Que espetáculo de Giro!

O britânico Tao Geoghegan Hart (INEOS) venceu a 20ª etapa do Giro d’Itália, ficando o australiano Jai Hindley (Sunweb) na 2ª posição, o australiano Rohan Dennis (INEOS) no 3º posto, e o português João Almeida (Deceuninck-Quick Step) no 4º lugar! Na geral, Hart e Hindley irão partir para o contrarrelógio de 15.7 km do último dia empatados no 1º posto, num final impróprio para cardíacos de uma competição tão especial como tem sido esta 103ª Volta a Itália. João Almeida é o 5º da geral, a 3:14 da camisola rosa, mas a apenas 23 segundos do 4º posto que é ocupado pelo espanhol Pello Bilbao (Bahrain-McLaren), uma diferença que é recuperável no contrarrelógio de Milão!

A etapa 20 do Giro tinha sido alterada já durante a prova, mediante a proibição das autoridades francesas da caravana do Giro entrar em território gaulês, com a organização da Volta a Itália obrigada a eliminar a subida do Izoard. Os ciclistas iriam então partir de Alba, percorrendo 190 km e completando por 3 vezes a subida a Sestriere, a última das quais uma ascensão de 1ª categoria, com 6.9 km a 7.2%! Esta poderia muito bem ser a jornada que iria decidir a competição, embora o contrarrelógio de 15 km do último dia pudesse ainda permitir recuperar distâncias não muito elevadas.

A fuga da jornada demorou alguns km a formar-se, até que ao fim de 30 km de prova se definiu a movimentação marcante da tirada. Os fugitivos eram: Geoffrey Bouchard, Andrea Vendrame (AG2R La Mondiale) Jan Tratnik (Bahrain McLaren), Filippo Fiorelli (Bardiani), Kamil Malecki (CCC), Elia Viviani (Cofidis), Davide Ballerini, Mikkel Frølich Honore, Pieter Serry (QuickStep), Tanel Kangert (EF Pro Cycling), Arnaud Demare, Simon Guglielmi (Groupama FDJ), Davide Cimolai (Israel Start-Up Nation), Matthew Holmes (Lotto-Soudal) Einer Augusto Rubio Reyes, Davide Villella (Movistar), Amanuel Gebreigzabhier, Matteo Sobrero (NTT), Julien Bernard, Nicola Conci (Trek Segafredo) and Brandon McNulty (UAE Team Emirates).

Destaque para a presença de 3 Deceuninck na frente, naquilo que podia ser um indicador para as intenções da equipa nesta etapa, em especial por parte de João Almeida, que podia aproveitar os seus colegas presentes na fuga na parte final da etapa. Nota ainda para a presença de Arnaud Démare, que não deixou em mãos alheias o seu destino (como no ano passado!), integrando a fuga em busca dos pontos do sprint intermédio, que surgia antes das 3 subidas do dia e que Démare viria a ganhar, aumentando a sua vantagem sobre Peter Sagan e praticamente selando a vitória na malha ciclamino.

A 150 km do final, a vantagem dos fugitivos era de 7 minutos, com o pelotão a ser controlado pela Astana, com claras intenções de poder levar Fuglsang a um bom desempenho nesta etapa. A 80 km do final, a vantagem da fuga era ainda de 6 minutos, mas com as 3 subidas no horizonte não ia ser fácil para alguém do grupo poder chegar à meta antes dos homens do pelotão.

A 57 km da meta, com o pelotão reduzido a cerca de 45 corredores, a INEOS tomava conta das operações, mostrando ao que vinha, tentando preparar um ataque de Geoghegan Hart à camisola rosa. Após a primeira subida, atacou um dos Deceuninck, Davide Ballerini, tentando jogar com os números da equipa na fuga.

A 43 km do final, cerca de 13 corredores sobreviventes da fuga do dia perseguiam Ballerini, com o pelotão a 4 minutos.

A 30 km do fim, Ballerini tinha uma vantagem de 3:11 sobre o pelotão, com 5 corredores da fuga a persegui-lo com 48 segundos de atraso. No pelotão, continuava a INEOS controlar, com Rohan Dennis, que tanto impacto teve na etapa de quinta-feira, a tomar as rédeas do grupo principal. O trabalho de Dennis causou uma autêntica sangria no pelotão, com nomes como Vincenzo Nibali e o português João Almeida entre os corredores que iam sentindo dificuldades. Ficavam apenas 5 no grupo principal de favoritos, e o próprio Geoghegan Hart sentia dificuldades para seguir o ritmo de Dennis! Depois, o camisola rosa, Wilco Kelderman, ficava também ele para trás, com o cenário a ficar negro para o holandês na defesa da liderança! João Almeida seguia junto de Kelderman e Bilbao, contribuindo e muito para o trabalho do grupo.

Logo de seguida, Almeida atacou mesmo em busca da frente da corrida! No entanto, o grupo reagiu e alcançou o português, com Nibali a juntar-se entretanto. Na frente seguiam ainda homens da Deceuninck que podiam a qualquer altura baixar para apoiar o português.

O figurino desta etapa começava a assemelhar-se em tudo à etapa do Stelvio, com Dennis a rebocar Hart e Hindley subida acima, com todos os outros a ficarem para trás, incluindo Kelderman. Claro está, Hindley voltou a não esperar pelo seu líder, e não poderia nesta fase fazê-lo, uma vez que Hart ia seguir para a vitória no Giro. Com esta situação de corrida, Hindley já era o líder virtual do Giro!

