Entrevista a Rui Costa, ciclista português da Intermarché – Circus – Wanty!
No fim-de-semana que marcou a realização da 1ª edição da Figueira Champions Classic, a primeira clássica 1.1 em Portugal, o Ciclismo Mundial não podia deixar de marcar presença! No dia que antecedeu a corrida, estivemos à conversa com o homem do momento, nada mais nada menos que o grande Rui Costa, que à data da entrevista contabilizava 3 vitórias em 8 dias de corrida em 2023!
CM (Ciclismo Mundial) – Com que ambições é que tu chegaste a este novo desafio na tua carreira, após longos anos na estrutura da UAE Team Emirates, ex-Lampre?
RC (Rui Costa) – A mudança foi positiva, eu e a equipa trabalhámos arduamente, preparámos bem o início de temporada, mas nem todos os atletas, porque a época não é só centrada nas primeiras provas do ano. As coisas começaram muito bem, a mudança para a Intermarche foi muito positiva e foi uma mais-valia, porque volta a dar-me inspirações para lutar por novos desafios e novas provas. Na UAE tinha as minhas oportunidades, sempre muito limitadas e mais no início da temporada, como no Saudi Tour e na Volta a Omã, e a partir daí era mais trabalhar em prol dos meus companheiros, dos meus líderes de equipa, e isso acabava por fazer com que eu não me sobressaísse.
CM – Esta temporada começas com 3 vitórias em 8 dias de corrida, num começo de época sem igual. Que sensações é que isso te dá para este novo desafio?
RC – De tantas épocas que eu já levo (15 como profissional), poder ter um arranque de temporada como este é muito importante para mim. É bom saber que o trabalho ainda continua a dar frutos, e isso é motivador para o que se segue.
CM – Esperavas um início de temporada assim tão triunfante como tem sido até agora?
RC – É óbvio que depois de 2-3 anos menos bons, porque as oportunidades não eram muitas, onde tive que me sacrificar a trabalhar para os meus companheiros, aqui nesta equipa, o papel acaba por ser completamente diferente, sendo uma equipa que corre com menor pressão que todas as outras, porque é uma equipa mais pequena, mas bem desenvolvida. É óbvio que eu não tinha ideia que as coisas pudessem sair tão bem como saíram este ano, começar com apenas 2 competições, com 3 vitórias, e conseguir a classificação geral da Volta a Valência… Estou contente, motivado e super orgulhoso do que fiz!
CM – Como é que consegues gerir o teu descanso com entrevistas, reuniões, etc? O que é que isso implica na tua performance e de um modo geral nos atletas todos?
RC – Após a competição nós temos a nossa recuperação, onde temos a massagem, a parte da nutrição que é super importante e depois descansar, porque os dias tornam-se mais duros. Eu já passei por várias gerações no ciclismo, e posso dizer que neste preciso momento em quase todas as competições, sejam provas por etapas ou clássicas, todos os dias são muito rápidos. Há 10 anos atrás as coisas eram completamente diferentes, tinhas os dias decisivos e as equipas apontavam que aquelas eram etapas decisivas, onde uns dias era para dar tudo e nos outros dias era “passeio” em grupo. Agora realmente as coisas mudaram, o ciclismo está mais atualizado, e o facto de termos uma nova geração com muita força faz com que haja outra alegria no grupo. Apesar de todos os dias serem duros, temos por assim dizer um “festival diário” para todas as pessoas que nos seguem e isso é bom.
CM – Focando agora na primeira edição da Figueira Champions Classic. Qual é a importância de termos uma clássica de nível 1.1 em Portugal e em que é que isso contribui para o desenvolvimento do ciclismo português?
RC – Muito bom! Nós até ao momento tínhamos só a Volta ao Algarve que era a referência das provas internacionais em Portugal. Considero que já podíamos ter desenvolvido uma clássica mais cedo, mas estou super contente que tenha surgido esta oportunidade de fazer esta clássica na Figueira da Foz.
CM – Quais são os teus objetivos para amanhã?
RC – É normal que as pessoas, após estas 3 vitórias, tenham a ambição que eu amanhã possa ganhar, mas nem todos os percursos são iguais. O circuito final é algo duro, mas depois a última parte até acaba por favorecer um bocado os roladores e os sprinters e acredito que amanhã possa ser uma chegada ao sprint.
CM – Para o que resta da temporada, que objetivos é que tens já traçados ou que corridas que terás pela frente?
RC – Eu irei fazer a Volta ao Algarve e depois irei para França fazer as clássicas La Drôme e Faun Ardeche, e daí irei direto para Itália fazer o Trofeo Laigueglia e a Strade Bianche. Depois farei uma pequena pausa, onde irei preparar as provas de abril, como a Volta ao País Basco, as clássicas das Ardenas e a Volta à Romandia.
CM – Ao seres menos pressionado pela equipa, achas que os resultados acabam por ser melhores?
RC – Por sermos uma equipa mais pequena, acabamos por não ter tanta pressão para obter os maiores resultados, mas é óbvio que estamos lá para os tentar. Assim há e não há pressão ao mesmo tempo, ou seja, não é uma pressão que seja uma obrigação, mas sabes que necessitas de fazer resultados. Ao corrermos sem pressão as coisas fluem de um modo diferente, porque sentindo-nos pressionados a ter que conseguir resultados, às vezes as coisas acabam por não sair tão bem porque cometes erros. Ou seja, não tendo tanta pressão tens mais liberdade e as coisas acabam por sair melhor.
CM – Ás vezes as coisas nunca acontecem como planeado e os resultados ficam longe do pretendido. Como é que tu lidas quando não consegues os teus resultados? Como manter a motivação?
RC – Quando acontece algo do género, parte só de ti. Tens de fazer um reset após a competição e partires de novo. Foca-te no teu objetivo, e o que ficou para trás ficou para trás.
A entrevista terminou com um pequeno desafio de questões rápidas, que o Rui cumpriu com distinção! As questões integram a nossa nova rubrica, “Get to Know“, que está disponível no nosso Instagram
Muito obrigado ao Rui Costa pela disponibilidade e pelos conselhos! Boa sorte na restante temporada!
Foto: CyclingMedia Agency / Intermarche – Circus – Wanty