Conseguirá alguém parar o Wolfpack?
Disputa-se hoje a 83ª edição da clássica Gent – Wevelgem in Flanders Fields, uma das mais emblemáticas provas belgas de um dia e que fecha o primeiro fim-de-semana das clássicas do empedrado da Flandres.
Depois das vitórias de Sam Bennett na Oxyclean Classic Brugge – De Panne e de Kasper Asgreen na E3 Harelbeke, segue-se agora a Gent – Wevelgem, uma clássica teoricamente para os sprinters, mas que serve também para muitos corredores afinarem agulhas antes das clássicas que se seguem, Dwars door Vlaanderen (Através da Flandres) e, principalmente, a Volta a Flandres, no próximo domingo.
Realizada tradicionalmente no último domingo de março, esta é uma prova com importantes pergaminhos na história do ciclismo. Em termos de recorde de vitórias, são 6 os ciclistas no topo da lista, todos com 3 triunfos: Robert Van Eenaeme (1936 1937, e 1945), Rik Van Looy (1956, 1957 e 1962), Eddy Merckx (1967,1970 e 1973), Mario Cipollini (1992, 1993 e 2002), Tom Boonen (2004, 2011 e 2012), e Peter Sagan (2013, 2016 e 2018).
O campeão em título desta prova é o dinamarquês Mads Pedersen, que não irá defender o seu título, uma vez que a Trek-Segafredo está fora da corrida, devido a um teste positivo de corona vírus na equipa norte-americana.
Para a edição de 2021, a Gent-Wevelgem apresenta uma jornada de 247km, a serem percorridos entre Ypres e Wevelgem. Apesar de ter um percurso relativamente menos duro que as restantes clássicas do empedrado, haverão ainda assim dificuldades suficientes ao longo do trajeto para causar ataques que podem decidir a corrida. Entre os vários bergs presentes no livro de prova, o destaque vai para o emblemático Kammelberg, um autêntico muro, com 700 m a uma pendente média 10,4%, com zonas a 21%! O Kammelberg será o último dos muros a ser ultrapassado, embora a derradeira passagem nesta subida esteja colocada a mais de 40 km da meta.
Apesar desta ser a clássica dos sprinters, pelo percurso não ser tão duro como o de outras clássicas flamengas, é bem sabido que nas estradas belgas muitos fatores podem decidir a corrida. Não só o piso em pavé, ou os íngremes bergs, mas também o clima pode influenciar de forma dramática e decisiva o desfecho das provas da primavera belga do ciclismo. A Gent-Wevelgem até pode nem ter o percurso e o piso mais difíceis, mas tem um largo historial de corridas épicas em função do clima rigoroso. As previsões para esta edição da prova apontam para a possibilidade de vento forte durante a jornada.
Favoritos
Esta é uma prova que favorece os sprinters, mas onde os ataques podem dinamitar a corrida e afastar os homens mais rápidos e pesados da discussão pela vitória. No ano passado, a prova foi bastante atacada, o que impossibilitou qualquer chance de um final ao sprint, com Mads Pedersen a acabar por ser o mais forte de um grupo de favoritos que se conseguiu isolar com mais de 70 km para o final.
Um dos grandes impulsionadores das movimentações que decidiram a corrida de 2020 foi o campeão holandês Mathieu Van der Poel, ele que seria um lógico candidato a vencer este ano. No entanto, o gigante da Alpecin – Fenix optou por saltar esta corrida, tendo em vista a sua preparação para a Volta a Flandres, onde irá defender o título conquistado no ano passado.
Sem Mathieu Van der Poel, e com uma startlist com muitos e bons sprinters, é previsível que a corrida seja menos atacada que no ano passado e mais controlada pelas equipas dos homens rápidos.
Tal como em tantas outras corridas, em especial nas clássicas, a equipa-chave para esta prova é a Deceuninck – Quick Step. A powerhouse belga joga em casa nestas semanas, não apenas por correr na Bélgica, mas porque se trata da formação com maior historial nas provas desta apaixonante época de ciclismo, reunindo ano após ano um conjunto de atletas que está como peixe na água neste género de provas. Para já, a equipa leva um aproveitamento de 100% nas clássicas flamengas, com vitórias em De Panne e Harelbeke, e quererá certamente manter a sua veia vitoriosa.
