“A grande união da equipa é o que faz a diferença!” – Entrevista a Maurício Moreira
Durante a passagem pelos bastidores da Figueira Champions Classic, a equipa do Ciclismo Mundial não podia deixar de falar com uma das grandes personalidades do pelotão nacional, também ele vencedor da 83ª Volta a Portugal, o uruguaio Mauricio Moreira, da Glassdrive – Q8 – Anicolor.
Fica com a entrevista feita à figura maior da equipa de Águeda, onde abordamos muito do que foi o percurso da vitória na Volta a Portugal 2022.
Ciclismo Mundial (CM) – A vitória na geral da Volta a Portugal foi uma superação pessoal, depois de no ano anterior teres ficado a 10 segundos de ganhar?
Mauricio Moreira (MM) – Depois do resultado em 2021, eu pessoalmente posso dizer que me sentia capaz de poder vencer uma Volta a Portugal. Tinha as minhas dúvidas, claro, e depois dum início de época difícil (em 2022), essas dúvidas foram-se acrescentando e estava cada vez mais longe daquilo que eu pensava, por isso, a vitória no GP Anicolor foi muito, muito importante para mim e foi aí que eu recuperei a minha confiança.
CM – Durante a Volta, nós vimos a equipa a um nível muito alto. Na etapa da Sra. da Graça, o Fábio (Costa) fez um enorme trabalho e “partiu” a corrida e depois vocês seguem para a subida final, onde tu, o António Carvalho e o Frederico Figueiredo, seguiram isolados depois de deixarem o Luís Fernandes para trás. Como é que vocês viveram esse dia, onde mostraram haver uma forte união no grupo?
MM – O resultado com o top3 completo da Glassdrive-Q8-Anicolor não foi nada do que tínhamos planeado antes da partida. Foram circunstâncias de corrida que nos deram a oportunidade de obter esse resultado, e acho que a grande união que temos dentro da equipa, de sabermos trabalharmos uns para os outros, e ninguém ter o problema de dar o máximo em prol da equipa, é o que faz a diferença!
CM – O dia da etapa do Observatório de Vila Nova foi talvez o teu pior dia pessoal, em que se notou alguma quebra e tempo perdido. Como é que deste a volta a esse dia menos conseguido?
MM – Pessoalmente já tinha claro que esse dia ia ser difícil para mim, porque uma subida dessa complexidade, para a minha composição física, seria bastante difícil. Não é o mesmo que fazer a Serra da Estrela, que sendo dura tem pendentes mais razoáveis (20.1km a 6.5%). A subida ao Observatório tem pendentes maiores (9.9km a 8.3%), e com o meu peso a gravidade faz o seu trabalho. Consegui passar a subida da melhor maneira, apesar de passar a amarela para o Frederico, e quando acabou a etapa percebi que tinha conseguido passar a dificuldade sem perder tempo para os rivais, o que foi muito bom.
CM – O contrarrelógio final que venceste, a terminar em Gaia, junto àquela zona tão bonita do Douro, com tanta gente na berma da estrada a aplaudir, a dar força… O que é que vai na cabeça de um ciclista que pode ganhar a Volta e que está a experienciar tudo aquilo?
MM – É difícil, e posso dizer que neste caso em particular tenho a certeza e posso dizer com confiança que em nenhum momento do contrarrelógio pensei em ganhar a Volta. Como já disse, desde o momento em que aconteceu, e inclusive antes do contrarrelógio, era uma situação algo difícil estar a disputar a Volta com um colega de equipa. Foi um contrarrelógio muito especial para mim, primeiro porque desde que era criança sempre gostei da disciplina, e mesmo estando longe de disputar alguma geral, sempre fiz os contrarrelógios a fundo e este não foi exceção. Saí com a mentalidade de sofrer, de fazer o contrarrelógio a fundo, mas não cheguei a pensar em algum momento em tirar a camisola a um colega de equipa.
CM – Depois da Volta, conseguiste prolongar o bom momento para o Grande Prémio JN, que na zona Norte é uma corrida emblemática e fechaste a época em beleza, com duas grandes vitórias. Que motivação é que isso te dá para preparar a próxima época?
MM – Quando acabou a Volta já sabia que ia para o JN e que começava com um contrarrelógio, que é uma disciplina que eu gosto muito, e então não me custou continuar focado e a treinar em prol de conseguir um bom resultado. Depois de ter ficado líder no contrarrelógio inicial, a equipa colocou-se ao dispor como sempre, e conseguimos levar a vitória, mas a ideia era que se tivesse de trabalhar para um colega, fazê-lo, e focar essencialmente no coletivo! Para mim, vencer a Volta e o JN foi um ponto de confiança muito grande e agora acho que posso entrar nas corridas com outro pensamento e maior tranquilidade.
CM – Que mensagens deixarias para jovens atletas, que querem perseguir o sonho de ser ciclista e que ambicionam a serem um dia profissionais?
MM – A mensagem que eu posso passar é que nunca desistam! Isto é um desporto de grande sacrifício, em que passamos por momentos de grandes dificuldades. Quando as coisas estão a correr bem, é tudo cor-de-rosa e é sempre a andar, mas a verdade é que quando estamos a passar por momentos mais difíceis é muito ingrato, e não é fácil seguir em frente, e não é difícil entrar num círculo depressivo e difícil de sair. Quero dar o conselho de sempre olhar para a frente, cada dia é diferente, de semana a semana tudo pode mudar, então continuem para a frente, com um objetivo claro, um sonho claro por cumprir e trabalhar o máximo para isso!
Em nome de toda a equipa Ciclismo Mundial, um muito obrigado ao Maurício Moreira pela disponibilidade para a entrevista e por esta pequena bela conversa!
Fotos: João Fonseca Photographer / Volta a Portugal & GP JN