Schmid vence etapa! Bernal volta a causar estragos no sterrato!

O suíço Mauro Schmid, da Team Qhubeka Assos, venceu a 11ª etapa do Giro d’Italia, ao ser o mais forte da fuga da jornada, uma movimentação que chegou a ter mais de 13 minutos sobre o pelotão e que teve margem suficiente para discutir a tirada. No final, Schmid bateu, no sprint a dois, Alessandro Covi, da UAE-Team Emirates.

Entre os homens da geral, o melhor foi mesmo o camisola rosa, Egan Bernal, da Ineos Grenadiers, que voltou a ganhar tempo para toda a concorrência. O grande derrotado da jornada foi Remco Evenepoel, que sentiu dificuldades no sterrato, acabando por ceder mais de 2 minutos para Bernal.

Refira-se a grande exibição dos ciclistas portugueses nesta jornada: João Almeida fez um trabalho extraordinário no apoio a Evenepoel, enquanto Nelson Oliveira e Ruben Guerreiro fizeram excelentes prestações em prol dos seus líderes, em especial o Iceman de Pegões, que conseguiu ainda terminar a etapa junto dos melhores da geral!

A 11ª etapa da Volta a Itália apresentava uma jornada que podia ser considerada uma mini Strade Bianche, com diversos setores em terra batida, o famoso sterrato, além de algumas subidas pelas colinas típicas da região. No menu, constavam 162 km, com partida em Perugia e chegada na Via Roma, em Montalcino. O destaque do percurso ia para os quatro longos setores de sterrato e para as subidas, em principal as duas contagens de 3ª categoria, a última das quais a apenas 5 km da meta.

Logo a partir do km 0, os ataques começaram em força, com muitos corredores interessados em integrar a fuga da jornada, que todos sabiam ter fortes possibilidades de prevalecer na frente até ao risco de meta.

A fuga do dia formou-se rapidamente, sendo integrada por Alessandro Covi (UAE Team Emirates), Simon Guglielmi (Groupama-FDJ), Lawrence Naesen (AG2R Citroën), Dries De Bondt (Alpecin-Fenix), Harm Vanhoucke, Roger Kluge (Lotto Soudal), Taco van der Hoorn (Intermarché-Wanty-Gobert), Bert-Jan Lindeman (Qhubeka Assos), Mauro Schmid (Qhubeka Assos), Enrico Battaglin (Bardiani-CSF-Faizanè), e Francesco Gavazzi (Eolo-Kometa).

Com a Ineos a controlar as operações no pelotão e a tentar manter um ritmo calmo, antes da fase mais agitada da jornada, a fuga conseguiu alcançar uma larga vantagem, que atingiu mesmo os 10 minutos (!), com 121 km para a meta. Começava a ficar claro que o pelotão não estava importado que os homens da frente discutissem a etapa, poupando as forças do grupo principal para a luta entre os favoritos. A 100 km do final, a margem era já de 13 minutos!

Nos km seguintes, com o primeiro setor de sterrato a aproximar-se a passos largos, a diferença diminuiu ligeiramente, mas tal deveu-se mais à chegada da frente do grupo principal de equipas como a Team DSM, do que uma verdadeira perseguição aos fugitivos. E, de facto, a margem voltaria rapidamente a subir, situando-se acima dos 14 minutos, com 70 km para o final, e com os homens da fuga a entrarem no primeiro setor não asfaltado do percurso.

Quando chegou o pelotão, entrou na frente a Ineos, com formações como a Deceuninck a EF, a Trek, e a Movistar também muito bem colocadas. O grupo alongava nas estradas de terra batida, e começava a cortar, numa fase que passava pela frente do grupo o “Tubarão”, Vincenzo Nibali, um capitão perfeito para Giulio Ciccone na Trek. Começavam a surgir os furos e as quedas, com os cortes no grupo principal a aumentarem, também em função da nuvem de pó que engolia o pelotão e tornava difícil de fechar espaços.

