Guia da Vuelta 2022 – Parte 1: o tiro de partida para a última grande volta do ano e de Valverde!
O tempo passa a correr, o calendário ciclístico também e já estamos quase a entrar pelo outono adentro. Antes disso, a La Vuelta a España parte para a estrada para sua 77ª edição entre os dias 19 de agosto a 11 de setembro de 2022. Com partida e três etapas em solo neerlandês e chegada em Madrid, com uma etapa de consagração, a Vuelta oferecerá, como sempre, subidas maciças em cadeias montanhosas familiares dos Pirenéus, Sierra Nevada, Picos da Europa e outras áreas, bem como dias planos varridos pelo vento nas planícies áridas.
À partida para esta edição da Vuelta há uma certeza que paira no ar e na cabeça dos espanhois (e de todos os amantes do ciclismo): a despedida emocionante do fim de uma era de Alejandro Valverde (Movistar).
Valverde, que abdicou do Tour para concentrar todas as suas forças na prova espanhola antes da sua despedida, terá, aos 42 anos, três papeis importantíssimos nesta edição. Fechar da melhor forma possível a sua carreira, dar aos espanhóis alegrias com vitórias de etapa e ajudar a Movistar a salvar o seu ranking World Tour para se manter no nível máximo do ciclismo por mais 3 anos.
Devido à despedida de Valverde, em Espanha há um pânico generalizado com o término da sua carreira. Apesar de conseguir produzir corredores de bom nível, Espanha está a perder o poderio que durante o inicio deste século teve, com vitórias em Giro, Tour e Vuelta, Jogos Olimpicos e Mundiais. 2020 foi o primeiro ano desde 1996, em que nenhum corredor espanhol venceu uma etapa na sua corrida.
Data powered by FirstCycling.com
A viagem de 3285km entre Utrecht e Madrid
Esta edição da Vuelta brinda-nos com um regresso da etapa 21 corresponder a uma etapa de consagração, com chegada à Plaza Cibeles, local mítico de festejos de triunfos nacionais. Os espanhóis estão cientes que é quase impossível um espanhol vencer a prova, mas Valverde terá de certeza um lugar no pódio, com um prémio de carreira ou a vitória na combatividade para se despedir assim da sua grande carreira!
Ao todo, a Vuelta deste ano cobrirá 3284.4km, terá 48561m de desnível positivo acumulado e visitará 9 das 15 regiões da Espanha. Para completar todos estes dados,o perfil contará com 8 etapas de montanha, 7 das quais com final em alto, 5 etapas de média montanha, 6 etapas planas, 1 contrarrelógio individual e 1 contrarrelógio coletivo. Esta é uma rota equilibrada e que favorecerá os ciclistas mais polivalentes, aqueles que podem brilhar em subidas íngremes, superar os contrarrelógios e vencer sprints reduzidos.
A aventura de três semanas deste ano pela Espanha começará pela quarta vez fora de portas, a segunda nas planícies neerlandesas. Depois de em 2009 a prova espanhola ter tido o seu tiro de partida em Assen, este ano Utrecht receberá um contrarrrelógio coletivo, que promete aquecer os motores e a luta pela geral desde o primeiro km. Depois de três dias no “exterior”, a corrida vai para “casa” e logo para a dureza ao redor do País Basco e das Astúrias.
A passagem por essas regiões inclui a longa subida até ao Pico Jano e a parede super íngreme de Les Praeres Nava, numa primeira semana que promete ser tudo menos calma. Para arrancar com a segunda semana, nada melhor que um contrarrelógio individual para redefinir a corrida antes do “passeio” ao longo da costa Andaluza. A montanha logo volta na etapa 12, com os corredores a terem depois que ultrapassar a cordilheira da Sierra Nevada, que quebra as nuvens no meio da segunda semana. A corrida terminará com uma terceira semana imprevisível no centro da Espanha que, sem dúvida, decidirá quem será o campeão de 2022, com o vento a poder entrar no jogo e gerar decisões importantes.