Os homens da fuga iam sendo alcançados pelo trio de Dennis, Hart, e Hindley. Alguns tentavam aproveitar a boleia mas não era fácil de seguir o comboio INEOS. No topo da subida passou ainda o sobrevivente da fuga, Rubio, com 1:29 sobre o trio e com 2:06 sobre o grupo de Kelderman e Almeida.

A 13 km do final, com os ciclistas a pedalarem em direção à subida final, Rubio seguia na frente com 1 minuto sobre o grupo de Dennis, com o grupo de Kelderman com mais 35 segundos. Pouco depois, Rubio ganhou companhia na frente, com a dupla da Deceuninck, Serry e Ballerini, a conseguir alcançar a frente da corrida!

A 10 km do fim, Kelderman ia perdendo 1 minuto para o grupo de Dennis/Hart/Hindley/Serry, o que significava que este Giro ia mesmo ser discutido entre Hart e Hindley na subida final e no contrarrelógio do último dia. Entretanto, a fuga da jornada era definitivamente anulada. Na frente, Hindley recolhia bonificações presentes a meio da subida, que viriam a ser decisivas para a atribuição da rosa no final do dia!

A 5 km da meta, seguiam Dennis/Hart/Hindley/Serry na frente, com um contendo Kelderman, Almeida, Nibali, Bilbao, James Knox e Attila Valter a menos de 1:30. Knox ia trabalhando arduamente de forma a reduzir a distância para a frente, com Nibali ficando para trás, e a diferença baixava para perto de 1 minutos.

E a 4 km do fim, numa zona com inclinação acentuda, atacou João Almeida, demonstrando mais uma vez o seu enorme talento, evidenciando-se na última etapa de montanha de uma grande volta, depois do brilharete que fez ao longo das 3 semanas! Ninguém foi capaz de seguir o português! Enorme, Canibal!

Na frente, com 3.3 km para o final, atacava Hindley, com a dupla da INEOS a segui-lo! Serry dava entretanto uma ajuda preciosa a João Almeida, rentabilizando a forte aposta da Deceuninck na fuga do dia! O português estava a apenas 42 segundos da frente, com Kelderman 20 segundos mais atrás!

Hindley ia atacando sucessivamente, mas Hart seguia todas as movimentações do australiano. Espetáculo na discussão da Volta a Itália! A situação estava complicada para a Sunweb. Hart tinha tudo para vencer a etapa e também a própria Volta a Itália, uma vez que ia levar as bonificações da etapa e no contrarrelógio final tinha tudo para bater Hindley. Almeida já não tinha Serry, pedalando de forma convicta em direção ao final! Ia ganhando 25 segundos a Pello Bilbao na luta pelo 4º lugar!

À entrada do km final, Hindley levava Hart na sua roda, com Dennis um pouco atrás, João Almeida a 54 segundos e Kelderman a 1:22.

No sprint final, Hart lançou o seu ataque, impondo-se a Hindley sobre a linha de meta! Mais uma vitória em etapa para a INEOS! É a 6ª vitória da equipa britânica, que terá ainda fortes hipóteses de triunfar também no último dia, principalmente através de Filippo Ganna.

Depois chegava Dennis, a 25 segundos, e depois João Almeida, 4º na jornada, a 1:01 da frente! Fabulosa etapa do português, mais uma vez! Bilbao chegou juntamente com Kelderman a 1:35, perdendo 34 segundos para Almeida, que agora está apenas a 23 segundos da 4ª posição do espanhol!

Na geral, estão agora dois homens empatados no topo da geral! Jai Hindley é o camisola rosa, Tao Geoghegan Hart é 2º com o mesmo tempo, Kelderman é 3º a 1:32, Bilbao 4º a 2:51, e João Almeida 5º a 3:14. Graças às bonificações alcançadas a meio da subida final e na meta, Hindley conseguiu mesmo chegar à rosa, embora sem qualquer tipo de margem!

Amanhã disputa-se a última etapa do Giro d’Itália, com um contrarrelógio plano de 15.7 km entre Cernusco sul Naviglio e Milão. Geoghegan Hart tem tudo para triunfar nesta competição, o que irá deixar a equipa da Sunweb em brasa, depois da opção de deixar Kelderman sozinho na etapa do Stelvio e mesmo na etapa de hoje. Será que se Hindley tivesse ficado com Kelderman, este ganhava o Giro? Possivelmente não, mas desta forma Hindley também não irá ganhar. Se Hindley tivesse ficado com Kelderman nestes dois dias de montanha, o líder seria Hart, mas com toda a certeza que Kelderman estaria a menos de 1:32 de Hart, e teria sempre mais hipóteses de bater Hart no contrarrelógio final do que tem Hindley.

Quanto a João Almeida, terá de recuperar 23 segundos em 15.7 km a Pello Bilbao, de forma a terminar este histórico Giro no 4º posto, o que não é de todo impossível!

Ruben Guerreio fez também ele uma grande etapa, seguindo sempre entre os favoritos e terminando a jornada no 13º lugar, a 2:09 de Hart. O Iceman de Pegões honra assim de forma inequívoca a camisola dos trepadores no último dia de montanha do Giro, mesmo que não estivesse obrigado a estar na frente. Na geral, o português, que já garantiu a vitória na classificação da montanha, é 33º a 1:57:49.

Diogo Costa vence etapa no Passatempo, com o líder da geral, Henrique Silva logo atrás na segunda posição!

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