Jan Ullrich e 4:14 sobre Alexandre Vinokourov, perdendo 47s para o alemão e ganhando 4:00 sobre o cazaque. A classificação dos pontos foi ganha pelo sprinter australiano Baden Cooke.

Tour 2004

Em 2004, o Tour número 91 inovou de certa forma, e reduziu o número de kms de contrarrelógio para 141.1km, enquanto as etapas de alta montanha foram também reduzidas para 4, com o número de dias de sprint a voltar aos 10. Só ao 13º dia de corrida surgiu a primeira etapa de alta montanha, mas as diferenças no final acabaram por ser uma vez mais elevadas, já que Armstrong terminaria com 6:19 sobre Andreas Kloden e 6:40 sobre Ivan Basso. No contrarrelógio, o norte-americano ganhou 4:44 a Kloden e a 7:26 a Basso. A classificação por pontos foi reconquistada por Robbie McEwen.

Tour 2005

2005 marcou uma pequena revolução nas características do Tour de France, com a redução dos dias de contrarrelógio para 3 e os dias totalmente planos para 7, com a inclusão de mais etapas de média montanha, que se tornaram este ano 6, em dias propícios a bastante espetáculo e animação. Ainda assim a redução de 1 dia de contrarrelógio manteve a distância nos 142km, dos quais 67.5km se encontravam no contrarrelógio coletivo. A primeira semana trouxe dois dias finais de média montanha, num claro aperitivo para as duas semanas finais com duras etapas de montanha. Lance Armstrong conquistaria o seu 7º e último título na corrida francesa, e todos eles viria a perder anos mais tarde, agora com 4:40 sobre Ivan Basso e 6:21 sobre Jan Ullrich. No que ao contrarrelógio diz respeito, Armstrong ganhou 3:20 a Basso e 1:59 a Ullrich. A camisola dos pontos foi desta vez ganha por Thor Hushovd, sprinter norueguês bastante completo, que se defendia muito bem em múltiplos terrenos.

Tour 2006

Em 2006, o Tour foi ganho surpreendentemente por Oscar Pereiro, espanhol da Caisse d’Epargne que conseguiu aguentar de amarelo até final após integrar uma fuga que triunfou com quase 30min sobre o pelotão ao 14º dia de corrida! Desta feita, o contrarrelógio coletivo desapareceu, e chegou de novo um terceiro contrarrelógio individual que se voltou a adicionar ao prólogo e ao contrarrelógio final. Ainda assim, a distância de esforço contra o cronómetro reduziu-se para 116.1km, em mais uma das mudanças significativas deste século. Pereiro venceria a geral com 32s sobre Andreas Kloden após grandes defesas nos dias de alta montanha, e 2:16 sobre Carlos Sastre, que completaria o pódio. A tudo isto se deveria, claro, a desclassificação de Floyd Landis, da Phonak Hearing Systems, em mais um escândalo de doping, ele que havia resgatado a amarela no contrarrelógio final, com 57s sobre o espanhol. Robbie McEwen voltava a vencer a classificação por pontos.

Tour 2007

Em 2007, o Tour de France ficaria marcado pel chegada de um fenómeno do ciclismo no século XXI, de seu nome Alberto Contador, que ao serviço da Discovery Channel alcançou uma grande vitória, a sua primeira numa grade volta, com 23s sobre Cadel Evans (Predictor – Lotto) e 31s sobre o seu colega de equipa, Levi Leipheimer. Com 117.4km de contrarrelógio, o exercício individual acabou por não ser decisivo para Contador, que perdeu 2:30 para Evans e ganhou 1:52 para Leipheimer. Foi nos Pirineus que o espanhol fez a diferença e ganhou muito tempo aos adversários, mas só com o abandono de Michael Rasmussen (Rabobank) subiu à liderança da geral. Na luta dos sprints, Tom Boonen venceu a sua primeira e única camisola dos pontos.

Tour 2008

Em ano de JO de Pequim, Carlos Sastre, ao serviço da Team CSC – Saxo Bank, venceu o Tour com 58s sobre Cadel Evans (Silence – Lotto) e 2:10 sobre Denis Menchov (Rabobank), com os irmãos Schleck em destaque. A edição de 2008 começou sem prólogo, e com uma etapa acidentada a terminar em Plumelec, coroando Alejandro Valverde (Caisse d’Epargne) como o primeiro líder da corrida. O destaque da edição foi mesmo a redução do contrarrelógio, que passou para apenas 2 etapas e para 82.5km, o que acabou por beneficiar Sastre, que perdeu 1:45 para Evans e 1:48 para Menchov na especialidade. Uma vez mais, a montanha fez toda a diferença, com Sastre a triunfar na etapa do Alpe d’Huez com uma espetacular exibição que praticamente lhe entregou a vitória final no Tour! No campo dos homens rápidos, Oscar Freire venceu também a sua primeira e única camisola verde, tal como Boonen havia feito no ano anterior.

