Isabel Caetano: Uma das grandes inspirações do ciclismo feminino em Portugal – Parte 2
Na segunda parte desta grande entrevista com Isabel Caetano abordamos os últimos anos. O regresso ao ciclismo em Portugal, o ponto em que este se encontra em 2023, mas também a grande experiência da maternidade.
CM – Depois de muitas vitórias já de novo em Portugal, viveste a aventura da maternidade. Foi o cumprir de um dos teus objetivos de vida?
IC – “Costumo dizer que fui mãe na altura certa, depois de viver e realizar tudo o que queria no ciclismo, ou seja, vivi intensamente o sonho do ciclismo e também o de ser mãe em momentos diferentes. Foi importante realizar-me como atleta e pessoa para depois ser uma mãe feliz.”
CM – Após seres mãe do David, houve algum momento em que pensaste não voltar à competição?
IC – “Sim, depois de ser mãe o meu pensamento era nunca mais voltar à competição que fazia antes, mas hoje percebo que o ciclismo corre-me no sangue, sou muito competitiva e isso faz parte da minha personalidade. Apesar de ter voltado à competição estou a gozar muito da maturidade de perceber que o meu filho e o meu trabalho são prioritários, mas consigo disfrutar na mesma do ciclismo sem pressão, estou feliz com este momento.”
CM – Em 2021 participaste no Campeonato do Mundo de Paraciclismo em conjunto com a Ana Silva. Como foi para ti toda essa preparação e o momento em si?
IC – “Desde que abracei este projeto inclusivo de apoio à Ana Silva e ao Paraciclismo, a convite do meu ex-Selecionador Nacional José Marques, a quem agradeço, dei uma parte de mim para outra pessoa, o meu tempo que é muito importante e que retirei à minha família, dei os meus conhecimentos na vida e no ciclismo, mostrei as dificuldades, a exigência e os sacrificios inerentes ao ciclismo e a humildade necessária para seguir neste desporto.
Espero que a Ana com estes ensinamentos percorra um caminho feliz.”

Foto: Facebook Isabel Caetano
CM – A tua carreira como ciclista é longa. Sentes que ficou algo por fazer, ou que há ainda algo que gostasses de fazer?
IC – “Quanto ao que me falta fazer é apenas disfrutar da bicicleta sem compromissos assumidos, aproveitar a minha experiência e tentar transmitir o que aprendi aos mais jovens.”
CM – Como é ser ciclista feminina em Portugal em 2023?
IC – “Estava reticente em aceitar convites e agradeço a todos os que me fizeram, mas em alguns momentos não estava preparada para voltar. Este ano, e com muita persistência do Arménio Alves, da Equipa Cantanhede Cycling / VESAM, voltei ao ciclismo puro de estrada e estou feliz com esta decisão. Estou tranquila, sem pressão e com vontade de trabalhar, mas principalmente de desfrutar da Volta a Portugal, que vai ser um novo marco na minhda vida, com 43 anos e uma paragem de quase 7 anos.”
CM – Ser mãe, mulher, trabalhadora e ciclista exige tempo, como concilias/organizas o teu dia-a-dia?
IC – “A melhor formação que o ciclismo me deu foi gerir o tempo, mas agora a exigência é maior. Deixo o David na escola às 7h30, saio do trabalho às 17h, visto o equipamento, deixo o carro estacionado na escola do David às 17h30 e vou fazer 1 horinha. Nada pode falhar para ir buscar o David antes da escola fechar. A minha sorte é que ele adora a escola e reclama quando vou buscá-lo cedo.”
CM – É bastante visível o gosto do David pela bicicleta, gostavas que ele fosse ciclista?
IC – “É verdade que se nota um gosto enorme de andar de bicicleta, ainda não é fanático, ou seja, não vê ciclismo na TV e não quer fazer competição, porque ainda gosta muito de brincar, mas nota-se que tem um gosto enorme em andar de bicicleta e já é muito competitivo. Pede-me para ir andar depois da escola ou ao fim de semana e fica chateado se não formos.”

Foto: Facebook Isabel Caetano
CM – Qual o principal conselho que dás às raparigas/meninas que gostavam de ingressar na modalidade?
IC – “O ciclismo é uma escola da vida, esta frase não é mais uma frase feita, é a verdade, mesmo que os jovens atletas não venham a ser profisisonais de ciclismo aprendem muito na formação, ensina a ser persistente, não desistir, ser cumpridor, ser sofredor, ser amigo e perceber que para sermos alguém temos que lutar tal e qual como uma corrida.”
Agradecemos a disponibilidade da Isabel para esta entrevista de forma a contribuir certamente para o aumento do número de mulheres a praticar ciclismo em Portugal e a fazer-lhes ver que tudo é possível havendo trabalho, empenho, dedicação e sobretudo paixão por aquilo que fazemos.