Hoje em Itália é Dia de Portugal!
O português Ruben Guerreiro, da EF Pro Cycling, venceu a nona etapa da 103ª edição do Giro d’Itália, após ser o mais forte da fuga do dia, que conseguiu superiorizar-se ao pelotão na chegada a Roccaraso. Na segunda posição ficou o espanhol Jonathan Castroviejo (INEOS Grenadiers) e no terceiro posto terminou o dinamarquês Mikkel Bjerg (UAE-Team Emirates).
Além do extraordinário feito de Ruben Guerreiro, o destaque da etapa vai também para João Almeida (Deceuninck-Quick Step) que, apesar de ter cedido alguns segundos para os restantes favoritos, consegue manter a camisola rosa no seu corpo, agora com 30 segundos de avanço sobre o segundo, o holandês Wilco Kelderman (Team Sunweb).
A nona etapa da Volta a Itália representava a última jornada antes do primeiro dia de descanso. Perante os ciclistas perfilavam-se 208 km, entre San Salvo e Roccaraso, com quatro contagens de montanha ao longo do percurso. A mais dura seria logo a primeira, o Passo Lanciano (1ª categoria com 12.4 km a 7%), seguindo-se o Passo San Leonardo (2ª categoria com 14.4 km a 4.3%), o Bosco di Sant’Antonio (9.4 km a 5.1%), e finalmente a subida a Roccaraso (Aremogna), com 9.6 km a 4.4%, com a contagem colocada a cinco km do final, embora os km finais fossem sempre em subida até à meta.
O início de corrida foi frenético, com muitos corredores a tentarem integrar a fuga do dia, cientes que este era mais um dia com boas probabilidades de uma movimentação de longe resultar. Um dos primeiros a conseguir isolar-se foi um homem que já venceu duas etapas neste Giro, uma delas a partir de uma fuga, o italiano da INEOS, Filippo Ganna. Outros corredores tentariam também sair mas sem resultados práticos ao fim de 50 km de corrida.
Pouco depois, quem atacou foi mesmo Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo), na companhia de corredores como Jack Haig (Mitchelton-Scott), mas o pelotão rapidamente acabou com as ideias do Tubarão e suas rémoras.
Depois foi a vez de Ruben Guerreiro (EF Pro Cycling) atacar, fazendo-o na companhia de Eduardo Sepulveda (Movistar), Ben O’Connor (NTT Pro Cycling), e Jonathan Castroviejo (Ineos Grenadiers), aos quais se juntaram pouco depois Larry Warbasse (AG2R La Mondiale), Giovanni Visconti (Vini Zabù-Brado-KTM), e Kilian Frankiny (Groupama-FDJ). O português foi mesmo o primeiro a passar no primeiro sprint intermédio, com Arnaud Démare a bater Peter Sagan na cabeça do pelotão.
Com a vantagem dos fugitivos a rondar os sete minutos com 100 km para o final, começava a parecer ser possível que este fosse mais um dia para a fuga ganhar um avanço alargado.
Na subida ao Passo Lanciano, Ruben Guerreiro foi segundo atrás de Giovanni Visconti, com o italiano a ascender naquele momento à liderança virtual da classificação da montanha. O português havia, no entanto, de ter uma palavra a dizer nessa competição em particular.
A fuga ganhou depois mais um elemento, com Mikkel Bjerg (UAE-Team Emirates) a conseguir fazer a ponte e alcançar a frente de corrida.
Com a Deceuninck-Quick Step e a Trek-Segafredo a controlarem o ritmo do pelotão, a vantagem da fuga rondava os seis minutos, com 65 km para o final, e continuava no limbo a decisão desta jornada. Na fuga seguia Castroviejo, que tinha uma desvantagem de 6:49 para João Almeida, pelo que a Deceuninck-Quick Step iria sempre garantir que a liderança não estava ameaçada.
Com 40 km para o final e quatro minutos de diferença, era ainda difícil de prever o desfecho da etapa, no entanto, com a diferença a manter-se passados 10 km, começava finalmente a vislumbrar-se, num dia tão cinzento e chuvoso, o lugar ao sol para os homens escapados.
Na subida ao Bosco di Sant’Antonio, a Trek acelerou, reduzindo a vantagem dos escapados para 3:30, com 22 km para o final. Essa margem manteve-se e até cresceu nos km seguintes, o que garantia o sucesso da fuga.
Na subida final, atacou Castroviejo, com Guerreiro a seguir o espanhol. A dupla conseguiu uma margem de 30 segundos sobre os restantes elementos da fuga e, assim, a vitória ia ser discutida entre os dois.
Lá atrás, a Deceuninck-Quick Step colocava um ritmo bastante forte, na proteção ao líder, João Almeida. A chuva e o frio iam sendo cada vez mais intensos, assim como a tensão, principalmente na discussão da etapa!
Castroviejo voltou a atacar à entrada do km final, mas não havia forma de se livrar do ciclista de Pegões! Frio como o clima da etapa, Guerreiro manteve-se na roda do espanhol, até lançar o seu sprint a 200 m da meta, conseguindo ainda distanciar o seu rival por alguns metros, antes de celebrar ao cruzar a meta, apontando para si e esmurrando o ar com grande entusiasmo! Numa enorme demonstração de classe, talento, e sabedoria, o ciclista luso garantiu a maior vitória da sua carreira!
O terceiro classificado foi Mikkel Bjerg, que chegou já com 58 segundos de atraso para Guerreiro, com Frankiny e Warbasse a fecharem a 1:16.
No pelotão, os ataques ficaram mesmo para os metros finais, com Lucas Hamilton (Mitchelton-Scott) e Tao Geoghegan Hart (INEOS Grenadiers) a conseguirem distanciar-se, antes de Wilco Kelderman lançar o seu ataque. O holandês acaba por fechar na oitava posição, com Jakob Fuglsang e Jai Hindley logo atrás, os três a 1:38 do vencedor. Os homens da geral iam chegando a conta-gotas: Rafal Majka fechou a 1:41, Pozzovivo a 1:44, e Nibali a 1:52. João Almeida chegou logo depois, fechando a 1:56 de Guerreiro, cedendo quatro segundos para Pello Bilbao (Bahrain-McLaren), o anterior segundo classificado, e 18 segundos para Wilco Kelderman, agora o seu rival mais próximo na geral.
Na classificação geral, João Almeida mantém então a liderança, com 30 segundos de vantagem sobre Wilco Kelderman e 39 sobre Pello Bilbao. Refira-se que na classificação da juventude, a vantagem do ciclista da Deceuninck-Quick Step é ainda maior: 1:02 sobre o belga Harm Vanhoucke (Lotto Soudal) e 1:15 sobre o australiano Jai Hindley (Mitchelton-Scott).
Ruben Guerreiro é agora 31º, a 16:26 de Almeida, mas com os pontos amealhados nesta etapa, o ciclista da EF Pro Cycling é agora o novo líder da classificação da montanha e irá envergar a camisola azul na próxima terça-feira para a décima etapa.
A edição deste ano da Volta a Itália a cada dia ganha uma nova dimensão histórica para Portugal. Com nove etapas disputadas, um português lidera a prova há seis dias consecutivos e outro já venceu uma etapa e lidera a classificação da montanha. São três das quatro camisolas em disputa! O que estará para vir nas duas últimas semanas? Que feitos têm guardados para nós os dois super-lusitanos que tanta magia têm espalhado por terras transalpinas?
Henrique Silva venceu a etapa no Passatempo! Luís Silva segue na liderança da geral!