João e Nelson à conquista do vulcão mágico!

Disputa-se dentro de algumas horas a vertente masculina da prova de fundo do ciclismo de estrada dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, um dos eventos de maior destaque deste primeiro dia de competição! A partir das 3h da madrugada em Portugal Continental inicia-se a corrida olímpica, uma das mais emblemáticas provas do mundo velocipédico e que atribui um título que acompanha o vencedor até às próximas olimpíadas.

O percurso escolhido para esta edição dos Jogos consiste numa ligação de 234 km, com partida em Musashinonomori Park e com a meta colocada na pista da Fuji International Speedway. Pelo caminho, o pelotão enfrenta uma jornada quente e húmida, que terá tanto de dura como de cénica, incluindo uma subida a parte do emblemático Monte Fuji e incursões por outras ascensões da região!

Fuji International Speedway com o Monte Fuji em pano de fundo

Os quilómetros iniciais serão maioritariamente planos, com as dificuldades montanhosas a começarem com a subida para Doushi Road (4.3 km a 6.1%). Pouco depois, os corredores passam na curta ascensão para Kagosaka Pass (2.2 km a 4.7%), seguindo-se uma descida que os levará para as imediações do circuito de automobilismo no sopé do Monte Fuji. Em vez de entrarem no circuito, os ciclistas irão então subir a uma encosta do emblemático vulcão, pela via de Fuji Sanroku, uma dificuldade com 14.5 km a 6% de pendente média e com zonas acima dos 9%, descendo depois novamente em direção ao autódromo, onde cruzarão a meta pela primeira vez.

Os 60 km finais incluem duas subidas nas imediações da Fuji Speedway, sendo a primeira das quais aquela que pode servir de trampolim para a vitória. A ascensão para Mikuni Pass apresenta 6.8 km de extensão com uma inclinação média de 10.1% e diversas secções acima dos 12%! Depois deste topo, que está colocado a cerca de 30 km da meta, os corredores regressam a Kagosaka Pass (2.2 km a 4.7%), fazendo depois nova descida (diferente e menos perigosa do que na primeira passagem por Kagosaka) em direção à meta colocada no autódromo.

Note-se que dentro dos 5 km finais haverá uma pequena subida (1.4 km a 5.7%), que poderá suscitar algum ataque tardio, com o penúltimo quilómetro também ele em ligeira subida, antes dos metros finais em plano.

Perfil da prova de estrada dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020
A subida-chave para Mikuni Pass
Perfil dos 5 km finais

Favoritos

Apesar de poder atrair menos atenções que as Grandes Voltas, os Mundiais, ou os Monumentos, a corrida de estrada dos Jogos Olímpicos representa uma prova de prestígio inegável. Ainda para mais, tratando-se de um evento que apenas ocorre de quatro em quatro anos, a possibilidade de juntar uma medalha olímpica ao palmarés provoca um óbvio interesse em muitos dos grandes nomes do ciclismo internacional. Refira-se que o percurso deste ano será mais duro do que é habitual, o que irá favorecer os melhores trepadores do planeta. Será uma prova que irá, com toda a certeza, oferecer espetáculo e muita incerteza!

A lista de favoritos é extensa, com uma startlist recheada de grandes nomes, tornando-se difícil de apontar para um ciclista como óbvio favorito. O esforço da época ciclística, em particular tão pouco tempo depois do Tour, será um fator que irá baralhar aquilo que poderia ser a lógica habitual para uma clássica deste género. Noutra fase da época, nomes como Van Aert poderiam ser dados como favoritos destacados, no entanto, no caso do belga, o estratosférico Tour que protagonizou pode vir a passar fatura. Muitos outros fatores específicos condicionam a hierarquia de favoritos dentro do pelotão e mesmo dentro das próprias seleções. O caso mais claro é o da Eslovénia, com os seus dois monstros, qualquer um deles com classe e capacidade para poder levar o ouro.