Vinha para a frente Peter Sagan, com o camisola ciclamino do Giro a contribuir para o aumentar de ritmo na frente do grupo, em conjunto com a Ineos, formando-se um grupo que começava a cavar vantagem sobre o resto do pelotão! Atrasado seguia Remco Evenepoel, com o jovem belga a ser apanhado num dos cortes! No final deste primeiro setor, com 53 km para o final e a fuga a seguir agora com 10:30 de vantagem, um corte de 30 segundos ia marcando a diferença entre os dois mini-pelotões.

Evenepoel acabaria por alcançar os melhores do pelotão, mas muitos não o conseguiram, com o grupo de favoritos bastante reduzido, com cerca de 30/40 unidades, e ainda com muitas dificuldades pela frente. Os três portugueses, João Almeida, Ruben Guerreiro, e Nelson Oliveira rodavam neste grupo de elite, cada um deles a realizar mais uma grande exibição por estradas italianas.

A 44 km da meta, vinha para a frente do grupo principal Ruben Guerreiro, no apoio ao seu líder, Hugh Carthy. A frente da corrida seguia ainda com cerca de 9 minutos de avanço e rodava já no segundo setor de sterrato, o mais complicado de todos, bastante longo e com várias partes em subida, com os ataques a começarem entre os corajosos do dia.

Quando o pelotão atingiu o segundo setor de terra batida, veio para a frente a Astana, através do campeão espanhol Luis Leon Sanchez, com Evenepoel novamente perto da retaguarda do grupo. Depois, surgiu o ataque da Jumbo-Visma, lançando George Bennett e Tobias Foss, embalados numa nuvem de pó, ganhando rapidamente cerca de 40 segundos ao restante pelotão. Assumia a perseguição a equipa da Ineos.

A 25 km da meta, os fugitivos levavam 7:15 de avanço sobre o pelotão, à entrada do terceiro setor de sterrato. A dupla da Jumbo-Visma era entretanto alcançada pelo pelotão, onde rodavam ainda cerca de 30 corredores. Quando o pelotão chegou ao terceiro setor não asfaltado, Evenepoel voltou a descair no grupo, e a Ineos, cheirando o sangue na água, aumentou o ritmo, tentando tirar partido do receio que parecia estar a toldar o homem da Deceuninck Quick-Step. E pouco depois, Evenepoel ficou mesmo sozinho, observando o grupo de favoritos a desaparecer entre uma nuvem de poeira, numa clara machadada às suas aspirações à geral!

E logo de seguida veio o ataque de Bernal, arrancando destemido, com o restante grupo a responder. Depois, voltava Gianni Moscon à dianteira do grupo, imprimindo um ritmo constante mas que mantinha a concorrência em sentido. João Almeida seguia ainda no grupo, mas deixava-se depois ficar para trás, esperando pelo seu líder, que ia já perdendo mais de 30 segundos para a frente do pelotão! No entanto, quando Evenepoel chegou junto de Almeida, surpreendentemente o português acabou por seguir sozinho de volta à frente da corrida! Havia alguma confusão dentro da equipa belga, não sendo claro se queriam que Almeida esperasse ou não!

Evenepoel não estava claramente em condições de se manter em contacto com os melhores da jornada, pelo que a equipa quereria manter pelo menos um corredor na frente. Era possível ver a frustração de Evenepoel, arrancando com fúria o auricular, em claro conflito com as indicações da equipa! No meio desta confusão, Almeida acabaria por aguardar novamente por Evenepoel, mas com 12 km para o final, era já mais de 1 minuto que os dois Deceuninck iam perdendo para o pelotão!

A fuga, essa, seguia com 5:52 de vantagem sobre o pelotão, rolando no quarto e último de setor de sterrato, que antecedia a subida final!

