“Faz parte de mim dar o máximo, seja por mim, seja por um colega de equipa” – Entrevista a Joaquim Silva!
Depois de mostrar o seu valor nas provas nacionais e internacionais, tendo resultados honrosos para com a sua equipa e para si mesmo, Joaquim Silva esteve à conversa com o Ciclismo Mundial para falar sobre o que o levou ao projeto da Efapel Cycling, a temporada passada, os feitos alcançados até agora e o que estará ainda por vir!
Ciclismo Mundial (CM): Na época passada abraçaste um novo desafio na tua carreira com a entrada na Efapel Cycling. Com que ambições chegaste a este novo projeto?
Joaquim Silva (JS): Foi um projeto que abracei com muita motivação e com uma nova perspetiva sobre o futuro, porque na Tavfer sentia-me em casa e até senti que podia ali acabar a carreira, senti-me sempre bem lá e não via equipa melhor para representar naquele momento. Mas quando surgiu a oportunidade de entrar na equipa do José Azevedo, as coisas tornaram-se mais aliciantes, oferecia melhores condições, e oferecia principalmente um calendário mais amplo de corridas, e isso deu-me uma maior motivação para continuar a fazer uma boa carreira em provas no estrangeiro.
CM: O que te atraiu mais no calendário foram aquelas provas lá fora que te projetam para o ciclismo internacional?
JS: Sim, eu gosto sempre de competir com os melhores, mesmo sabendo que é muito mais difícil obter um resultado positivo, mas acaba por ficar sempre a aprendizagem e a evolução diária, que foi um aspeto que aprendi no ciclismo e é um aspeto que vou levar para a vida. Porque quando competimos com os melhores, obriga-nos sempre a elevar o nosso nível. A Tavfer proporcionou-me anos muito bonitos aqui em Portugal, claro que não tive tantas possibilidades de competir no estrangeiro, e quando o José Azevedo me falou no projeto e sabendo que tinha um calendário mais amplo com participação nessas provas 2.1 ou 2.HC, esse foi um dos motivos que me levou a esta troca, sendo que aqui também não nos falta nada.

CM: Falando mais abertamente da época passada, se calhar aquele que era o teu grande objetivo (Volta a Portugal) não correu tão bem, ou a época até correu minimamente dentro do que estavas à espera?
JS: Esse objetivo da Volta a Portugal, do qual muitas pessoas falam, eu já há muitos anos que não tenho esse objetivo de ir e lutar pela Volta a Portugal porque sei que é muito difícil, é uma corrida diferente, e também é complicado manter uma boa forma a época toda. É assim que eu gosto de trabalhar, chegar bem ao início de época e disputar corridas em fevereiro e acabar a época (setembro/outubro) a disputar também essas corridas. Claro que nesse período vamos apanhar sempre altos e baixos, e claro que até podemos apanhar um bom momento de forma na Volta, sendo que é uma corrida importante para os patrocinadores e é onde temos mais visibilidade. Mas acho que não podemos dizer que a época foi um fracasso só porque a Volta não correu tão bem, porque penso que é mais gratificante estar a disputar as corridas todas ao longo do ano, e depois vamos à Volta fazer o melhor possível, sendo que nem sempre o corpo responde às expectativas. Já há vários anos que sou apontado como o favorito para a Volta a Portugal, mas não é uma corrida que tenha definida como objetivo desde o início do ano e vou sempre dar o meu melhor na Volta. Se também tiver de abdicar um bocadinho de ser o líder de equipa e tiver a oportunidade de ajudar outro colega, prefiro isso porque também me dá um espaço para estar o resto da temporada a disputar todas as corridas.
CM: Ou seja, pensas que a performance dos atletas e equipas está mais focada na Volta do que no restante calendário?
JS: Exato. O ano passado eu passei por isso, por exemplo, até à terceira etapa ninguém vinha ter comigo falar da época que eu tinha feito até ali, nenhum jornalista foi ter comigo e abordar-me sobre isso. Mas depois quando perdi muito tempo na etapa da Serra da Estrela, veio muita gente ter comigo a perguntar se sendo eu o líder de equipa, se seria a desilusão da Volta, e isto sinceramente foi um pouco difícil de aceitar, porque eu gosto da Volta a Portugal, e se a equipa disser que tenho de ir como líder, tenho de ir como líder, mas penso que na minha carreira nunca será um objetivo principal.