Postas todas estas condicionantes, vamos dar o lugar de favorito nº 1 a um ciclista de renome mundial, alguém que se bate com os melhores ciclistas do globo olhos nos olhos, um atleta completo, que sobe bem, desce bem, sprinta bem, é inteligente, ousado, e ambicioso, e deverá estar num bom nível de forma, uma vez que não esteve presente no Tour. Falamos, obviamente, do “nosso” João Almeida, o Canibal das Caldas, ele que tentará alcançar o maior título da sua carreira e um dos maiores feitos da história do ciclismo nacional!

Recorde-se que o melhor resultado de sempre de Portugal na corrida de fundo das olimpíadas foi a prata de Sérgio Paulinho em Atenas 2004. Se João Almeida estiver em dia sim e conseguir rodar com os melhores durante todo o dia, será um óbvio favorito a bater toda a concorrência num sprint reduzido, como já mostrou ser capaz de fazer. A opção pelo ciclista de A-dos-Francos não se deve ao facto de ser um português, mas porque ele pode ser um dos homens mais perigosos para este dia e alguém que poderá esconder-se um pouco e tirar partido da marcação tática entre as equipas mais poderosas.

Importa notar que Portugal vai alinhar apenas com João Almeida e Nelson Oliveira, em função da opção questionável da UCI em basear o número de ciclistas por seleção nos rankings de 2019. As nações do topo do ranking como Bélgica, França, Espanha, Itália, e Países Baixos irão alinhar com cinco corredores, enquanto formações como a Eslovénia, Grã-Bretanha, Colômbia, Dinamarca, Alemanha, e Suíça terão quatro atletas na estrada, algo a que Portugal poderia aspirar se a UCI tivesse em conta os rankings de 2020.

João Almeida e Nelson Oliveira carregam as esperanças dos lusos na prova de estrada de Tóquio 2020

Refira-se que a opção lógica para a medalha de ouro seria um dos eslovenos, no entanto, é ainda uma incógnita como irá jogar a nação centro-europeia e qual o nível real dos dois líderes. No papel, o nº1 deveria ser Pogacar, mas com o desgaste acumulado do Tour, período durante o qual Primoz Roglic esteve a curar as suas ferias, a opção da equipa pode passar por dar liberdade a este último para procurar o ouro. Se Rogla tiver conseguido manter a forma com que se encontrava à partida para o Tour e se estiver totalmente recuperado das suas mazelas, será um grande candidato a bater toda a concorrência, seja nas subidas, seja mesmo num sprint em grupo reduzido.

A Eslovénia irá alinhar com dois dos grandes nomes do ciclismo mundial

Aquele que muitos apontam como grande favorito à vitória surge no 3º posto da nossa lista. Falamos, como é lógico, do King Kong de Herentals, Wout Van Aert, alguém que pode ser definido como um verdadeiro Merckx dos tempos modernos, com as devidas distâncias. O poderoso belga realizou mais um grande Tour, como se vai tornando seu apanágio, acumulando três vitórias de grande monta: etapa do Mont Ventoux, contrarrelógio final, e sprint nos Campos Elísios! Tantos anos depois do Canibal, seria difícil de acreditar que veríamos alguém a conseguir um feito deste género numa edição da Volta a França. Depois das medalhas de prata nas corridas de fundo e de contrarrelógio dos mundiais, este pode ser o grande dia de WVA nas corridas por seleções, e tão bem que ficaria o capacete dourado em conjunto com a tricolor belga!

A grande dificuldade de Van Aert será manter o contacto nas zonas mais íngremes das subidas do percurso, em especial em Mikuni Pass, onde os trepadores tentarão fazer a diferença, sendo que pode ser aqui que a fatura do Tour seja passada com juros! No entanto, o King Kong pode atacar de longe e se a corrida não for muito mexida e um grupo numeroso acabar por discutir a vitória, dificilmente alguém poderá bater WVA num sprint plano. No contexto atual não se pode excluir este monstro de vencer qualquer corrida em qualquer cenário!

