Vlasov estraga a festa a João Almeida!
Aquele que até há uns dias era o campeão russo, Aleksandr Vlasov, da Astana Pro Team, levou de vencida a 103ª edição do Giro dell’Emilia, deixando na segunda posição o português João Almeida, da Deceuninck Quick-Step, e em terceiro o italiano Diego Ulissi, da UAE-Team Emirates. Foi um final inglório para o único português presente na prova italiana, após um ataque portentoso a 16km do fim que parecia ter tudo para resultar em vitória para o jovem luso.
A edição de 2020 da clássica italiana, que normalmente é disputada em outubro, apresentava um percurso de 199.7 km entre Casalecchio di Reno e San Luca, Bolonha. No menu constavam diversas dificuldades montanhosas, com destaque para a subida ao Passo Serra dello Zanchetto (12.3 km a 4,6%), colocada a meio do percurso, e para as quatro voltas do difícil circuito final, com ascensões ao monte de San Luca, um autêntico muro, curto e duro (2 km a 9,8%). Esta foi a subida utilizada no contrarrelógio da Volta a Itália de 2019, vencido por Primoz Roglic, ele que venceu também o Giro dell’Emilia de 2019.
Entre as equipas participantes, o destaque recaía sobre as oito formações do World Tour presentes. Com o afastamento de última hora de Richard Carapaz do alinhamento da Team INEOS, dois nomes sobressaíam entre os candidatos à vitória: o tubarão da Trek-Segafredo, Vincenzo Nibali, e Jakob Fuglsang, da Astana, este último a atravessar um grande momento de forma, como o comprova a vitória de sábado passado no segundo monumento da temporada, a Volta à Lombardia. Já a Deceuninck Quick-Step apresentava um alinhamento sem os nomes mais sonantes da formação, dando espaço a jovens como Andrea Bagioli e João Almeida. Habitualmente chamado a trabalhar para os líderes da powerhouse belga, o português tinha nesta prova uma oportunidade de correr com liberdade e de mostrar mais uma vez o seu enorme potencial e o seu estupendo momento de forma.
A corrida arrancou num ritmo frenético, o que dificultou a formação da fuga do dia. Ao fim de 45 km, oito corredores conseguiram mesmo sair do pelotão e começaram então a acumular minutos sobre o grupo principal. Entre os fugitivos seguia o vencedor de 2017, Giovanni Visconti, acompanhado pelo seu companheiro de equipa na Vini Zabu KTM, Andrea Garosio, e ainda por Danilo Wyss (NTT Pro Cycling), Philipp Walsleben (Alpecin-Fenix), Manuel Senni (Bardiani CFS Faizane), Felix Dopchie (Bingoal WB), Oscar Adalberto Quiroz (Colombia Tierra de Atletas GW Bicicletas), e Dario Puccioni (Work Service-Dinatek-Vega).
A vantagem dos escapados chegou a ser de sete minutos, que começaram a ser abatidos na subida à Serra dello Zanchetto. Embora sem carregar a fundo no acelerador, o pelotão comandado pela Astana imprimia um ritmo que chegava para controlar a distância para a frente da corrida.
A 30 km do fim, já dentro do circuito final, salta do pelotão um grupo de perseguidores, onde seguia João Almeida. Esta movimentação viria a ser, no entanto, anulada. A 19 km do fim, mexeu Fuglsang, com resposta dos principais galos do pelotão, e com 16 km para o final, volta a atacar João Almeida, desta feita sozinho, no encalce dos dois fugitivos que ainda resistiam, os dois homens da Vini Zabu KTM.
Inicia-se então uma perseguição espetacular por parte do português que alcançou a frente a 10 km do fim e de pronto arrancou sozinho, numa demonstração de força e classe. Num estilo canibal, a fazer lembrar o seu companheiro de equipa, Remco Evenepoel, João Almeida rapidamente ganhou 30 segundos sobre o pelotão, entrando isolado na última volta ao circuito. A 5 km do fim a vantagem permanecia nos 30 segundos, e a vitória do português parecia cada vez mais certa, perante os esforços infrutíferos de Astana e Trek.
Contudo, na subida final, já dentro do último km de prova, Aleksandr Vlasov, também ele a atravessar um grande momento de forma, atacou o grupo principal numa tentativa desesperada de alcançar o corredor português. Na roda de Vlasov ainda arrancou também Bagioli, na expetativa de garantir a dobradinha para a Deceuninck, mas o russo do Astana revelou-se intratável, deixando o italiano rapidamente para trás. Nos últimos 500 metros, João Almeida acabou por pagar a fatura do esforço hercúleo que tinha despendido, permitindo a ultrapassagem de Vlasov e a festa do russo sobre a linha de meta, 9 segundos à sua frente. Não obstante, importa notar a espetacular exibição do ciclista luso, que hoje bateu alguns dos melhores ciclistas do mundo, cimentando o seu estatuto como um dos nomes mais promissores do pelotão internacional.