Mais uma vez, a tática da Deceuninck será, muito provavelmente, um dos fatores fulcrais para a decisão da prova. O Wolfpack apresenta-se sem Asgreen, Sénéchal (que foi 2º o ano passado), ou Alaphilippe, mas traz Stybar, Lampaert, e a dupla de velocistas Sam Bennett e Davide Ballerini. Apesar de poder ter em mente atacar a corrida desde cedo, o plano A da formação belga, ou pelo menos aquele onde poderá despender a maior dose do seu esforço, será mesmo o de um sprint em pelotão mais ou menos compacto.
Apesar das várias possibilidades de decisão da corrida, o peso das equipas dos sprinters leva a crer que o cenário mais provável seja mesmo o de um sprint massivo, onde o maior favorito terá de ser Sam Bennett. O irlandês é conhecido pela sua irregularidade, sendo capaz de exibições tremendas ou de colapsos completos nos dias de maior dificuldade, mas neste momento a sua forma é inegável e o seu nível de confiança deverá estar bastante elevado, pelo que terá tudo para capitalizar a sua forma nesta prestigiante corrida.
O grande adversário de Sam Bennett poderá muito bem ser outro sprinter em grande forma nesta temporada, o belga Tim Merlier, da Alpecin-Fenix. Sem Van der Poel, a equipa belga irá apostar todas as suas fichas no sprint em grupo compacto, onde terá duas cartas importantes, para jogar: Merlier e Jasper Philipsen, embora o líder deva ser o primeiro.
À falta de nomes como Van der Poel ou Alaphilippe, um dos homens-chave para esta prova é, obviamente, Wout Van Aert, da Team-Jumbo Visma. O King Kong de Herentals não conseguiu brilhar na Milão-Sanremo e na E3 da mesma forma que fez no Tirreno-Adriático, mas está entre os óbvios candidatos a vencer, ele que o pode fazer tanto a partir de um ataque de longe, como de um sprint compacto. A tática de corrida do belga será outros dos fatores preponderantes que irão decidir a corrida.
Se a Deceuninck e Van Aert se movimentarem de longe, em conjunto com outras equipas, dificilmente teremos um sprint, mas se o dia for relativamente calmo, estes protagonistas deverão inclusive trabalhar para um final em pelotão.
Para um sprint em massa, temos uma grande panóplia de candidatos a baterem-se pela vitória, a começar logo pelo nº 2 da Deceuninck, Davide Ballerini. Se Bennett não estiver na frente perto do final, o italiano pode aproveitar o forte comboio belga para se impor depois de um dia duro em cima da bicicleta.
Refiram-se ainda os nomes de Arnaud Demare, Giacomo Nizzolo, Michael Matthews, Alexander Kristoff, Matteo Trentin, e Pascal Ackermann, como sprinters que num bom dia poderão discutir a corrida. De notar que há ainda vários outros homens rápidos neste pelotão, embora seja difícil de vê-los a triunfar neste tipo de jornada. Falamos de nomes como Christophe Laporte, Jasper Philipsen, Bryan Coquard, Sonny Colbrelli, Ivan Garcia Cortina, Danny van Poppel, Timothy Dupont, John Degenkolb, Cees Bol, ou Phil Bauhaus.
Se a prova acabar por ser decidida através de ataques ao longo da jornada, os maiores candidatos à vitória, além de Wout Van Aert, são os homens da Deceuninck, em especial Yves Lampaert e Zdenek Stybar. Além do belga e do checo, nomes como Soren Kragh Andersen, Greg Van Avermaet, Oliver Naesen, ou ainda Anthony Turgis, Sep Vanmarcke, Dylan Van Baarle, ou Stefan Küng, poderão estar na discussão desta icónica competição.
Em relação aos portugueses em prova, serão André Carvalho, na Cofidis, e Ivo Oliveira, na UAE-Team Emirates, que deverão ter um dia de trabalho para os seus líderes, Christophe Laporte e Alexander Kristoff, respetivamente.
Favoritos Ciclismo Mundial
⭐⭐⭐⭐⭐ Sam Bennett
⭐⭐⭐⭐ Tim Merlier e Wout van Aert
⭐⭐⭐ Davide Ballerini, Arnaud Demare, e Giacomo Nizzolo
⭐⭐ Michael Matthews, Alexander Kristoff, Matteo Trentin, e Pascal Ackermann
⭐ Yves Lampaert, Zdenek Stybar, Søren Kragh Andersen, Greg van Avermaet, e Oliver Naesen
Presença Portuguesa
Dois portugueses alinharam à partida da corrida: André Carvalho (Cofidis) com o dorsal 105 e Ivo Oliveira (UAE Team Emirates) com o dorsal 156.
Transmissão em Direto
Podes acompanhar a corrida em direto na Eurosport1 a partir das 13h15!