Etapa | Perfil | Dia | Kms | Início e Fim |
---|---|---|---|---|
01 | 19.Aug | 23.2 | Utrecht-Utrecht | TTT | |
02 | 20.Aug | 175.1 | ‘s-Hertogenbosch-Utrecht | |
03 | 21.Aug | 193.2 | Breda-Breda | |
04 | 23.Aug | 153.5 | Vitoria-Gasteiz-Laguardia | |
05 | 24.Aug | 187 | Irun-Bilbao | |
06 | 25.Aug | 180 | Bilbao-Ascensión al Pico Jano. San Miguel de Aguayo | |
07 | 26.Aug | 190.1 | Camargo-Cistierna | |
08 | 27.Aug | 154.5 | La Pola Llaviana/Pola de Laviana-Colláu Fancuaya | |
09 | 28.Aug | 175.5 | Villaviciosa-Les Praeres. Nava | |
10 | 30.Aug | 31.1 | Elche-Alicante | |
11 | 31.Aug | 193 | ElPozo Alimentación-Cabo de Gata | |
12 | 1.Sep | 195.5 | Salobreña-Peñas Blancas. Estepona | |
13 | 2.Sep | 171 | Ronda-Montilla | |
14 | 3.Sep | 160.3 | Montoro-Sierra de La Pandera | |
15 | 4.Sep | 148.1 | Martos-Sierra Nevada | |
16 | 6.Sep | 188.9 | Sanlúcar de Barrameda-Tomares | |
17 | 7.Sep | 160 | Aracena-Monasterio de Tentudía | |
18 | 8.Sep | 191.7 | Trujillo-Alto del Piornal | |
19 | 9.Sep | 132.7 | Talavera de la Reina-Talavera de la Reina | |
20 | 10.Sep | 175.5 | Moralzarzal- Puerto de Navacerrada | |
21 | 11.Sep | 100.5 | Las Rozas-Madrid |
A corrida de três semanas começará em Utrecht, nos Países Baixos, com um contrarrelógio coletivo, algo cada vez menos normal, mas que a Vuelta vai colocando de vez em quando no seu percurso. Com 23.4km e um perfil plano, o percurso parece feito para equipas que coletivamente são especialistas em contrarrelógio. O circuito em torno de Utrecht está longe de ser simples, com nada menos que 23 curvas, para beneficiar quem se sente confortável na cabra e dar uma valente dor de cabeça a quem não gosta deste tipo de etapas. Ganhará quem melhor fizer o trabalho de casa e quem arriscar para não perder o comboio da geral.
As etapas 2 e 3 terão uma geral definida e a luta será para os homens rápidos e pela boa colocação que os ventos neerlandeses poderão oferecer ao pelotão. A chegada ao sprint nesta duas etapas é previsível, mas as previsões meteorológicas irão definir os cenários do dia.
O País Basco e as Astúrias
Depois da viagem de regresso e do dia de pausa, a La Vuelta prossegue em Vitoria-Gasteiz com uns dias no País Basco. Esta região da Espanha é notória pelo seu terreno montanhoso e as suas colinas vão ser o palco principal da etapa 4 entre Vitoria-Gasteiz e Laguardia. O dia contará com 2500m de desnível positivo acumulado e uma subida nos últimos 15km pode fazer a diferença. No final, uma rampa até à meta deverá propiciar ataques e cortes de tempo. Este é também o dia em que devemos ver uma reorganização da geral.
A etapa 5 é um pouco mais montanhosa que a anterior e apresenta um circuito com poucos kms planos, prontos para romper as pernas do pelotão, com um circuito de 29.2km a ser percorrido por duas vezes nos últimos 60km. No papel, parece uma mini Clássica San Sebastián e, portanto, deve agradar aos corredores que costumam ter o destaque nessa corrida. Os especialistas em fugas irão certamente tentar aproveitar a oportunidade para vencer e, quem sabe, agarrar a camisola vermelha numa primeira fase da corrida, mas os candidatos à geral poderão também aproveitar para fazer diferenças.
A despedida do País Basco será na etapa 6, enquanto o pelotão se desloca em direção à primeira chegada em alto, na região de Cantabria. A etapa terá duas subidas categorizadas antes da ascensão final ao Pico Jano, mas nenhuma se compara a este desafio cantábrico que se estende por 12.6km com uma inclinação média de 6.5%. Será mais um dia importante na luta pela geral, e que deve definir ainda mais as diferenças entre todos eles.
Um dia depois, na etapa 7, o pelotão fará um percurso interessante entre Camargo e Cistierna que parece feito para os homens mais rápidos, mas que contará com uma longa primeira categoria na fase intermédia do dia. Com 21.8km e uma inclinação média de 5,4%, o Puerto de San Glorio é muito difícil para a maioria dos corredores mais pesados, mas também não deverá provocar mexidas na luta pela geral. Com a etapa 8 em mente, se o líder for alguém a lutar pela geral, então poderá abdicar e deixar alguém escapado envergar a camisola vermelha.
