Os caçadores de monumentos!

Depois da Milão-Sanremo, disputa-se hoje o segundo monumento da temporada, a mítica Ronde Van Vlaanderen, a Volta à Flandres.

Esta é a prova maior da região belga da Flandres, e que encerra a Semana de Ciclismo Flamengo, uma das mais belas épocas do calendário internacional. Por todo o mundo, adeptos fanáticos estarão colados ao ecrã, ávidos de assistir a uma nova edição desta prova tão especial e que nunca desilude.

Apesar das condicionantes da pandemia, que continuam a fazer-se sentir um pouco por todos os países, o Tour de Flandres consegue reunir as condições para se realizar, ao contrário do outro monumento do empedrado, o Paris-Roubaix, adiado para outubro. Não será ainda este ano que voltaremos a ver a festa da Flandres em pleno efeito, mas a vertente desportiva da prova promete manter a tarimba habitual.

Para a 105ª edição da Ronde, os organizadores selecionaram um total de 19 subidas e 17 troços de empedrado, dois tipos de dificuldade que irão coincidir em muitas zonas do percurso. A corrida irá arrancar de Antuérpia, como tem sido norma, para depois percorrer 263.7 km até à meta em Oudenaarde.

O percurso segue a fórmula habitual, com vários km em plano desde Antuérpia até à região das ardenas flamengas, onde se concentram os icónicos bergs. As dificuldades começam sensivelmente a meio da tirada, sucedendo-se durante vários km, até à última passagem nas subidas de Oude Kwaremont e do Paterberg. Depois serão 13 km em plano até à meta, onde os sobreviventes da jornada irão jogar a sua última cartada, seja atacando, seja sprintando.

Tal como no ano passado, não irá haver subida ao Kapelmuur, para descontentamento dos puristas da prova, no entanto, não faltarão obstáculos bem complicados de ultrapassar, onde se poderão fazer muitas diferenças.

Perfil da 105ª Volta à Flandres

Os ataques deverão começar, muito possivelmente, a mais de 60 km do final, na segunda de três passagens pelo Oude Kwaremont (2200 m a 4%, com pendente máxima de 11,6% e 1500 m de paralelepípedos). Logo depois, segue-se uma sequência diabólica, com subidas como o Koppenberg (600 m a 11,6%, com zonas a 22%) e o Taaienberg (530 m a 6,6%, com zonas a 15,8%), que antecedem a passagem final por Oude Kwaremont e pelo Paterberg (360 m a 12,9%, sempre em paralelepípedos, com zonas a 20,3%). Se um grupo ainda relativamente grande chegar a esta dupla dificuldade final, será certamente aqui que os ciclistas mais leves tentarão fazer diferenças para homens mais pesados que rolem bem nos 13 km finais e que tenham um bom sprint.

Favoritos

Muito se tem falado sobre a Volta à Flandres deste ano e sobre a possibilidade de voltarmos a ser presenteados com um duelo épico entre Mathieu Van der Poel e Wout Van Aert, sendo que seria injusto de não incluir Julian Alaphilippe como possível intruso neste duelo de titãs. No ano passado, foram estes três pesos-pesados os mais fortes nos bergs finais da Ronde e a situação pode repetir-se em 2021, cada um deles em busca do seu segundo monumento.

A prova será certamente muito atacada, como é habitual, filtrando o pelotão até sobreviverem apenas os mais fortes. A equipa-chave da corrida será, para não variar, a Deceuninck-Quick Step e, muito possivelmente, a única capaz de prevenir um final entre MVDP e WVA. A jogar em casa, o Wolfpack fará alinhar um conjunto de craques das clássicas e quererá, com toda a certeza, brilhar novamente a grande altura naquela que é a prova rainha do seu calendário.

Se na Jumbo-Visma e na Alpecin-Fenix está bem definida a estratégia e o líder incontestado, já na Deceuninck existem quatro ou até mesmo cinco candidatos, o que permite ao Wolfpack poder jogar de várias formas e lançar os lobos à vez, desgastando as equipas adversárias.

Os dois grandes favoritos são, no entanto, os rivais de longa data, Van der Poel e Van Aert, dois gigantes do ciclismo que têm vindo a digladiar-se, com grande intensidade, desde que eram adolescentes. Os embates no ciclo-cross transferiram-se agora para o ciclismo de estrada, mas a rivalidade é a mesma e o espetáculo está garantido sempre que os dois marcam presença na linha de partida. O facto de se tratar de um flamengo e de um holandês a discutir a Flandres, como aconteceu em tantas outras ocasiões, torna tudo ainda mais especial.

