Quedas, Covid e uma geral em aberto: o principal da primeira semana do Giro d’Italia!
A primeira semana de Giro d’Itália terminou, e muita coisa aconteceu de que poderíamos falar. Mais do que abordar etapa a etapa, que o fomos fazendo diariamente, olhemos aos pontos positivos e negativos deste Giro, o que afetou os principais candidatos, e onde eles se destacaram. Quais foram as surpresas positivas e as desilusões, quem poderia ter estado melhor ou que exibições deram nas vistas e porquê? Fica desse lado porque é por aí mesmo que vamos começar!
Covid e as suas vítimas
Logo nos primeiros dias de Giro o Covid-19 voltou a aparecer e mandou já para vários ciclistas de renome! O maior destaque vai, claro, para Remco Evenepoel, que anunciou a desistência ontem ao início da noite, poucas horas após ter vencido um renhido contrarrelógio, e de ter regressado à liderança da corrida! Muito se especulou nas últimas 24h sobre este abandono inesperado, mas a saúde dos ciclistas segue sempre em primeiro lugar, e a decisão de deixar o Giro deverá ter sido muito difícil de tomar para um ciclista tão competitivo como Remco Evenepoel.
Nas entrevistas do dia de descanso, Geraint Thomas e João Almeida mencionaram que a saída de Remco é uma perda importante para a corrida e que isso irá mexer com as táticas das equipas nos próximos dias. Nenhum deles ficou particularmente agradado por verem um candidato ser forçado a abandonar desta forma a corrida, mas podia acontecer a todos, e por isso terão agora de se readaptar para os próximos dias, tendo bem presente a noção de que ainda há gente muito forte para disputar a geral.
Na lista dos abandonos seguem já também Filippo Ganna (INEOS Grenadiers) e Rigoberto Uran (EF Education – EasyPost), assim como alguns gregários de qualidade como Giovanni Aleotti (Bora – hansgrohe) ou Nicola Conci (Alpecin – Deceuninck). O número já registado de casos levou a organização da corrida, a RCS, a voltar a implementar as medidas restritivas que existiram durante a pandemia, com receio de que os restantes nomes de qualidade presentes pudessem abandonar e com isso condicionar o espetáculo.
Numa outra linha, Sven Erik Bystrom (Intermarche – Circus – Wanty) foi um dos ciclistas que deu positivo neste dia de descanso, mas após vários testes efetuados com os médicos da equipa, da corrida e da UCI, concluiu-se que está assintomático e não tem por isso qualquer contra-indicação à prática desportiva. Assim sendo, o norueguês vai alinhar na etapa 10, à luz do que os regulamentos para casos assintomáticos assim permitem.
Passividade na montanha
Na montanha assistimos a dois dias de corrida que foram algo apáticos. Os dois acabaram por ver a fuga triunfar, o primeiro dos quais colocou um surpreendente Andreas Leknessund (Team DSM) na liderança da geral ao quarto dia de prova, sem que os favoritos fizessem diferenças entre si. O mesmo aconteceu no dia 7, na primeira jornada de alta montanha, que trazia até um final acima dos 2000m de altitude. Todos quiseram fugir de obter a camisola rosa nesta fase da corrida, com medo de expôr as suas formações a vulnerabilidades que possam apresentar, e com isso tivemos dois finais bastante monótonos para os candidatos à geral.
A maior diferença surgiu no dia de média montanha antes do segundo contrarrelógio, onde Primoz Roglic (Jumbo – Visma) e a dupla da INEOS Grenadiers, Tao Geoghegan Hart e Geraint Thomas, conseguiram ganhar 14s aos adversários direitos, e ainda mais 20s a Aleksandr Vlasov (Bora – hansgrohe), que foi o maior derrotado desse dia. Talvez o bónus do contrarrelógio no dia seguinte tenha motivado as movimentações, já que todos esperavam que Remco Evenepoel ganhasse bastante tempo aos adversários, mas assim não sucedeu, e Geraint Thomas foi mesmo o mais beneficiado no conjunto dos dois dias. Com a desistência do belga, o britânico subiu à liderança da geral, e vai envergar esta terça a camisola rosa de líder, tendo um bloco com mais seis elementos ao seu lado (já sem Filippo Ganna) para o apoiar. Considerada por muitos a equipa mais forte na montanha, poderá a equipa britânica defender Thomas, ou irá sucumbir aos ataques adversários?
As quedas que tocaram a todos
O nervosismo da primeira semana acabou por provocar também várias quedas, e praticamente todos os candidatos ficaram afetados. João Almeida (UAE Team Emirates) foi dos primeiros logo, ao terceiro dia, mas conseguiu salvar a jornada e escapar sem mais que uns arranhões. Remco Evenepoel, Primoz Roglic e Aleksandr Vlasov tiveram o mesmo destino noutros dias, e acabaram por ficar também eles algo marcados, em especial o belga que foi duas vezes ao chão ao quinto dia, a segunda das quais por culpa própria.
Geraint Thomas não sofreu com quedas, mas teve duas avarias mecânicas em fases decisivas, pelo que o azar bateu mesmo à porta de quase todos eles da mesma forma. Se ao início se pensou que algum dos candidatos poderia ter ficado mais afetado e condicionado de lutar pela geral, o que é facto é que essas dúvidas parecem ter sido dissipadas sobre todos eles, e por isso a corrida segue na esperança de que ninguém mais volte a cair para que tenhamos o melhor espetáculo possível.
Nota ainda para a queda final na etapa 5, mesmo sobre o risco de meta, com um final bastante perigoso e em que a organização deveria ter tomado mais precauções para salvaguardar todo o pelotão.
Contrarrelógios sem grandes diferenças
Os dois contrarrelógios na primeira semana prometiam fazer mais diferenças, e a verdade é que acabaram por fazer muito menos que o esperado. O primeiro dia ainda viu Remco Evenepoel ganhar com uma margem importante, e João Almeida surpreender com um grande terceiro posto, mas o segundo, ao nono dia de prova, provocou muito menos diferenças que o esperado, num dia de muita chuva e mau tempo. A maior surpresa talvez tenha sido mesmo o grande tempo de Tao Geoghegan Hart, mas o britânico tem relevado uma maior consistência na especialidade, e desde o início de 2022 apenas apresenta um resultado fora do top20 em várias exibições contra o cronómetro.
Remco Evenepoel partiria para a etapa 10 com 1:07 sobre João Almeida, que era quinto no final do contrarrelógio, mas agora com a desistência temos Geraint Thomas com 2s sobre Primoz Roglic, com Tao Geoghegan Hart a 5s e João Almeida a 22s.
Temos todos os ingredientes em cima da mesa para duas semanas de muito espetáculo, com a geral completamente em aberto, e podemos olhar já para a etapa da próxima sexta como um dos dias mais importantes desta corrida, onde diferenças grandes se podem fazer!
Foto de Capa: Tim de Waele / Getty Images