Na etapa 8, o terreno asturiano promete aquecer os motores e desgastar a equipa no controlo da etapa, com cinco subidas categorizadas ao longo do dia, e a primeira a começar logo ao km 3.4. A subida final ao Colláu Fancuaya, com 10.1km a 7,7% será decisiva e uma nova batalha será travada entre os principais candidatos à geral.
A nona e última jornada da primeira semana será um novo dia bastante cansativo, com quatro subidas categorizadas antes da final, coincidiente com a meta, a Les Praeres, com 3.8km a 12.4% de pendente média. Com um dia de descanso, mas com mais duas semanas pela fente, os homens da geral deverão esperar pela última subida para mexer na corrida e irem para o descanso com a liderança no bolso. Deveremos ver os corredores com mais dificuldade no contrarrelógio ao ataque, para diminuir as perdas que terão na etapa seguinte.
30km de contrarrelógio e uma viagem pela Andaluzia
Após um merecido dia de descanso na cidade costeira de Alicante, os corredores serão confrontados com o importante contrarrelógio individual. O percurso de 30.9 km entre Elche e Alicante é para os especialistas puros e deve dar a melhor oportunidade para punir os trepadores e construir assim mais diferenças na luta pela geral. A etapa 11 será de transição, com o pelotão a descer a costa da Andaluzia em direção a um provável sprint em Cabo de Gata.
Os holofotes passarão pela etapa 12, com mais uma chegada em alto em Peñas Blancas, com 19km a 6.3% de pendente média na única subida categorizada do dia. É um teste muito importante e que deverá criar mais diferenças entre os principais candidatos.
Um dia depois, na etapa 13, os mais rápidos voltarão a ter a sua oportunidade de brilhar. A etapa de 168.5km entre Ronda e Montilla é tão plana quanto possível para os padrões de Vuelta, e deve terminar em mais um grande final ao sprint.
Os dois dias seguintes podem ser os mais importantes da Vuelta deste ano. Na etapa 14, os ciclistas vão para a ínfame cordilheira de Sierra Nevada para uma chegada na Sierra de la Pandera – uma subida popular na Vuelta que surgiu por cinco vezes desde a sua primeira aparição em 2002. A subida começa com a segunda categoria de Puerto de los Villares, com 10.1km a 5.5%, após a qual surgirá um pequeno descando antes da primeira categoria propriamente dita com 8.5km a 7.7% de pendente média.
A etapa 15 será a etapa tainha da Vuelta, mesmo não possuindo tantas subidas categorizadas quanto outras etapas de montanha. É a única com uma chegada de categoria especial a Sierra Nevada com 22.1km a 6.7% de pendente média, num local onde a UAE Team Emirates costuma fazer os seus estágios e que por isso bem conhece. Antes disso, o pelotão terá que ultrapassar o Alto del Purche, com 8.5km a 7.6%, uma subida que irá desde logo desgastar as pernas do pelotão. A altitude e as temperaturas que a região atinge nesta altura poderão ser também um fator importante no rendimento dos ciclistas.
A semana decisiva
Após o último dia de descanso, as etapas 16 e 17 deverão ser para os sprinters e e para a fuga, respetivamente, sem grandes histórias na luta pela geral que deverá aguardar as suas oportunidades para os dias seguintes.
A etapa 18 será novamente destinada aos favoritos, com nova chegada em alto, agora no Alto de Piornal. A subida será feita por duas zonas diferentes, primeiro via leste, com 13.5km a 5%, e depois via oeste, com 13.3km a 5.5%. As duas subidas são praticamente idênticas e nenhuma é realmente difícil para criar grandes lacunas. Tendo em conta a proximidade a Madrid, a fuga deverá brilhar neste dia, também pela luta pela classificação da montanha, se ainda estiver em aberto.
É, supostamente, a etapa que Alejandro Valverde tem no calendário para conquistar a sua última grande vitória.
Com apenas 138km, a etapa 19 é a mais curta da corrida, excluindo a etapa de consagração entre Las Rozas e Madrid. Esta curta distância, combinada com duas subidas de Puerto del Piélag, com 8.8km a 5.8%, deve tornar o dia explosivo e o líder da corrida pode ser emboscado pelos seus rivais.
A etapa 20 trará as últimas decisões da corrida, num dia com 4000m de desnível positivo acumulado e cinco subidas categorizadas. O Puerto de Cotos, com 10.4km a 5.4% será a última subida da Vuelta, com a seu topo a menos de 6km da meta. Quem passar a subida na frente terá ainda algum terreno para percorrer até à meta, e as junções poderão acontecer se as diferenças forem curtas.