Alaphilippe primeiro líder do Tour em dia muito controverso!

O francês Julian Alaphilippe (Deceuninck – QuickStep) conquistou hoje a primeira etapa do Tour de France, uma ligação de 197.8km entre Brest e Landerneau, após se destacar no final inclinado do Côte de la Fosse aux Loups, batendo o australiano Michael Matthews (Team BikeExchange) e o esloveno Primoz Roglic (Jumbo – Visma) por oito segundos, para assumir a primeira camisola amarela deste Tour de France.

A 1ª etapa da Volta a França apresentava uma jornada de 197.8 km, corridos na região da Bretanha, com partida em Brest e com a meta colocada em Landerneau. Num dia de rompe-pernas, com muito poucos metros planos, o pelotão enfrentava um total de seis ascensões categorizadas, quatro de 4ª categoria e duas de 3ª, a última das quais coincidente com a chegada. Essa subida final, para Côte de la Fosse aux Loups, representaria um desafio de 3.2 km, a 5.4 % de inclinação média, sendo que a pendente ia sendo cada vez mais suave em direção risco de meta.

Em jeito de mau presságio, o Tour iniciou-se logo com uma queda no pelotão, embora sem consequências de maior. Muitos ciclistas iam tentando formar a fuga do dia, mas não era fácil de haver consenso dentro do pelotão, numa fase tão precoce da jornada. Ainda sem fuga formada, na primeira contagem de montanha, uma 4ª categoria para Col de Trébéollin, passou Victor Campenaerts (Qhubeka), recolhendo os primeiros pontos deste Tour.

O ritmo era intenso, com o pelotão a alongar bastante, mas ao fim de alguns km, finalmente, ficou definida a movimentação que ia marcar a tirada. Na frente seguiam então seis corredores: Franck Bonnamour (B&B Hotels p/b KTM), Cristian Rodriguez (Team TotalEnergies), Danny van Poppel (Intermarché-Wanty), Anthony Perez (Cofidis), Ide Schelling (Bora-Hansgrohe), e Connor Swift (Arkéa-Samsic).

Na frente do pelotão, surgia um rosto bem familiar, sinal de que a situação de corrida estava estabilizada, o trator de Lovaina, Tim Declercq, da Deceuninck Quick-Step. Também a Alpecin-Fenix colocava um homem ao trabalho, seguindo-se depois os cavaleiros negros da Ineos Grenadiers.

A vantagem ainda cresceu até aos 3:45, com 170km para o final, mas a partir daí começou a diminuir de modo gradual, com o pelotão claramente focado em garantir que os fugitivos não teriam hipóteses de fazer uma gracinha neste primeiro dia. A 135km da meta, com os fugitivos a lutarem pelos pontos da montanha em mais uma subida categorizada, a margem para o pelotão situava-se pouco acima dos 2 minutos. Anthony Perez foi o ciclista em destaque na contagem, atacando por diversas vezes para passar na frente dos colegas de fuga no pórtico de montanha e assim marcar desde logo uma diferença importante na luta pela primeira camisola dos trepadores.

A 85km para o final, Ide Schelling atacou na frente e abriu espaço para os restantes adversários de fuga, e foi o primeiro a passar na contagem de quarta categoria em Stang ar Garront. A vantagem para o pelotão cresceu para os 2:30, com os restantes escapados a serem alcançados com 67km para a meta. As quedas foram acontecendo e levando alguns ciclistas ao chão, como foi o caso do francês Aurelien Paret-Peintre (AG2R Citroen Team), estreante na corrida.

A 47km da chegada, uma nova queda aconteceu, desta vez em grandes proporções e logo da pior forma possível., graças a um espectador! A noção do público francês parece ser cada vez menor, e desta vez foi um cartaz colocado no meio da estrada que foi embater em Tony Martin (Jumbo – Visma), logo na cabeça do pelotão, atirando mais de um terço dos ciclistas ao chão numa estrada visivelmente estreita. A maior vítima, para além do próprio Martin, acabou por ser Jasha Sutterlin (Team DSM), que foi forçado a abandonar a corrida.