Ao se apresentar num nível menos exuberante na Dwars door Vlaanderen, Mathieu Van der Poel acaba por criar algumas dúvidas em relação ao seu nível de forma e à possibilidade de poder revalidar o título. De outra forma, o campeão holandês seria, muito possivelmente o grande favorito a poder revalidar o título, no entanto, analisando o momento mais recente dos ciclistas, o favorito nº 1 é Wout Van Aert.

O King Kong de Herentals tem estado num nível estratosférico, mais uma vez, levando já 3 vitórias nesta temporada: a clássica da Gent-Wevelgem no fim de semana passado e duas etapas no Tirreno-Adriático no mês de março, uma num sprint puro contra homens como Caleb Ewan e outra no contrarrelógio individual, onde bateu “só” o campeão europeu e o campeão do mundo da especialidade.

Refira-se ainda que o homem da Jumbo-Visma venceu a classificação por pontos do Tirreno-Adriático e terminou no 2º posto da CG final, batido apenas por um super-Tadej Pogacar, num resultado à “voltista”. Destaque ainda para o 3º posto no primeiro monumento da temporada, a Milão-Sanremo, e para o 4º lugar na Strade Bianche. Nesta temporada, em 11 dias de corrida, WVA venceu em 3, sendo que o pior que fez foi o 13º lugar na 6ª etapa da Corrida dos Dois Mares.

Se continuarmos a analisar os números de Van Aert nos tempos mais recentes, percebemos a verdadeira absurdidade das performances deste colosso. Desde a Amstel Gold Race de 2019, onde terminou no 58º posto, o pior que WVA fez em corridas de um dia foram dois 11ºs lugares! São praticamente dois anos com uma consistência assombrosa nas clássicas, tendo pelo meio exibições de luxo em provas como a Volta a França.

Neste momento, Wout Van Aert está num nível à parte de todo o pelotão internacional, mostrando capacidade para discutir qualquer corrida, seja uma clássica, seja um sprint, uma escalada, ou um contrarrelógio, não sendo de descartar que muito em breve possa tentar disputar uma volta de três semanas. Nenhum outro ciclista pode gabar-se disto no panorama atual e muito poucos o conseguiram fazer de forma consistente ao longo da história. Merckx não haverá mais nenhum, mas Van Aert está na linha de espécimes raros como Sean Kelly e tem tudo para gravar o seu próprio nome entre os melhores de sempre.

Quanto ao seu grande rival para esta como para tantas outras batalhas, Mathieu Van der Poel, apresenta, também ele, credenciais impressionantes. Nesta temporada, o Godzilla de Kapellen leva já 4 triunfos, incluindo a Strade Bianche, uma etapa no UAE Tour, e duas etapas no Tirreno-Adriático, com destaque para a 5ª etapa, quando venceu através de um ataque em solitário a mais de 50 km da meta.

Depois da soberba vitória em 2020, o campeão holandês quererá certamente fazer história mais uma vez, tornando-se no primeiro ciclista a defender o título na Ronde desde o Spartacus, Fabian Cancellara, em 2013 e 2014.

Se alguém se pode intrometer entre estes dois titãs das clássicas, esse homem é o campeão do mundo, Julian Alaphilippe. Na temporada passada, o francês da Deceuninck foi o único a aguentar com MVDP e WVA nas zonas mais difíceis da Ronde, tendo sido ele muitas vezes a impor ritmos e a tentar distanciar os rivais. Loulou acabaria por se ver arredado da discussão da corrida devido a uma colisão aparatosa com uma mota da organização, pelo que sentirá certamente que tem assuntos inacabados com esta prova.

Como referido, a estratégia da Deceuninck poderá ser um dos fatores que irão definir a corrida. O Wolfpack vai fazer alinhar vários dos seus galácticos das clássicas, sendo que, além de Alaphilippe, pelo menos outros três nomes têm capacidade e classe para estar na discussão da Ronde: Florian Sénéchal, Kasper Asgreen, e Yves Lampaert, qualquer um deles em boa forma e com bons resultados nas clássicas mais recentes. A poderosa formação belga leva ainda o sprinter Davide Ballerini, que será também um homem perigoso se a corrida não for suficientemente atacada e um grupo relativamente grande chegar ao final.