Na frente do pelotão, passava por esta altura Nelson Oliveira, numa demonstração de enorme classe do ciclista da Anadia. Depois atacava Vlasov, com Bernal a fechar o espaço e os restantes favoritos a seguirem na sua roda. O grupo de elite estava cada vez mais curto, com a EF em boa representação, com Hugh Carthy, Alberto Bettiol, e claro Ruben Guerreiro, com o Iceman de Pegões a passar também pela frente do grupo!

Sobravam 14 corredores no grupo de favoritos, com alguns corredores, como Nelson Oliveira, a tentarem reentrar no grupo, e com Evenepoel e Almeida a rodarem com 1:12 de atraso para os melhores da geral. A fuga seguia com 5 minutos de avanço sobre o pelotão, com 7 km para o final.

Na início da subida final, o ritmo foi imposto por Ruben Guerreiro, numa mostra de classe de nível mundial! Depois, atacava Buchmann, mas o ritmo do português era forte e constante e não era fácil de ninguém sair no grupo. Na parte de trás, Nibali e Soler cediam terreno, seguindo-se depois Ciccone entre os homens que iam descolando. Os três EF, em especial Guerreiro, tinham rebentado o grupo de favoritos, numa subida que estava a fazer mossa depois de um dia duro em cima da bicicleta. Sobravam agora oito homens na perseguição a Buchmann.

A 4 km da meta, no cimo da subida, passou Schmid em primeiro, com Covi atrás de si. Os dois sobreviventes da fuga preparavam-se para discutir a dois este grande dia de ciclismo! Buchmann seguia a 4:10 da frente, com o pelotão a 4:26, e Almeida e Evenepoel já a 6:15, com a dupla a tentar de todas as formas minimizar os estragos desta jornada.

No pelotão terminava o trabalho Ruben Guerreiro, e começavam os ataques, com Vlasov a mexer, sendo seguido por Bernal, Foss, Carthy, Yates, e Caruso. O Iceman de Pegões tentava ainda assim seguir perto da frente!

Depois atacava Bernal, e aí Vlasov nada pôde fazer! Mais um ataque à campeão do super colombiano, que se preparava para ganhar ainda mais tempo à concorrência! O homem da Ineos apanhava Buchmann e os dois seguiam rumo à meta, onde estavam entretanto a chegar Covi e Schmid.

Nos metros finais, numa subida que atingia os 12%, Schmid lançou o sprint primeiro, ciente que Covi tinha, na teoria, mais velocidade. O italiano colou na roda do homem da Qhubeka e tentou passá-lo mas já não tinha pernas, e o suíço conseguia mesmo triunfar na soberba Via Roma, em Montalcino!

Depois chegaram mais alguns ciclistas da fuga do dia, seguindo-se pouco depois os homens da geral. Chegaram primeiro Bernal e Buchmann, com o colombiano ainda a distanciar o alemão nos metros finais, fechando com 3:09 de atraso para Schmid, seguindo-se depois Vlasov, que perdia 22 segundos para Bernal, e depois Caruso, Yates, Foss, Guerreiro, e Carthy! Almeida e Evenepoel perderiam mais de 2 minutos para Bernal!

Ruben Guerreiro fecha a etapa no 17º posto, a 3:39 de Schmid, sendo o 7º melhor do pelotão, numa grande performance do lusitano! João Almeida fechou no 28º posto, a 5:17 do vencedor, enquanto Nelson Oliveira foi o 33º, a 6:33.

Na geral, Egan Bernal cimenta a sua liderança, agora com 45 segundos de avanço sobre Aleksandr Vlasov, da Astana, e 1:12 sobre Damiano Caruso, da Bahrain-Victorious.

Quanto aos portugueses, o mais bem classificado na CG é João Almeida, no 17º lugar, a 7:04 de Bernal, enquanto Ruben Guerreiro ocupa o lugar seguinte da tabela, a 7:49 da rosa. Nelson Oliveira é 22º, a 23:03.

Amanhã disputa-se a 12ª etapa da competição italiana, com 212 km, bem acidentados, entre Siena e Bagno di Romagna.

A celebração de Mauro Schmid na Via Roma, em Montalcino (Getty Images)

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