João Almeida: “Estou a ficar melhor, mas ainda não estou a 100%!”

O Ciclismo Mundial esteve presente na conferência de imprensa da UAE Team Emirates no segundo dia de descanso da La Vuelta a España, com a presença de Juan Ayuso e João Almeida que falaram sobre o que esperam da corrida e como podem jogar na última semana. Com vários jornalistas internacionais presentes, tivemos a oportunidade de lançar algumas questões a cada um dos ciclista, e este é o resultado da análise feita pelos líderes da equipa dos Emirados Árabes Unidos.

Ayuso, estás a 53s do top-3. Vês as “abelhas” como o teu maior obstáculo nesta terceira semana?

Juan Ayuso – Os três corredores da Jumbo – Visma tem estado bastante sólidos e não têm tido dias maus, e não é só os três no pódio, é também a equipa que está por trás deles, todos os colegas de equipa que eles têm. Eles são a equipa mais forte e estão num nível altíssimo, então, para eles, será fácil para controlar a corrida e impor o ritmo que eles querem. Estão num nível muito bom e um ataque de longe será bastante difícil, mas até chegarmos a Madrid qualquer coisa pode acontecer. Então, só temos de continuar a ter sensações positivas e continuar a tentar!

Ciclismo Mundial – Pensas que jogar com o Almeida e o Soler, mas também com as outras equipas que estão a lutar pela geral, pode ser uma vantagem para todos tentarem atacar a Jumbo – Visma?

Ayuso – Sim e não. No lado do Almeida e do Soler, claro, é bom tê-los, mas no final do dia, as outras equipas como a Bahrain e a Bora continuam a ser rivais. Claro que se houver uma situação em que possamos meter pressão na Jumbo – Visma ao trabalhar em conjunto, nós vamos fazê-lo, mas no fim da etapa, tu tens de ganhar contra a Movistar, contra a Bahrain e contra a Bora. Vamos tentar forçar situações em que talvez possamos colaborar na corrida, mas, como disse, no final do dia também são rivais!

Ao comparares os números nas subidas em relação ao ano passado, tu tens melhores números este ano?

Ayuso – Sim, no geral eu melhorei e penso que o que faz a diferença é que, no ano passado, também estava a entrar no segundo dia descanso com o quarto lugar, mas estava a 5min do primeiro. Este ano são cerca de 2 minutos e meio e grande parte disto tem é relacionado às grandes fugas, mas se vires o segundo e o terceiro lugar, estou a menos de 1 minuto e isto mostra que melhorei imenso, e estou feliz com isso.

CM – Nesta terceira semana temos a subida ao Angliru. Pode esta ser a etapa que define o vencedor desta Vuelta, ou tens outros planos para mudar a situação atual da classificação geral?

Ayuso – Boa pergunta! Eu penso que o Angliru pode ser a etapa que nos assenta melhor, porque a subida é a mais difícil. Ao dizer isto, quando chegarmos ao Angliru estar em comboio não é tão importante, ter três ciclistas como eles tinham no Tourmalet não é assim um grande efeito, pois estar na roda não é uma vantagem. Então para nós a melhor etapa é o Angliru, mas também penso sobre o dia depois deste, com o Puerto de la Cruz de Linares, que será ainda mais difícil que o Angliru, mas nesse dia há subidas que se estiveres na roda, isso ajuda.

Eu penso que o grande dia em que toda a gente vai tentar e atacar a Jumbo – Visma é no Angliru, por causa disto, porque seguir na roda não interessa e só espero que nesse dia eles não tenham as pernas e possa deixá-los para trás!

Tu és o líder da classificação da juventude, e neste momento pode-se dizer que não tens muita concorrência. Achas que se tudo correr bem, não terás competição nessa classificação?

