Três galos para um poleiro!

Disputa-se hoje a 112ª edição da Milano – Sanremo, uma das mais emblemáticas e prestigiantes provas do calendário velocipédico internacional.

O primeiro dos 5 monumentos do ciclismo apresenta, este ano, uma distância de 299km que serão percorridos, como é norma, entre as cidades de Milão, no coração da região Norte de Itália, e de Sanremo, icónica localidade da costa mediterrânica e da Riviera Italiana, em particular.

A distância da prova ronda normalmente os 300km de extensão, com variações decorrentes das diferentes opções de percurso e das subidas a serem ultrapassadas.

Os primeiros km de prova serão maioritariamente planos até que, sensivelmente a meio do percurso, surge o Colle del Giovo (5 km a 2.8%), um pequeno aperitivo para a derradeira metade do percurso. Nos 60km finais, os ciclistas irão enfrentar várias subidas, que terão um impacto mais ou menos decisivo na corrida: Capo Mele (1.9km a 4.2%), Capo Cervo (1.9km a 2.8%), Capo Berta (1.8km a 6.7%), seguindo-se as míticas ascensões da Cipressa (5.6km a 4.1%) e do Poggio (3.6km a 3.6%).

Perfil da Milano – Sanremo
Perfil e altimetria dos últimos 27.2km

A Milano – Sanremo é conhecida como sendo o monumento com o percurso mais fácil, mas aquele que é o mais difícil de ganhar. De facto, as inclinações das subidas desta prova e o tipo de piso tornam a prova mais acessível que a Paris – Roubaix, o Tour de Flanders, a Liége – Bastogne – Liége, ou o Giro di Lombardia, sendo possível que os sprinters puros consigam sobreviver e discutir a vitória. No entanto, preparar um sprint e realizar o mesmo após 300km de corrida intensa pelas estradas italianas não é o mesmo que sprintar nos Campos Elísios! Mesmo resistindo às subidas, nem todos os homens rápidos que habitualmente discutem etapas ao sprint têm capacidade para ainda discutir a vitória na Via Roma.

Favoritos

A edição deste ano da Clássica da Primavera surge num contexto particular, que nos faz apontar com alguma dose de confiança para a possibilidade de a corrida ser decidida pelos ataques no Poggio. Isto deve-se ao triunvirato de estrelas que vai impondo a sua lei na maioria de provas onde participa: Wout Van Aert (Jumbo – Visma), Mathieu Van der Poel (Alpecin – Fenix), e Julian Alaphilippe (Deceuninck – Quick Step).

Olhando ao que se tem passado nos últimos anos de Milano – Sanremo, com as subidas a ditarem os vencedores, a presença deste trio de peso faz com que a tarefa dos sprinters se torne ainda mais difícil para esta corrida.

Assim, o cenário mais provável será o de um pequeno grupo de isolar no cimo do Poggio, grupo esse que pode muito bem ser composto pelos três colossos. Acresce o facto de qualquer um dos três descer bem, pelo que se colaborarem a caminho de Sanremo, podem conseguir discutir o sprint entre eles.

Van der Poel e Alaphilippe são mais explosivos nas subidas e tentarão certamente fazer a diferença para Van Aert no Poggio. O belga, por sua vez, quererá fazer o mesmo que o ano passado, aguentando na subida sem perder muito terreno, colando na descida, e depois finalizando em potência sobre a meta. A forma de Van Aert é inegável, como o demonstrou no contrarrelógio final do Tirreno Adriático onde bateu toda a concorrência, incluindo o Campeão Europeu, Stefan Küng, e o Campeão Mundial, Filippo Ganna. Além disso, se houver reagrupamento antes da meta, WVA continuará a ser um dos favoritos a vencer ao sprint, uma disciplina onde está também entre os melhores da atualidade, como mostrou no 1º dia da Corrida dos Dois Mares.

Assim, Wout Van Aert é o nosso favorito para a vitória na Milano – Sanremo de 2021, o que significaria que o belga se tornaria no primeiro atleta a revalidar o título depois de Erik Zabel, em 2000 e 2001. Esta será, com toda a certeza, mais uma grande motivação para o King Kong de Herentals.

O grande rival de WVA pode muito bem ser o seu grande Némesis, o rival de longa data, o Godzilla de Kapellen, Mathieu Van der Poel. O campeão holandês está também ele num grande momento, como ficou patente na estrondosa vitória depois de 50km em solitário na etapa 5 do Tirreno Adriático, e tem nesta clássica um dos grandes objetivos da temporada, e também da carreira. Irá o gigante da Alpecin – Fenix atacar de longe, quem sabe na Cipressa? Note-se que MVDP é também muito forte em sprints após longas e duras jornadas, pelo que será também um grande candidato se o pelotão alcançar os atacantes antes do final.

O terceiro favorito é, claro está, o campeão mundial de ciclismo, o caçador de monstros, Julian “Loulou” Alaphilippe. A tarefa do francês não será fácil perante os dois titãs já mencionados, seja para os descolar no Poggio, seja para conseguir batê-los num sprint plano. De qualquer forma, Alaphilippe tem a potência e a classe necessárias para bater qualquer ciclista neste tipo de provas, e é alguém que sabe o que é vencer esta corrida. Além disso, no ano passado, o francês mostrou ser o mais forte nas subidas e por pouco não batia Wout Van Aert no sprint final que favorecia claramente o belga. Note-se também que Loulou procura ser o primeiro Campeão Mundial a vencer a prova desde Beppe Saronni, em 1983!