Wout Van Aert será um dos grandes favoritos à conquista da medalha de ouro

Como referido, a opção da Eslovénia poderá ser Rogla mas poderá também ser aquele que é (sem dúvida) o melhor voltista do mundo e (a par de WVA) o melhor ciclista do mundo: Tadej Pogacar. Acabadinho de juntar mais um Tour de France à sua galeria de troféus, o Pequeno Pogi deverá estar a esfregar as mãos perante o exigente traçado dos Jogos de Tóquio. Se a corrida for relativamente tranquila e um grupo numeroso abordar a subida para Mikuni Pass, o jovem prodígio irá com certeza querer voltar a mostrar o seu nível e deixar todos para trás nas zonas mais duras!

Também a Bélgica terá dois nomes de destaque para esta corrida, com Remco Evenepoel a juntar-se a WVA no forte alinhamento da seleção, que será completado por Tiesj Benoot, Mauri Vansevenant, e ainda o dorsal nº 1 e campeão olímpico em título, Greg Van Avermaet, ele que se deverá limitar a ajudar os companheiros num circuito que o favorece ainda menos que há cinco anos, quando venceu no Rio de Janeiro de forma surpreendente.

Outros grandes candidatos a poder brilhar neste percurso são Adam Yates (Grã-Bretanha), David Gaudu (França), Alejandro Valverde (Espanha), Michael Woods (Canadá), Sergio Higuita (Colômbia), Rafal Majka e Michal Kwiatkowski (Polónia), Bauke Mollema (Países Baixos), Richard Carapaz (Equador), Marc Hirschi (Suíça), Maximilian Schachmann e Emanuel Buchmann (Alemanha), Dan Martin (Irlanda), Aleksandr Vlasov e Pavel Sivakov (Rússia), Richie Porte (Austrália) ou Simon Yates (Grã-Bretanha). Refira-se ainda o forte alinhamento da seleção italiana, que deverá apostar em ataques de longe de qualquer um dos integrantes: Alberto Bettiol, Giulio Ciccone, Gianni Moscon, Damiano Caruso, e Vincenzo Nibali. Note-se que o plano inicial seria apostar no Tubarão do Estreito, mas essa não deverá ser a melhor chance de vitória dos “azurri” face aos problemas físicos mais recentes de Nibali, que poderá até ser o último da hierarquia transalpina.

Esta será, obviamente, uma prova bastante aberta, com uma alargada panóplia de resultados possíveis. Importa ter em conta que o pelotão é relativamente curto pelo que será difícil para uma equipa ou mesmo duas ou três conseguirem manter a corrida sob controlo. No início da jornada formar-se-á uma fuga, em função das movimentações das seleções menos bem cotadas do ranking, com o pelotão a tentar manter a situação controlada, na medida do possível, possivelmente até Mikuni Pass. Aí, os grandes galos do pelotão deverão discutir a medalha de ouro, no entanto, não podemos excluir a hipótese de um dark-horse enganar as pretensões das grandes nações do ciclismo.

Será necessário ter atenção a nomes como Patrick Konrad (Áustria), George Bennett (Nova Zelândia), Alexey Lutsenko (Cazaquistão), Attila Valter (Hungria), Jakob Fuglsang (Dinamarca), Brandon McNulty (Estados Unidos da América), Tobias Foss (Noruega) ou a segundas linhas dos candidatos mais crónicos, nomeadamente Wilco Kelderman e Tom Dumoulin, nos Países Baixos, Guillaume Martin, na França, Esteban Chaves, na Colômbia, e Geraint Thomas e Tao Geoghegan Hart, na Grã-Bretanha.

Quem irá suceder a Greg Van Avermaet como campeão olímpico?

Favoritos Ciclismo Mundial

⭐⭐⭐⭐⭐ João Almeida
⭐⭐⭐⭐ Primoz Roglic e Wout Van Aert
⭐⭐⭐ Tadej Pogacar, Remco Evenepoel, e Adam Yates
⭐⭐ David Gaudu, Alejandro Valverde, Michael Woods, e Sergio Higuita
⭐ Rafal Majka, Michal Kwiatkowski, Bauke Mollema, Richard Carapaz, Marc Hirschi, Maximilian Schachmann, Emanuel Buchmann, Dan Martin, Aleksandr Vlasov, Pavel Sivakov, Richie Porte, Simon Yates, Alberto Bettiol, Giulio Ciccone, Gianni Moscon, Damiano Caruso, e Vincenzo Nibali

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