Ayuso – Este ano eu sinto que a camisola branca é especial, é a primeira vez que é mesmo minha. No ano passado usei-a em quase toda a Vuelta, mas nunca era minha, era do Remco. Então, desta vez é a primeira vez que, numa grande volta, é realmente minha. Claramente é especial, mas penso que as ambições e o objetivo são o pódio e uma vitória de etapa, mais do que a camisola branca.

Preferias tentar segurar o quarto lugar ou tentar dar tudo pelo pódio, apesar de poderes perder esse lugar?

Ayuso – Nós já discutimos com o Matxin e a sua mensagem é um pouco isso, o pódio fiz no ano passado e não é que um quarto lugar seja um fracasso. No final, é como disse antes, estou em quarto lugar, mas estou mais perto do primeiro do que no ano passado. Significa que dei um salto e que estou mais sólido nas corridas, mas o resultado comparado com o ano passado… Eu fiquei no pódio, e este ano sou quarto. Se tenho de arriscar o meu quarto lugar para tentar ter uma vitória e isso me faça terminar em quinto, sexto ou sétimo, creio que não seja o fim do mundo. Prefiro isso a ficar em quarto e começar a pensar o que poderia ter acontecido se tivesse tentado!

Acreditas que agora és um ciclista mais respeitado dentro do pelotão por ter feito terceiro na Vuelta do ano passado?

Ayuso – Sim, eu creio que me veem um pouco diferente. No ano passado era muito jovem e diziam algo como “este é boa gente, mas vamos ver se é realmente bom ou não”, mas quando vais conseguindo bons resultados e obtens vitórias, começas a ser mais respeitado por todos no geral no pelotão. Essa é uma coisa que me dei conta, e que mudou em relação ao ano passado.

Olhando para as etapas das Astúrias, acreditas que apenas nestas vai haver um frente a frente com a Jumbo – Visma, ou ainda acreditas que na etapa 20, por ter um formato de clássica, possa ser uma etapa em que tudo pode mudar?

Ayuso – As Astúrias, no papel, pode ser onde a corrida se vai definir, e onde temos de tentar fazer as diferenças, mas existe uma possibilidade de que cheguemos a essa etapa 20 perto deles e aí façam-se mais diferenças que no resto da Vuelta! É como temos visto em outras edições, portanto, temos de passar nas Astúrias na posição que queremos e depois, ao chegar a Madrid, saberemos tudo no último dia.

João Almeida passou uma segunda semana de La Vuelta atribulada!

Ciclismo Mundial – Olá João, conta-nos como foi a tua última semana, pareceu como uma montanha-russa. Começaste com um grande contrarrelógio, depois ficaste doente e perdeste mais de 6 minutos, e terminaste na ofensiva no dia de ontem. Como viveste tudo isto?

João Almeida – A segunda semana da Vuelta não foi o ideal, não foi algo que gostei. Comecei bem, fiz um bom contrarrelógio e na etapa seguinte fiquei doente, isto acontece às vezes, mas não foi o ideal. Depois do Tourmalet só pensei em melhorar. Estou a ficar melhor, ainda não estou a 100%, mas vamos ver como correm os próximos dias.

O que tu esperas desta última semana. Achas que na Jumbo – Visma se podem atacarem uns aos outros e se tu ganharias alguma coisa com isso?

Almeida – Acho que não, penso que até agora querem trabalhar para o Kuss, porque ele me parece muito bem, por isso não os vejo uns aos outros a atacarem. Então, penso que temos de tentar algo, porque parecemos muito fortes. Nós não estamos aqui para terminar em quarto, então penso que como equipa temos de tentar algo e ver como isto corre. Isto vai ser uma última semana difícil e ainda há oportunidades para fazer a corrida mais difícil. Vamos ver como a corrida corre.

Nesta última semana, vais ter oportuindades para fugas e tentar uma vitória, ou vais ficar sempre no pelotão para ajudar o Ayuso?