Tour 2009

Em 2009, o ciclismo assistiu ao primeiro de dois grandes duelos entre Alberto Contador e Andy Schleck no Tour de France, com o espanhol da Astana a bater o luxemburguês da Team Saxo Bank de forma impressionante por 4:11. A edição ficou marcada pelo regresso do contrarrelógio coletivo 4 anos depois, mas também de um curto contrarrelógio individual na primeira etapa, após 1 ano de ausência. No total, foram 85km de contrarrelógio divididos por 3 etapas, com o último a estar, desta vez, na etapa 18 e não na tradicional etapa 20. Com 7 dias de alta montanha, Contador apenas ganhou 1min a Schleck nas subidas, registando um ganho de 3:07 no contrarrelógio, que se revelou a grande fragilidade do luxemburguês. Thor Hushovd venceu a sua segunda camisola verde.

Tour 2010

No ano seguinte, o duelo repetiu-se e Contador bateria Schleck por 39s, após ter ganho 31s no contrarrelógio final e outros tantos numa jornada em que o luxemburguês teve uma avaria mecânica que lhe faria perder a amarela que o espanhol não conseguia retirar. No final, Contador acabou por ser desclassificado por doping, e Schleck venceria o Tour na secretaria após uma grande edição da corrida! Em 2010, o Tour voltou a ter apenas 2 contrarrelógios, num total de 61km, mas incluiu uma novidade, uma etapa pelos paralelos de Roubaix, que muito beneficiou Schleck graças a uma enorme ajuda do especialista Fabian Cancellara, ganhando ao quarto dia 1:13 a Contador, após ter perdido 42s no prólogo inicial. Nos duelos de montanha, Schleck superou Contador em Morzine, mas ficaram iguais em todos os restantes, à exceção da etapa 15, onde Schleck teve a avaria em plena subida ao Port de Balès, que permitiu assim ao espanhol resgatar a liderança. Alessandro Petacchi venceu também pela primeira e única vez a classificação por pontos. Em destaque esteve também Sérgio Paulinho, vencedor de uma etapa.

Tour 2011

O ano de 2011 foi inglório para os franceses com Thomas Voeckler, ao serviço da Team Europcar, a rubricar uma grande exibição e a só perder a amarela ao antepenúltimo dia para Andy Schleck. O luxemburguês, agora pela Leopard – Trek, acabaria por ser segundo na geral, depois de um super contrarrelógio final de Cadel Evans lhe ter dado finalmente a glória de vencer o Tour de France, depois de ter sido 2x segundo, com 1:34 sobre Andy e 2:30 sobre o seu irmão Frank. O contrarrelógio foi decisivo para a vitória do australiano, apesar de esta ter sido a primeira edição do século com apenas um contrarrelógio individual, ao qual se juntou um contrarrelógio coletivo, totalizando 66km contra o cronómetro. As etapas acidentadas prevaleceram com 6 jornadas explosivas e com montanhas mais curtas, destacando-se 5 delas na primeira semana, uma das quais tendo sido ganha por Rui Costa, ao serviço da Movistar, a partir da fuga do dia. Ainda assim, numa edição com menos dias planos, foi Mark Cavendish quem venceu a sua primeira camisola verde.

Tour 2012

2012 ficou marcado pelo começo dos anos de domínio da Sky Procycling, com Bradley Wiggins a vencer a corrida francesa naquela que surpreendentemente seria a sua última participação, trazendo ao seu lado Chris Froome como o seu fiel escudeiro, mas que por várias vezes revelou superioridade ao seu líder na montanha. A edição voltou a contar com 3 contrarrelógios, num total de 99km, que, à exceção do prólogo ganho por Cancellara, foram completamente dizimados por Wiggins e pela Sky. O britânico venceria a geral com 3:21 sobre Froome e 6:19 sobre Vincenzo Nibali, tendo ganho 2:02s ao colega de equipa e 5:56s ao italiano no exercício individual. No que à velocidade diz respeito, 2012 ficou também marcado pela chegada do dominador Peter Sagan, que venceu a primeira de 7 camisolas verdes conquistadas até ao momento.

