Guia da Vuelta 2022 – Parte 3: A concorrência é dura, mas o tuga não pode ser subestimado!
Chegamos ao fim do nosso guia da La Vuelta 2022, desta feita com os nossos palpites para os favoritos em prova. A Vuelta, sendo a última do ano, junta muitas vezes os corredores que brilharam no Giro e no Tour ou os que não conseguiram fazê-lo. Este ano não é diferente, ainda que a corrida não tenha nenhum dos grandes protagonistas do Tour. Com uma das edições mais equilibradas dos útlimos anos, com montanha, e um contrarrelógio significativo, a corrida promete espetáculo e lutas intensas até aos últimos dias!
Com o contrarrelógio coletivo de 23km logo a abrir, a Vuelta começa um desafio significativo para os aspirantes à geral que não sejam bons neste tipo de exercícios ou que não tenham uma equipa suficientemente capaz. É um contrarrelógio longo para os padrões de La Vuelta, e quando combinado com o complicado circuito no centro da cidade, há a possibilidade de alguns grandes nomes perderem tempo significativo.
Todavia, perder mais de um minuto na etapa de abertura da Vuelta nem sempre significa game over. Com etapas de montanha espalhadas ao longo da corrida, os trepadores puros têm a oportunidade de recuperar o tempo para os seus rivais, que são mais fortes no contrarrelógio. A corrida deste ano apresenta três chegadas em alto na primeira semana, o que pode dar a alguns a oportunidade que necesitam para recueprar tempo e volta a entrar na luta pela camisola vermelha, mas as diferenças não serão assim tão grandes. O problema desta edição é que logo abrir a segunda semana há um contrarrelógio de 30km, que prejudica os puros trepadores e que pode beneficiar as estratégias dos mais completos.
No final da etapa 10 deveremos ver algumas diferenças superiores a 2 minutos entre alguns líderes, o que levará a uma grande batalha nas duas etapas finais dessa semana, em Jaen e na Serra Nevada, na etapa rainha. A terceira semana terá dificuldades, mas tirando a etapa 20, que já roubou a vitória a Tom Dumoulin, pode não haver tanta facilidade a roubar tempo e a criar grandes dificuldades. Ainda assim as etapas 19 e 20 são otimas para as equipas criarem emboscadas aos adversários.
Os Favoritos
O atual campeão em título, Primoz Roglic, é sempre um dos grandes favoritos, mesmo ainda não estando a 100% após a desistência por lesão do Tour de France. A sua autodeterminação, e uma equipa forte ao seus dispor, ajudarão e muito o esloveno a brilhar!
Curiosidade: Se vencer, igualará o recorde de Roberto Heras, vencendo 4 Vuelta’s e tornar-se-á um dos três corredores a vencer quatro edições consecutivas de uma grande Volta, o primeiro na Vuelta.
A Ineos vem para esta Vuelta com 4 ciclistas capazes de disputar a classificação geral. Claro que o líder é Richard Carapaz, mas ter Tao Geoghegan Hart, Pavel Sivakov e Carlos Rodriguez como suporte é um luxo! A Ineos poderá dar-se ao luxo de experimentar várias táticas distintas ao longo da prova e jogar com os 3 corredores para ajudar Carapaz a cumprir o plano.
Curiosidade: Carapaz saiu da Movistar depois de vencer o Giro 2019, mas na Ineos nunca foi capaz de vencer uma grande volta. De saída quase assegurada da equipa britânica, esta será a derradeira oportunidade de alcançar esse triunfo.
Além de Roglic, Simon Yates é outro dos vencedores da corrida à partida. O britânico tentou assaltar o Giro, mas apesar das duas etapas vencidas, abandonou a prova na última semana. Um dos pontos fracos quando venceu a prova em 2018 era o contrarrelógio, mas o britânico melhorou drasticamente. A BikeExchange trouxe uma equipa para o apoiar, apesar de ter apenas um trepador, mas tudo farão para conquistar a Roja. Se estiver a menos de 1:30 na última etapa, Yates tentará de longe recuperar esse tempo.
João Almeida é dos corredores mais fortes presente. Não tem um historial de vitórias como os restantes, mas a sua consistência é um das suas maiores armas. Depois de 15 dias de rosa em 2020, com um 4º lugar na geral, e um 6º em 2021, com uma semana perdida no apoio ao “líder” Remco, Almeida foi para o Giro deste ano com grande ambição e só a Covid lhe tirou a oportunidade de entrar na lista de pódios de uma grande Volta.
O português vai estrear-se na Vuelta, ao fim da sua terceira temporada no World Tour, e apesar de assumir publicamente que não está tão forte como gostaria, o português não pode ser subestimado. A equipa poderia ter sido melhor, talvez com a presença de um capitão de equipa como Rui Costa, mas Jan Polanc terá de fazer esse trabalho. Soler, McNulty e Ayuso serão os seus braços direitos na média e alta montanha, e terá em Ivo Oliveira o seu maior apoio em diferentes terrenos.
A Vuelta terá as suas principais dificuldades em subidas longas, coisa que João adora e onde consegue estabelecer o seu ritmo caracteristicamente inquebrável, passando adversários até chegar à meta e bater-se pela vitória. Sierra Nevada e o contrarrelógio individual poderão ser duas das melhores etapas para o corredor português.
Jai Hindley é considerado uma séria ameaça para a camisola vermelha, ainda mais agora que é vencedor de um Giro. Depois de em 2020 ter ajudado a que João Almeida perdesse a rosa e ficasse com o seu primeiro lugar no pódio, em 2022 entrou forte e venceu o Giro, quando, na penúltima etapa, conseguiu quebrar Richard Carapaz. A Vuelta é diferente do Giro e é preciso estar sempre bem. O seu contrarrelógio não é assim tão forte e mesmo com um bom apoio nas montanhas, de Kelderman e Higuita, pode não ser suficiente para lutar contra os tubarões. Um pódio é esperado, mas a vitória pode ser dificil de alcançar.
Miguel Ángel López é outro dos candidatos às primeiras posições, e ainda mais quando a corrida entrar nas montanhas. O colombiano sairá muito prejudicado no contrarrelógio para tentar vencer a corrida, mas pode recuperar minutos nas várias etapas em alto. A Serra Nevada poderá ser a sua melhor hipótese para chegar ao pódio em Madrid.
Curiosidade: Com um Top3 quase garantido, Lopez abandonou a Vuelta de 2020 e deixou a Movistar desfalcada na penúltima etapa.
Remco Evenepoel disputará a sua primeira Vuelta e a sua segunda prova de três semanas. Com ele, o belga leva uma super poderosa Quick-Step, acompanhado por corredores como o campeão mundial Julian Alaphilippe. Com um ótimo desempenho nos clássicos e nas corridas de uma semana, as dúvidas sobre a sua capacidade em três semanas permanece. Em 2021 o Giro foi completamente falhado e a Quick-Step saiu completamente a perder. Ainda assim, a primeira semana pode ajudar a estar na disputa, num terreno em que o belga sai beneficiado.
Aos 27 anos, Enric Mas está numa das suas temporadas mais difíceis. Quedas no Tirreno Adriatico, Itzulia Basque Country e Critérium du Dauphiné reduziram a sua confiança, e no próprio Tour de France revelou medo nas descidas, nas quais perdeu tempo para os rivais. Depois de recarregar as baterias, tanto física quanto mentalmente, Mas aspira a sair-se bem numa corrida em que foi segundo por duas vezes, em 2018 e em 2021. Ao seu lado o espanhol terá Alejandro Valverde, que disputará a última Vuelta da sua carreira.