Vários ciclistas ficaram afetados, como foi o caso de Wout van Aert (Jumbo – Visma), Peter Sagan (Bora – Hansgrohe) ou Sonny Colbrelli (Bahrain Victorious), e o pelotão abrandou por momentos para que a maior parte dos ciclistas pudesse reentrar. A QuickStep assumiu a dianteira, mas voltou a acelerar mal Julian Alaphilippe chegou. Porém, a tentativa do ataque “sujo” não funcionou e os principais nomes acabaram mesmo por reentrar, com o ritmo a baixar consideravelmente logo de seguida.

Schelling foi alcançado pelo pelotão a 29km da meta, assegurando, com a iniciativa, a subida ao pódio como o ciclista mais combativo do dia. Benoit Cosnefroy (AG2R Citroen Team) foi também um dos ciclistas mais afetados durante o dia, e entre a queda e os últimos 15km foi obrigado a trocar de bicicleta por três vezes, gastando energia essencial para reentrar no pelotão de forma consecutiva.

A Quick Step, a Ineos, a UAE Emirates e a Alpecin – Fenix colocaram-se na frente do pelotão ocupando toda a largura da estrada, numa fase de constante sobe e desce, e assim tornou complicada a luta pelo posicionamento no pelotão, com quase toda a gente longe da frente a ficar fechada, mas o ritmo a seguir sempre tranquilo, e por isso o pelotão a seguir compacto até aos 10km finais, onde efetivamente, em ligeira descida, e com estrada mais larga, a luta pelo posicionamento começou.

A 6.4km do final, mais uma grande queda no pelotão, a retirar muitos ciclistas da discussão da etapa e da luta pela classificação geral. Chris Froome e Michael Woods (Israel Start-Up Nation) foram alguns dos envolvidos, com o britânico a ficar em bastante mau estado, mas a seguir até final ainda que em dificuldades. Rui Costa e Rafal Majka (UAE Team Emirates), assim como Alejandro Valverde (Movistar) ficaram também envolvidos, e perderem já cinco minutos e meio para o vencedor do dia. Marc Hirschi (UAE Team Emirates) foi provavelmente o ciclista mais afetado, sendo um dos últimos a cortar o pelotão, já a 18:09 do vencedor, ele que era um dos candidatos a triunfar no dia de hoje. Tao Geoghegan Hart (Ineos Grenadiers) e Ion Izagirre (Astana – Premier Tech) ficaram também afetados, tendo perdido já bastante tempo, que os retira da luta pela classificação geral deste Tour de France.

A corrida decidiu-se nesse momento, com a Quick Step a prosseguir a todo o gás, levando a corrida para a decisão na curta subida final. A equipa belga entrou a todo o gás na explosiva primeira fase da subida final, com Kasper Asgreen e Mattia Cattaneo a levarem Alaphilippe até à zona mais dura, onde o ataque efetivamente aconteceu. Wout van Aert seguia na roda do francês, mas não o conseguiu acompanhar, com Pierre Latour (Team TotalEnergies), Primoz Roglic (Jumbo – Visma) e Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) a tentarem alcançar o francês, mas sem sucesso.

O cada vez mais curto grupo não se organizou a perseguir, permitindo que Alaphilippe mantivesse a sua vantagem até à meta, para triunfar e assim se tornar o primeiro líder da classificação geral e dos pontos deste Tour de France. Ide Schelling é o primeiro líder da montanha e o mais combativo da jornada. Tadej Pogacar é desde já o líder da juventude.

Ruben Guerreiro (EF Education – Nippo) foi o melhor português do dia, concluindo na 56ª posição a 2:10 do vencedor, enquanto Rui Costa (UAE Team Emirates) foi 96º a 5:33.

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