Refira-se que a Deceuninck – Quick Step apresenta um alinhamento de sonho para esta corrida. Além de Julian Alaphilippe, a equipa traz possivelmente o melhor sprinter do mundo, Sam Bennett, acompanhado de outro homem rapidíssimo, Davide Ballerini. Junte-se Kasper Asgreen, Tim Declercq, Yves Lampaert, e Zdenek Stybar, e estamos perante uma verdadeira constelação de estrelas e um autêntico quem-é-quem das clássicas.

O plano A da equipa deverá ser proteger Alaphilippe e esperar que o francês faça a diferença no Poggio, com o plano B a ser o sprint compacto, onde terá um comboio de luxo. Mesmo que Bennett não aguente as últimas subidas, Ballerini será um óbvio candidato à vitória.

Outro dos principais favoritos à vitória é o australiano Michael Matthews (Team BikeExchange), que já fez 3º por duas ocasiões nesta prova. “Bling” é um dos grandes favoritos a vencer ao sprint, mas é alguém que poderá também tentar aguentar junto dos melhores no Poggio.

Entre os homens que se podem bater no Poggio e que terão uma palavra a dizer num sprint num grupo reduzido estão Maximilian Schachmann, que deverá ser a principal aposta da BORA – hansgrohe, em virtude do nível menos bom de Peter Sagan, mas também Tom Pidcock (Ineos Grenadiers), a jovem estrela das clássicas, mais um colosso do ciclocrosse, que tão bem esteve na Kuurne – Brussel – Kuurne e na Strade Bianche. Uma palavra também para o campeão colombiano Sergio Higuita (EF Education – Nippo), que está a trepar a nível muito bom, sendo um homem que consegue fechar com um sprint forte.

Embora a tendência dos últimos anos não os favoreça, esta é a clássica dos sprinters, pelo que são muitos os grandes nomes do sprint que se concentram na startlist, muitos deles homens bem experimentados nesta e noutras provas. Num dia bom destes ciclistas e das suas equipas, o pelotão irá passar a Cipressa e o Poggio com um número relativamente elevado de corredores e a probabilidade dos puncheurs triunfarem será diminuta.

Falamos de: Giacomo Nizzolo, Magnus Cort, Arnaud Demare (último puro sprinter a triunfar, em 2016), Sonny Colbrelli, Alexander Kristoff, Ivan Garcia Cortina, John Degenkolb, Christophe Laporte, Elia Viviani, Matteo Trentin, Nacer Bouhanni, Caleb Ewan, Peter Sagan, Niccolo Bonifazio, Andrea Vendrame, ou ainda Jasper Stuyven, Fernando Gaviria, Davide Cimolai, Hugo Hofstetter, Ben Swift, Fabio Felline, Andrea Pasqualon, ou Pascal Ackermann, embora a menção ao alemão se deva mais ao seu estatuto do que a outra coisa. O alemão está bastante irregular esta temporada e muito provavelmente a equipa irá apostar em proteger Schachmann e Sagan.

Refiram-se ainda ciclistas que podem surpreender de diferentes formas ao longo do dia, nomeadamente Quinn Simmons, Alex Aranburu, Alberto Bettiol, Greg van Avermaet, Tim Wellens, Michal Kwiatkowski, Oliver Naesen, ou ainda Vincenzo Nibali, embora seja difícil para o Tubarão de Messina de repetir o feito de 2018. Numa nota final, apesar de não se antever uma tarefa nada fácil, queremos incluir também o nome de Philippe Gilbert, que procura juntar-se ao grupo de elite que conseguiu vencer os 5 monumentos, onde apenas 3 ciclistas estão presentes: Rik Van Looy, Eddy Merckx e Roger De Vlaeminck.

O único português em prova é Nelson Oliveira, ciclista da Movistar, que terá um dia de trabalho em prol da sua equipa e do líder para esta corrida, Ivan Garcia Cortina.

Favoritos Ciclismo Mundial

⭐⭐⭐⭐⭐Wout van Aert
⭐⭐⭐⭐ Mathieu van der Poel e Julian Alaphilippe
⭐⭐⭐ Sam Bennett, Davide Ballerini, e Michael Matthews
⭐⭐ Maximilian Schachmann, Tom Pidcock, Sergio Higuita, e Giacomo Nizzolo
⭐ Magnus Cort, Arnaud Demare, Sonny Colbrelli, Alexander Kristoff, Ivan Garcia Cortina, John Degenkolb, Christophe Laporte, Elia Viviani, Matteo Trentin, Nacer Bouhanni, Caleb Ewan, Peter Sagan, Niccolo Bonifazio, Andrea Vendrame, Quinn Simmons, Alex Aranburu, Alberto Bettiol, Greg van Avermaet, Tim Wellens, Michal Kwiatkowski, Oliver Naesen, Vincenzo Nibali, Jasper Stuyven, Fernando Gaviria, Davide Cimolai, Hugo Hofstetter, Ben Swift, Fabio Felline, Andrea Pasqualon, Pascal Ackermann, e Philippe Gilbert

Transmissão em Direto

Podes acompanhar a corrida em direto na Eurosport1, a partir das 11h30.

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