15 de 32 vagas para os Europeus desperdiçadas! O que dizer aos atletas, FPC?
O filme de 2024 é uma sequela dos anteriores. Estamos a apenas 9 dias do início dos Europeus de estrada, e a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) ainda não divulgou os seus convocados para as várias corridas. Porém, a lista de inscritos de cada país é já pública na página da União Europeia de Ciclismo (UEC). Como tal, pudemos confirmar aquilo que já era o cenário mais esperado. Quase metade das vagas de Portugal ficam por preencher, e o cenário não é novo, é uma continuidade do que tem acontecido há anos sem fio.
Os 17 convocados para os Europeus
São apenas 17 os atletas inscritos por Portugal para os Europeus de estrada. Um número muito pequeno para as 32 vagas que tínhamos disponíveis à partida. Todos os escalões deixam vagas por preencher, e certamente temos atletas com qualidade e resultados que poderiam ter sido selecionados. Todavia, não foram! Porquê? Também não sabemos responder. Esforçámo-nos para pensar numa justificação plausível. Não a encontramos. Procuramos perceber se os atletas que poderiam ter sido selecionados receberam alguma. Não receberam.
Olhemos então à tabela dos convocados:
Prova de Fundo | Contrarrelógio | |||
Escalão | Convocados | Vagas por Preencher | Convocados | Vagas por Preencher |
Elites Masculinos | Iúri Leitão, Ivo Oliveira e Rui Oliveira | 3 | Ivo Oliveira | 1 |
Elites Femininas | – | 2 | – | 2 |
Sub-23 Masculinos | Alexandre Montez, Gonçalo Tavares, João Martins, João Paulo Silva e Noah Campos | 1 | – | 2 |
Sub-23 Femininas | Daniela Campos e Mariana Líbano | 4 | Daniela Campos | 1 |
Juniores Masculinos | Daniel Moreira, Dinis Martins, Gonçalo Rodrigues, Guilherme Mestre e José Moreira | 1 | Gonçalo Rodrigues e José Moreira | 1 |
Juniores Femininas | Daniela Simão e Raquel Dias | 4 | Raquel Dias | 2 |
As vagas por preencher e as atletas com mérito e qualidade para marcar presença
São 15 as vagas que ficam por preencher nas provas de fundo, e 9 nos contrarrelógios. Dessas 9 é importante referir que 6 poderiam ser preenchidas por atletas já presentes. O caso mais flagrante é o das Elites Femininas. Com duas vagas para seleção, Portugal não leva ninguém! Que afronta para atletas que brilharam durante todo o ano em Portugal, ou que estão a competir em equipas profissionais, não FPC?
Para as vagas da Elites Femininas apontamos rapidamente dois nomes com todo o crédito. Ana Caramelo (Matos Mobility – Flexaco) e Vera Vilaça (DAS – Hutchinson – Brother UK) seriam as escolhas óbvias, representando em pleno esplendor toda a evolução do ciclismo feminino em Portugal nos últimos quatro anos.
Nas Sub-23, seguimos uma linha muito semelhante. Beatriz Pereira e Beatriz Roxo (Cantabria – Rio Miera) seriam as óbvias adições ao grupo de selecionadas, pela qualidade que já vêm demonstrando ano após ano. Com Marta Carvalho (Cantabria – Rio Miera) a regressar recentemente aos treinos, e talvez por isso a estar muito condicionada, mais dois nomes teriam de estar em cima da mesa. Pelos resultados, Nádia Henriques e Maria Santos (Vertentability Cycling Team) cumpririam perfeitam os requisitos para estarem presentes.
Também nas juniores o cenário se repete. Medalhada nos Campeonatos Nacionais de fundo e de contrarrelógio, top10 da Volta a Portugal apesar de uma feia queda, Rita Tanganho (CDASJ / Cyclin´Team / Município de Albufeira) é a grande ausência da lista de convocadas. A ela juntam-se Maria Marques (Tavira / Extremosul / SC Farense), também ela no top10 da Volta, Bruna Gonçalves (Cantanhede Cycling / Vesam) ou Lara Ribeiro (Maiatos), ciclistas com todo o mérito e capacidade para representarem da melhor forma o nosso país.
Quão importante poderia ser a presença para quase todas elas tentarem assegurar um contrato profissional para 2025, não acha sr. José Luís Algarra?
Maior quantidade no masculino também não chegou para completar as vagas
Do lado masculino, a presença de apenas 3 ciclistas nos Elites é por si só cómica. Temos um ciclismo mais evoluído, vários atletas a competir além-fronteiras, e qualidade para discutir as primeiras posições. Nelson Oliveira (Movistar) terminará a La Vuelta no próximo domingo e seria uma óbvia seleção, assim como Afonso Eulálio (ABTF Betão – Feirense), ciclista que dará em 2025 o salto para o World Tour. Além destes, João Matias (Tavfer – Ovos Matinados – Mortágua), Afonso Silva (AP Hotels & Resorts – Tavira – SC Farense), Tiago Antunes e Joaquim Silva (Efapel Cycling) ou Luís Gomes (Gi Group – Simoldes – UDO) seriam escolhas mais do que justificadas.
Nos Sub-23, apenas uma vaga ficou por preencher, mas a possível seleção é também mais do que clara. Daniel Lima (Israel – Premier Tech) seria uma escolha óbvia, assim como Lucas Lopes (Supermercados Froiz). Nos juniores, o cenário foi igual, com Bernardo Teixeira (Landeiro | KTM | Matias&Araújo), João António (ABTF Betão – Bairrada) ou Adrian Pacho (CC Barcelos / AFF / Flynx / HM Motor / Segmento d’Época) a terem qualidade para marcar presença.
Outros atletas poderiam integrar estas convocatórias, com merecidas oportunidades de desenvolvimento. Cabe também ao sr. José Poeira explicar a sua não seleção, e a falta de oportunidades de evolução para vários deles.
As questões para vós, Federação Portuguesa de Ciclismo
O que leva à exclusão de um atleta que andou bem ao longo da temporada? Porque é que não se convocam atletas com vagas disponíveis? Em que é que isto contribui para a evolução do ciclismo em Portugal? São questões que temos feitos ao longo dos últimos anos, e que continuaremos a fazer enquanto não houver respostas públicas. O problema maior é que nem os atletas sabem o porquê. Trabalham durante meses, têm as oportunidades à porta, e vêem a mesma fechar-se, escancaradamente, por uma Federação que teima em não reconhecer o seu trabalho, mas que faz questão de marcar presença nos êxitos daqueles que sozinhos se fizeram ao Mundo.
Em Portugal, continuamos a dar passos para trás. Continuamos a esconder aquilo que custa falar. Varremos os problemas para debaixo do tapete, na esperança de que os de fora não notem. Porém, já há demasiado lixo debaixo do tapete. Precisamos de respostas, sr. Delmino Pereira. Precisamos de respostas, Federação Portuguesa de Ciclismo! Precisamos de oportunidades para os nossos atletas, e elas não estão a ser dadas a uma boa parte deles.
É incomportável que o ciclismo em Portugal assim continue. Quando teremos respostas? Até quando as coisas continuarão assim? Resta-nos uma mínima esperança, de que um dia tudo seja melhor. E mesmo essa réstia de esperança, já desvanecene no horizonte.
Foto de Capa: UVP/FPC
Excelente artigo mostrando grande conhecimento sobre os nossos ciclistas. Realmente a FPC tem que justificar a não convocatória de tantos ciclistas. Pode ser que com uma nova direção na Federação, as coisas se alterem. Já se prevê para os mundiais mais do mesmo, apesar de serem disputados na Europa.