Almeida – Eu tentei ir na fuga ontem, mas a Jumbo – Visma não me deixou sair, e eu penso que isso é bastante difícil para se fazer agora. Nós vamos ver como isto corre de dia para dia e nós vamos encontrar um plano eventualmente, mas eu não penso que consiga ir para uma fuga.

CM – Que etapa vês que pode ser a que vai fazer maiores diferenças na classificação geral? Poderia ser a subida ao Angliru a tal que pode definir o vencedor desta Vuelta?

Almeida – Eu penso que qualquer dia pode fazer diferenças, amanhã, Angliru, depois dessa que também é bastante difícil. Eu penso que há três ou quatro dias nesta última semana em que qualquer coisa pode acontecer e temos de encontrar uma boa oportunidade para atacar.

Historicamente as tuas terceiras semanas são as mais fortes, de que forma pensas atacar e ganhar tempos aos favoritos, bem como atacar a Jumbo – Visma que está muito forte?

Almeida – Normalmente sim, mas não tenho estado bem nestes últimos dias. Não me sinto especialmente bem, mas vou tentar dar o meu melhor, para fazer melhor. Depois também depende da nossa tática de equipa, acho que a minha consistência nesta última semana está uma incógnita devido ao que tem acontecido. Portanto vou dar o meu melhor e depois logo se vê como termina!

O que te fez continuar no Tourmalet?

Almeida – Bem, não sei, acho que tem a haver com a minha forma de correr, também é a minha última corrida esta temporada. Trazia grandes ambições para esta corrida, sentia-me bem, estava a tudo a correr bastante bem e deitar tudo a perder naquela etapa não é o meu estilo. Decidi continuar a sofrer o máximo que conseguia e ver como é que terminava. Claro que acabar em décimo, oitavo ou sétimo, ou o quer que seja, não vai fazer grande diferença, não é o meu objetivo. Mas dei o meu melhor e às vezes acho que isso é o mais importante.

Sobre o rumor da Vuelta em 2024 poder começar em Portugal, em Lisboa, como olhas para essa possibilidade e o que significa para o ciclismo nacional?

Almeida – Acho que seria muito bom, seria bastante bom, não sei se estarei à partida, mas começar em Lisboa seria um bocado diferente, acho que seria uma boa desculpa para fazer a corrida. Mas logo vemos quando sair verdadeiramente o traçado.

Tendo em conta esta terceira semana, qual seria a etapa que assentaria melhor às tuas características e possivelmente para uma vitória de etapa?

Almeida – Talvez o Angliru, acho que é uma etapa dura e a que me assenta melhor. A Jumbo – Visma também está muito forte e tudo depende dos adversários, mas sem ser essa etapa, não sei se a de amanhã também não é outra. É tudo uma questão de pernas, vai ganhar o mais forte nesta Vuelta e acho que qualquer etapa seria bom ganhar, mas não sei dizer assim uma etapa específica.

Acreditas que numa perspectiva de equipa com o Ayuso, ainda é possível o terceiro ou até mesmo o primeiro lugar, ou da forma como a Jumbo – Visma está a trabalhar, acaba por tirar um pouco de alento a quem está a disputar contra eles?

Almeida – Sim, acho que é possível, ainda acho que tudo é possível. Temos de fazer a corrida bem, para quando eles tiverem um dia mau e percam tempo, e a partir daí podemos ter o terceiro lugar com o Ayuso. Portanto, acho que é bastante possível e depois claro, a cada lugar que subimos, obviamente será cada vez mais difícil, mas acho que ainda é bastante possível.

CM – Poderia ser uma vantagem para ti, para o Ayuso e para o Soler, não só trabalharem em conjunto, mas também juntarem-se às outras equipa que lutam pela classificação geral para atacar a Jumbo – Visma?

Almeida – Sim, a única maneira para os atacar, é se trabalharmos em conjunto, como fizemos ontem. Então sim, vai ser difícil, mas nós temos de o fazer!

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