Na lista de favoritos segue-se Matteo Trentin, da UAE-Team Emirates, que mostrou estar entre os melhores nas subidas em empedrado da Gent-Wevelgem, sendo batido apenas no sprint final por Wout Van Aert e Giacomo Nizzolo. Outro dos nomes que impressionou nessa corrida e que poderá ser um osso duro de roer se não for descartado nos bergs é o australiano Michael ‘Bling’ Matthews, da Team BikeExchange.

A UAE-Team Emirates apresenta outro homem rápido que pode ser um caso sério nesta corrida, principalmente se um grupo mais ou menos numeroso discutir a corrida: Alexander Kristoff, ele que venceu a prova em 2015 e que já mostrou por diversas ocasiões ser o sprinter mais forte depois de uma longa e dura jornada.

Será importante referir também o nome do campeão olímpico, Greg Van Avermaet, que tem estado em bom nível nas várias clássicas que disputou esta temporada, embora tenha ficado sempre a faltar algo a ele ou à equipa, como tão bem ficou patente na E3 Harelbeke. De qualquer forma, o ciclista da AG2R Citröen é um experimentado flamengo e, nos últimos sete Tour de Flandres em que terminou, fez sempre top 10.

O lote de candidatos que podem vencer a prova é bastante alargado, sendo possível destacar Dylan Van Baarle, vencedor da Dwars door Vlaanderen, mas também Soren Kragh Andersen, Stefan Küng, Oliver Naesen, ou Tom Pidcock. Refira-se ainda Tiesj Benoot, que das quatro vezes que terminou a Ronde fê-lo sempre dentro do top 10, e também o super-joker Dimitri Clayes, já com dois top 10 nesta prova.

Existe depois curiosidade para ver o que fará outro ex-vencedor da Ronde, Peter Sagan. O Hulk de Zilina parece estar a recuperar as melhores sensações depois da infeção por covid-19, embora possivelmente seja ainda muito cedo para o ver a disputar este monumento.

O rol de homens credenciados para este género de provas continua de forma bem extensa, pelo que deixamos aqui mais alguns nomes, embora seja difícil de ver algum deles a ameaçar seriamente a vitória, face aos corredores já citados. Falamos de: Anthony Turgis, Christophe Laporte, Sonny Colbrelli, Sep Vanmarcke, Giacomo Nizzolo, Ivan Garcia Cortina, Dylan Teuns, Nils Politt, Ethan Hayter, John Degenkolb, Alberto Bettiol, Mads Pedersen, Davide Ballerini, Warren Barguil, Luke Rowe, Valentin Madouas, Bryan Coquard, Michael Valgren, e Loic Vliegen.

Quanto à representação lusitana para este monumento, estará entregue a André Carvalho e Rui Oliveira. O corredor da Cofidis irá ter uma jornada de trabalho em prol da formação francesa, enquanto o ciclista da UAE-Team Emirates, que esteve em franco destaque na Através da Flandres, levanta alguma curiosidade sobre as suas possibilidades de poder brilhar neste palco tão especial. É de prever um dia de menos liberdade e de trabalho intenso em favor da dupla de líderes, Trentin/Kristoff, mas é impossível de não sonharmos com um “upgrade” ao 18º lugar de Nelson Oliveira na Ronde de 2017!

Favoritos Ciclismo Mundial

⭐⭐⭐⭐⭐ Wout van Aert
⭐⭐⭐⭐ Mathieu van der Poel e Julian Alaphilippe
⭐⭐⭐ Florian Sénéchal, Kasper Asgreen, e Yves Lampaert
⭐⭐ Matteo Trentin, Michael Matthews, Alexander Kristoff, e Greg van Avermaet
⭐ Dylan Van Baarle, Søren Kragh Andersen, Stefan Küng, Oliver Naesen, Tom Pidcock, Tiesj Benoot, Dimitri Clayes, e Peter Sagan

Presença Portuguesa

Rui Oliveira, dorsal 117, da UAE Team Emirates e André Carvalho, dorsal 145, da Cofidis, são os epresentantes portugueses na corrida.

Transmissão em Direto

Podes acompanhar a corrida em direto a partir das 9h da manhã na Eurosport1!

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