Tour 2013

No ano seguinte, a Sky apostou em trazer Chris Froome ao Tour como líder e o britânico não desiludiu, batendo largamente toda a concorrência enquanto conquistava três etapas, em Ax-3-Domains, no Mont Ventoux e numa cronoescalada. Froome conquistou a amarela com 4:20 sobre Quintana e 5:04 sobre Joaquim Rodriguez, numa edição em que dominou por completo, conquistando a amarela após a primeira etapa ganha, ao oitavo dia, para não mais a perder. O Alpe d’Huez acabou por marcar um dia não para o britânico, mas a geral estava já mais do que consolidada. Em termos de contrarrelógios, voltamos a ter um coletivo, assim como uma cronoescalada, que surgiu 9 anos depois, e ainda o habitual individual mais plano, totalizando 90km, onde Froome ganhou 4:44 ao colombiano e 4:04 ao espanhol. Rui Costa esteve em destaque ganhando duas etapas na última semana da corrida e Peter Sagan voltou a conquistar a classificação por pontos.

Tour 2014

O Tour de 2014 prometia ser a melhor edição dos últimos anos, com Vincenzo Nibali, Chris Froome e Alberto Contador, todos em grande forma para lutar pela vitória. Assim não aconteceu, co o abandono do britânico ao quinto dia e do espanhol ao décimo, após graves quedas. Nibali subiu à liderança logo ao segundo dia e apenas largou a amarela por um único dia para Tony Gallopin, tendo dizimado a concorrência na etapa de pavê, que surgiu 4 anos depois para depois finalizar todo o trabalho na alta montanha. O italiano venceu com 7:37 sobre Jean-Christophe Peraud e 8:15 sobre Thibaut Pinot, eles que voltaram a colocar a França no pódio, 17 anos depois da última vez. Pela primeira vez no século, tivemos também apenas 1 contrarrelógio, que apenas serviu para Nibali consolidar uma liderança que há muito já era sua. O italiano destacou-se vencendo quatro etapas, incluindo a chegada a La Planche des Belles Filles, a Chamrousse e a Hautacam. Na classificação por pontos, Peter Sagan somou mais uma conquista!

Tour 2015

No ano seguinte, Chris Froome voltou para reivindicar o título que havia perdido no ano anterior, e assim o fez, triunfando com 1:12 sobre Nairo Quintana e 5:25 sobre Alejandro Valverde, perante uma Sky novamente dominadora nas montanhas. A edição 102 do Tour contou com 8 etapas de alta montanha, um recorde no século XXI, e surpreendentemente apenas um contrarrelógio individual de 13km, logo ao primeiro dia, ao qual se somou um contrarrelógio coletivo de 28km. O pavê voltou a estar presente, mas não fez diferenças entre os principais candidatos. Froome venceu apenas em La-Pierre-Saint-Martin, mas perdeu tempo em La Toussuire e no Alpe d’Huez para Quintana, voltando a revelar fragilidades numa última semana em que tinha já a geral consolidada. Peter Sagan venceu pela quarta vez a classificação dos pontos.

Tour 2016

Novo ano e nova vitória para Chris Froome, agora com 4:05 sobre Romain Bardet e 4:21 sobre Nairo Quintana. A edição 103 do Tour teve agora 2 contrarrelógios, um dos quais uma cronoescalada, totalizando 54.5km de exercício individual, aquilo que no início do século era uma distância para um único contrarrelógio individual, dos vários que compunham a corrida. No exercício individual, Froome ganhou 3:31 a Bardet e 3:15 a Quintana, o que lhe permitiu consolidar a geral de forma soberba, depois de ter vencido a primeira etapa de alta montanha em Bagneres-de-Luchon com um grande ataque já em descida para a meta após a subida ao Col de Peyresourde, e subido assim à liderança da geral. Na luta pelos pontos, Peter Sagan conquistou a sua quinta camisola.

