Uno-X: Uma história de quem chegou do 0 ao Tour de France em 13 anos!
Foram revelados na manhã de ontem os dois wildcards atribuídos pela ASO para o Tour de France 2023. As escolhas recaíram sobre a norueguesa Uno-X Pro Cycling Team e a israelita Israel – Premier Tech, que assim se juntam às 18 equipas World Tour, assim como às Pro Continentais Lotto Dstny e TotalEnergies, que já tinham a presença assegurada devido aos pontos obtidos para o ranking UCI no ano transato. Se a Israel – Premier Tech teve duas vitórias de etapa na Grand Boucle de 2022, a norueguesa Uno-X estreia-se na seleção para Grandes Voltas, de forma muito merecida.
Começando pelos primórdios, a formação que hoje em dia se apelida de Uno-X Pro Cycling Team surgiu em 2010, sob o nome de RingeriksKraft, no escalão Continental, e somou apenas 11 pontos UCI nesse ano. Quem diria que 13 anos depois estariam na maior corrida do Mundo, certo? Até 2016, a denominação da equipa norueguesa permaneceu quase sempre semelhante, com a RingeriksKraft a manter na estrada um projeto que só em 2014 conseguiu a primeira vitória, quando o sueco Michael Olsson venceu o Campeonato Nacional de fundo do seu país.
Em 2017, e já depois de a segunda vitória ter surgido, com o norueguês Syver Waersted na Scandinavian Race de 2016, a Uno-X, uma empresa de postos de combustível a operar na Noruega e na Dinamarca associou-se como o principal patrocinador da equipa. A partir deste momento, a evolução, que já era consistente, tornou-se exponencial! Nesse mesmo ano, a equipa apareceu na prova de contrarrelógio coletivo do Campeonato do Mundo, a decorrer no seu país, e foi a 15ª de 17 formações, a mais de 5min da Team Sunweb, a grande vencedora. Apesar de o resultado não ser aqui o importante, foi o momento em que a formação norueguesa se anunciou pela primeira vez num grande palco!
2018 marcou um importante passo na evolução da Uno-X, quando a equipa se apresentou com um plantel muito jovem e muitos ciclistas Sub-23. Surgiram assim nomes como Tobias Foss, Andreas Leknessund ou Jonas Iversby Hvideberg, todos eles agora integrantes de equipas World Tour! No ano seguinte, Foss, ao serviço da seleção norueguesa, venceu o Tour de l’Avenir, confirmando assim o estatuto emergente da sua equipa, num ano em que, curiosamente, tinha sido quarto classificado na Volta ao Alentejo! Na corrida de casa, a Arctic Race of Norway, Markus Hoelgaard fechou num belíssimo sétimo posto da geral, e o sonho da Uno-X ganhou asas.
Todos estes resultados trouxeram um maior investimento da Uno-X, que via a formação por si patrocinada obter cada vez melhores resultados, e ser cada vez mais bem falada. Em 2020, a Uno-X tornou-se, 10 anos após a sua formação, uma equipa ProContinental e num ano inevitavelmente marcado pelo Covid-19, foi nos Campeonatos da Europa Sub-23 que viu os seus homens destacarem-se mais, quando Andreas Leknessund venceu a prova de contrarrelógio, e Jonas Hvideberg a prova de fundo!
Em 2021, a Uno-X participou pela primeira vez numa corrida do calendário World Tour, e não precisou de muito para marcar a sua posição. Foi logo na segunda prova do escalão máximo em que alinhou, a E3 Saxo Bank Classic, que Markus Hoelgaard concluiu no oitavo posto, que todos os olhos ficaram postos nas camisolas laranja e vermelhas da equipa nórdica, que surpreendia os olhares dos espectadores, ao conseguirem dar luta aos grandes nomes dos paralelepípedos. No Campeonato do Mundo, Johan Price-Pejtersen consagrava-se o novo titulado no contrarrelógio dos Sub-23, e colocava a equipa de novo no auge. As vitórias eram já 15, só neste ano de 2021 e o 23º posto no Ranking UCI desse ano só vinha confirmar uma coisa mais, a Uno-X tinha chegado para ficar!
Em 2022, a Uno-X teve um ano de afirmação, e apesar de até nem ter conquistado tantas vitórias como em 2021, surgiu em mais corridas World Tour, e mostrou-se a um nível altíssimo perante os adversários do escalão máximo. O vencedor do Tour de l’Avenir 2021, Tobias Haaland Johannessen, também ele já ao serviço da equipa norueguesa na temporada anterior, foi das figuras em maior destaque, ao ser sétimo na Volta a Catalunya, e décimo no Critérium du Dauphiné, ao lado do compatriota Rasmus Tiller, a maior figura nas clássicas, com um sexto lugar na Omloop Het Nieuwsblad e um 11º na E3 Saxo Bank Classic. As consistentes prestações, valeram à equipa norueguesa o 22º lugar no ranking UCI, colocando-a como a quarta melhor equipa ProContinental da temporada.
Assim, meus caros, surge uma merecida chamada da equipa norueguesa ao Tour de France. Numa temporada em que resgatam Alexander Kristoff, a maior figura do seu país após a retirada de Thor Hushovd, a Uno-X chega assim para mais uma temporada que promete muito, numa formação irreverente, quase toda ela abaixo dos 27 anos, sediada nos pilares da experiência de Kristoff, com 35, e do dinamarquês Lasse Norman Leth, com 30, que ajudarão a guiar estes jovens nos maiores palcos do Mundo!
Nos Campeonatos do Mundo, Soren Warenskjold sucedia a Price-Pejtersen com o arco-íris dos Sub-23, e nos Elites, era a prata da casa, agora ao serviço da Jumbo – Visma, Tobias Foss, a surpreender o Mundo e a conquistar o título Mundial! No carro de ambos, seguiam os diretores da equipa, Kurt-Asle Arvesen, também ele ex-ciclista, e Arne Gunnar Ensrud.
Num patamar também ele importante, 2022 viu nascer a equipa feminina da Uno-X, que, graças aos resultados e progressão do lado masculino, teve o financiamento necessário para ingressar logo no World Tour, e assim participar desde logo nas maiores corridas do Mundo! Em 2023, as duas equipas estarão à partida do Tour de France, marcando assim uma bonita história daquela que é a primeira equipa do seu país a competir em ambas as corridas!
A verdade, meus amigos, é que não sei que expectativas vocês colocam nesta equipa, ou se achavam possível sequer a chegada de um convite desta dimensão. Honestamente, também nunca expressei o quanto gosto de ver esta equipa competir para mais alguém que não a equipa que compõe este bonito projeto que é o Ciclismo Mundial. Talvez seja porque a primeira e única camisola de ciclismo que tenho é da Uno-X, mas não sei explicar… A única forma que consigo ver esta equipa competir é na forma do amor. Um amor ao ciclismo como não me lembro de ver do alto dos meus 22 anos (dito assim, até parece que já sou velho), mas que apaixona o adepto, e o prende ao ecrã, e o faz bater palmas estrada fora. Só assim se explica o feito da Uno-X.
“Como chegar ao Tour de France em 13 anos a partir do 0” podia ser o título de um livro qualquer sobre uma equipa, sobre um atleta, retratando uma história de superação, retratando o surgimento de uma entidade lendária na história do ciclismo. Esta é, porém, a história da Uno-X Pro Cycling Team, e neste livro, muito há ainda por escrever.