CM: Focando mais no início desta temporada, para além da Prova de Abertura, estiveste também presente na Clássica da Figueira e na Volta ao Algarve. Sendo provas de um nível alto, como é que te sentiste durante estas provas de tanto nível em menos de 1 semana?
JS: Foi um bocado difícil. Para nós o mais complicado de competir nesse tipo de provas que traz muitas equipas WorldTour é a colocação. Uma colocação entre os 20 primeiros a entrar na subida não é a mesma coisa que estar nos 80 primeiros. Pagámos um esforço em todas as subidas, sendo que foi este o fator decisivo tanto na Clássica da Figueira como na Volta ao Algarve. A minha forma estava muito boa, preparei-me muito bem para entrar o melhor possível. É claro que depois essas equipas WorldTour já vêm com estágios de altitude ou mesmo estágios em climas melhores, e isso traz outra condição ao corpo e mais ritmo. Notou-se muita diferença logo na Clássica da Figueira, onde sentimos que íamos um bocado acima daquilo que podíamos, e mesmo assim acabei por me defender bem. Podia ter corrido melhor, mas o ciclismo é assim, sendo que nestas provas também não gosto de arriscar muito, mas depois uma pessoa começa a ganhar confiança, na Fóia fiz uma etapa muito boa, e um contrarrelógio em termos de números muito bom. Encarámos estas duas corridas com vontade de fazer o melhor possível, e mesmo com o elevado nível das provas tirámos sensações positivas dessas corridas.
CM: Pouco depois dessa semana complicada, veio outra, com a Clássica da Arrábida e a Volta ao Alentejo. Como é que encaraste estas provas?
JS: Depois d’O Gran Camiño eu saí com uma infeção pulmonar e tive uma semana em que basicamente pouco treinei. Depois tivemos duas clássicas (Santo Tirso e Primavera) onde tentei recuperar as melhores sensações. Não fiz a Clássica da Arrábida por ainda não estar a 100% e queria estar o melhor possível na Volta ao Alentejo, onde entrei com a forma recuperada, mas tive uma queda na primeira etapa que me debilitou um pouco e deixou marcas, não muito em termos de escoriações mas em termos de pisaduras e inflamação, que depois me causaram sofrimento na etapa decisiva. Gostei também do novo molde da Volta ao Alentejo, onde regressaram as bonificações e todos têm as suas oportunidades, até mesmo na etapa mais dura onde alguns sprinters conseguem passar.
CM: O Gran Camiño teve estrelas como Jonas Vingegaard, Rúben Guerreiro, entre outros grandes corredores. Como é que te sentiste ao finalizares em 9º na geral no meio destes grandes nomes do ciclismo?
JS: Foi muito bom e trouxe muita motivação conseguir um grande resultado no meio dessas estrelas mundiais. Lá corre-se num patamar muito alto, e fazer um non lugar n’O Gran Camiño foi um dos melhores resultados da minha carreira e que me enche de orgulho devido a estar no meio de grandes ciclistas.

CM: Passando para provas mais recentes, como o GP “O Jogo”, onde acabaste em segundo lugar, e também da Volta às Astúrias onde terminaste em oitavo. Que motivação é que estes resultados te trazem?
JS: Foi muito bom, foram duas corridas em quase oito dias seguidos, porque “O Jogo” acabou na terça feira e na sexta feira já estávamos a competir nas Astúrias. Estes oito dias foram ao máximo e é muito bom sentir que o corpo respondeu bem todos esses dias. Tivemos um GP “O Jogo” bastante difícil, em que tivemos que ir atrás do prejuízo, porque no contrarrelógio eu perdi a corrida por 4 segundos e então nós tivemos que assumir riscos e tentar na etapa rainha fazer a diferença. Assumimos a corrida, tentámos partir o pelotão ao máximo e eu tentei arrancar, mas infelizmente o Maurício conseguiu responder. Assim tinha de tentar levar a corrida para o sprint e tentar uma vitória de etapa, para agradecer o trabalho de toda a equipa naqueles dias, mas infelizmente o meu sprint também não é dos melhores, e acabei por ser terceiro nessa etapa. Na quarta etapa não havia grandes zonas para fazer diferença e ganhar tempo ao Maurício, e por isso ganharam merecidamente e temos de dar os parabéns. Depois na Volta às Astúrias foi uma corrida muito dura com equipas WorldTour e fiz dos meus melhores números em termos de subidas e estou muito contente porque mesmo no terceiro dia senti-me muito bem e consegui mexer na corrida, mas os adversários eram mais fortes e só tenho de ficar contente pelo meu trabalho e o da equipa estar a dar resultados, porque sem eles também não conseguia estes resultados.
CM: Depois de falarmos da época até agora, falemos do que resta da época. Com as tuas boas performances em montanha e contrarrelógio, o que podemos esperar de ti no resto da temporada e quais os teus objetivos?
JS: O contrarrelógio foi uma das coisas que eu comecei a trabalhar na Efapel e mais evoluí. O José Azevedo (preparador de Joaquim Silva) já estava a trabalhar comigo, porque disse que eu tinha capacidade de fazer bons contrarrelógios e tentámos evoluir a posição na bicicleta ao máximo, sendo que é das coisas que mais tenho treinado ultimamente. Esta evolução tem-me dado muitos bons resultados, visto que o meu pior resultado num crono até à Volta foi sexto, e acho que esta evolução acaba por ser mais uma arma que posso usar para disputar as corridas, porque antes perdia muito tempo nos cronos e dificilmente conseguia recuperar esse tempo. Não podemos deixar de falar na parte em que eu sou bom, que é a subir, e trabalhámos os dois aspetos ao máximo. Agora encarando o resto da temporada sabemos que vai havendo corridas que ainda não temos propriamente o percurso delineado, mas as corridas que vamos fazendo sabemos que têm cronos (por equipas ou individuais) e isso “obriga-me” a estar na disputa pelas corridas, devido à minha evolução, sendo por isso uma mais valia para a equipa.
CM: Falando sobre a Volta a Portugal, se não fores líder, o que achas que podes fazer para além de trabalhares para os teus colegas?
JS: Agora é ir corrida a corrida, fazer o melhor possível e depois focar na Volta a Portugal, onde vamos fazer um estágio, onde vamos estar focados e chegar na melhor forma possível. Se for, não serei o único líder da equipa, terei ao meu lado ciclistas como o Emanuel Duarte, o Henrique Casimiro, que são bons em corridas de vários dias e vamos dar os três o melhor possível, e se tiver de ajudar para um deles ganhar, irei ajudar com muito gosto. Faz parte de mim dar o máximo, seja por mim, seja por um colega de equipa, e é assim que encararemos a Volta a Portugal.
Muito obrigado ao Joaquim Silva pela conversa e o Ciclismo Mundial deseja-te o resto de uma excelente temporada!