Tour 2017

O domínio da Sky prolongou-se em 2017, com Chris Froome a vencer o seu quarto e último Tour de France, naquela que foi a edição em que mais perto esteve de não o fazer, revelando mais fragilidades que no passado. Fabio Aru, ao serviço da Astana, revelou-se a sua maior ameaça, mas o italiano acabou por adoecer e assim perder a amarela. A vitória do britânico deu-se com 54s sobre Rigoberto Uran e 2:20 sobre Romain Bardet, com Aru a ter fecharo no quinto posto, a 3:05. Foi numa etapa de média montanha que o italiano perdeu a liderança, após vários cortes terem acontecido num final acidentado em que acabou por começar a sentir as dificuldades evidenciadas. No contrarrelógio, Froome conquistou 1:16 a Uran e 2:36 a Bardet, apesar de o exercício individual ter sido reduzido a uns históricos 36.5km. Na classificação por pontos, Michael Matthews venceu pela primeira e única vez até ao momento, com Peter Sagan a ficar marcado por uma desclassificação após ter fechado Mark Cavendish contra as barreiras ao sprint logo na quarta etapa.

Tour 2018

Em 2018, a vitória voltou a ficar dentro da Sky, mas desta vez com Geraint Thomas a conquistar a geral, após Chris Froome ter feito o Giro d’Italia no início do ano. Ainda assim, Thomas triunfou com 1:51 sobre Tom Dumoulin e 2:24 sobre Chris Froome, ambos vindos do pódio no Giro d’Italia 2 meses antes. Perante 66.5km de contrarrelógio, 35.5km dos quais em esforço coletivo, as poucas diferenças entre os três no contrarrelógio evidencia que Geraint Thomas construiu a sua liderança na montanha, o que é comprovado com as vitórias nas etapas 11 e 12 em La Rosiere e no Alpe d’Huez, com este último a ser mesmo a maior vitória da carreira do britânico, numa grande demonstração de força após um grande duelo com os seus adversários. Na classificação dos pontos, Peter Sagan apagou a má imagem do ano anterior e venceu pela sexta vez.

Tour 2019

O ano de 2019 voltou a ser inglório para as cores francesas, que sonharam conquistar finalmente a amarela, 34 anos depois de Bernard Hinault o ter feito pela última vez. Julian Alaphilippe andou muitos dias de amarelo e fez os franceses sonharem até ter quebrado na alta montanha, mas Thibaut Pinot tinha aqui uma séria aspiração a vencer o Tour. O francês estava a conseguir ser superior à concorrência na montanha, mas a lesão nas costas apareceu ao dia 19, fazendo-o abandonar em lágrimas num momento de grande tristeza. A vitória sorriu a Egan Bernal, jovem talento colombiano, ele agora ao serviço da Ineos, a antiga Team Sky. Bernal bateria o colega de equipa e vencedor de 2018, Geraint Thomas, por 1:11, e o neerlandês Steven Kruijswijk, da Jumbo – Visma, por 1:31, para conquistar a sua primeira grande volta. Foi na montanha que Bernal fez a diferença, com os 54.8km de contrarrelógio, metade dos quais em exercício coletivo, a fazerem-no perder 1:22 para Thomas e 1:11 para Kruijswijk. Peter Sagan venceu pela última vez, até ao momento, a classificação dos pontos, na sua sétima conquista.

Tour 2020

2020 marcou a chegada de mais um fenómeno do ciclismo à maior corrida do Mundo, com Tadej Pogacar, ao serviço da UAE Team Emirates, a vencer a maior corrida do Mundo na sua estreia, com apenas 22 anos! O esloveno fez história vencendo a geral, a montanha e a juventude, e conquistando ainda três etapas, na chegada a Laruns, ao Grand Colombier e a mais mítica de todas, na cronoescalada de La Planche des Belles Filles, no último dia de corrida, o que lhe permitiu resgatar a amarela do compatriota Primoz Roglic, da Jumbo – Visma, batendo-o por 59s e ao australiano Richie Porte, da Trek – Segafredo, por 3:30. No que ao contrarrelógio diz respeito, esta foi talvez a edição mais dedicada aos trepadores, com um esforço individual de 36.2km, o mais curto do século, a culminar na La Planche des Belles Filles, numa cronoescalada de grande dificuldade. O irlandês Sam Bennett venceu a classificação por pontos, tornando-se no primeiro homem a bater Peter Sagan na luta pela camisola verde!

Tour 2021

O fenómeno de Tadej Pogacar estendeu-se para 2021, com o esloveno a voltar a conquistar geral, pontos e juventude, vencendo três etapas, das quais, novamente, um contrarrelógio, desta vez mais plano, e ainda duas jornadas de alta montanha, com final no Col du Portet e em Luz Ardiden. O esloveno triunfou desta feita com 5:20 sobre o dinamarquês Jonas Vingegaard, da Jumbo – Visma, que assumiu a liderança da equipa após o abandono de Primoz Roglic devido a quedas, e 7:03 sobre o equatoriano Richard Carapaz, da Ineos Grenadiers. A edição 108 do Tour voltou a ter 2 contrarrelógios individuais, num total de 58km, que beneficiaram Pogacar em 2s sobre Vingegaard e 2:56 sobre Carapaz. A etapa 8 marcou a maior “machadada” de Pogacar na luta pela geal, com 2 grandíssimos ataques do esloveno a fazerem-no ganhar 3:20 aos adversários, depois de já ter vencido o primeiro contrarrelógio, e assim se colocar numa liderança mais do que confortável. Só Vingegaard no Mont Ventoux fez o líder suar, mas a descida acalmou os alarmes e tudo se manteve igual na classificação geral. Na luta dos sprinters, um renovado Mark Cavendish venceu pela segunda vez a camisola verde e igualou o recorde de 34 vitórias de etapa de Eddy Merckx, que só não foi ultrapassado porque a Jumbo, mesmo reduzida a 4 unidades, fez um final perfeito nos Campos Elísios e deu a vitória a Wout van Aert.

Tour 2022

A edição 109 do Tour de France chega este ano com uma renovada edição, a apresentar apenas 4 dias seguros para os sprinters, que eventualmente poderão ser 5 ou 6, dependendo de como se jogar a segunda semana de corrida. Os destaques vão para o regresso de uma etapa de pavê, que surge ao quinto dia de corrida, mas também para o longo contrarrelógio da etapa 20, com 40.7km dos 53.9km que irão compor a corrida. Na montanha, há 4 difíceis chegadas que aparecem como os momentos potencialmente mais decisivos da corrida, com as subidas ao Hautacam, a Peyragudes, ao mítico Alpe d’Huez, e ao Col du Granon, que será provavelmente a ascensão mais difícil, com 11.3km a 9% de pendente média, feitos após uma difícil subida ao Col du Telegraphe e ao Col du Galibier! Na luta dos homens rápidos, Wout van Aert tem uma edição à sua medida para conquistar a camisola verde. Os puros sprinters não terão hipótese de brilhar muitas vezes este ano, e as equipas que mais se poderiam bater com ele, a Alpecin – Fenix e a BikeExchange – Jayco, estão divididas entre Mathieu van der Poel e Jasper Philipsen, e Michael Matthews e Dylan Groenewegen, respetivamente, pelo que dificilmente algum deles se poderá destacar na luta pelos pontos.

Comparando o Tour de 2022 com os primeiros Tour’s do século XXI, é clara a quebra no número de kms de contrarrelógio, que foi durante muito tempo superior a 150, e que é agora muito pouco superior a 50. A montanha tem tido maior influência na escolha dos traçados e isso é cada vez mais notório, com o crescente número de etapas de alta e média montanha. Em 2001 tivemos 2 jornadas de média montanha e 5 de alta montanha, com 2022 a ter 6 de média e 8 de alta. O percurso afasta assim os sprinters do Tour de France, que cada vez têm tido menos oportunidades para brilhar. Ainda assim, eles aí estão, mas com blocos mais curtos e com menos força, o que é indicativo desta recente tendência.

Se esta alteração no percurso apresenta uma evolução ou uma regressão, talvez só o tempo nos diga… O que é facto é que temos mais espetáculo ao longo dos diversos dias, mas por outro lado as constituições e a abordagem tática das equipas tem limitado aquilo que são as grandes diferenças na alta montanha, existindo muita marcação e gestão de forças. O contrarrelógio tem feito diferença na classificação geral, mas a sua redução acabou por fazer das corridas um pouco mais abertas relativamente ao vencedor final. O que mudarias tu no programa do Tour de France para lhe trazer mais espetáculo e emoção?

Quadro Resumo do Tipo de Etapas por Ano

AnoPlanasMédia MontanhaAlta MontanhaContrarrelógio IndividualContrarrelógio ColetivoCronoescaladaParalelos
200110252110
20029262110
20039263100
200410342110
20057652100
20068553000
20079363000
20088652000
20099272100
20108462001
20117661100
20128373000
20137471110
20147571001
20155581101
20168381010
20178472000
20188371101
20197661100
20208390010
20218472000
20224682001

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