João Almeida: “Este ano a preparação foi muito melhor! Vamos ver como corre!”
O Ciclismo Mundial esteve presente na conferência de imprensa da UAE Team Emirates de antevisão à La Vuelta a España, com a presença de Juan Ayuso e João Almeida que falaram sobre o que esperam da corrida e quais são os seus objetivos. Com vários jornalistas internacionais presentes, tivemos a oportunidade de lançar uma questão a cada um deles, e este é o resultado da análise feita pelos líderes da equipa dos Emirados Árabes Unidos.
O teu pódio no Giro dá-te mais pressão para iniciar esta Vuelta?
João Almeida – Acho que é precisamente o contrário. Depois do pódio no Giro fico muito mais tranquilo, tenho feito uma boa temporada em todas as corridas e chego a esta Vuelta tranquilo e satisfeito com este ano. Vou dar o meu melhor por mim e pela equipa e no final logo vemos como as coisas terminam.
O que pensas da startlist?
Almeida – Penso que é uma startlist que não vemos, às vezes, se calhar nem no Tour. É um dos melhores pelotões que já esteve numa corrida, e esperemos que seja bom para o espetáculo, para os fãs, e que tenha boas pernas!
Ciclismo Mundial – Na última Vuelta a tua primeira semana não foi tão boa, e a última foi bastante forte. Sentes-te mais preparado para a Vuelta deste ano e para atingir os teus objetivos?
Almeida – O ano passado a minha preparação foi bastante pobre, tive imensos contratempos e não foi nada próximo do ideal. Este ano foi tudo bastante melhor e acho que estarei bem na primeira semana, mas o pelotão também é mais forte, e por isso vamos ver como as coisas correm. Tenho-me esforçado para ser a melhor versão de mim, não tenho tido azares, e a época tem sido muito boa. Estou satisfeito e acho que temos tudo para fazer uma boa corrida enquanto equipa!
Sobre o contrarrelógio coletivo, toda a gente fala da Jumbo – Visma e da INEOS Grenadiers. Sentes que a equipa é uma outsider para a vitória?
Almeida – Penso que não preparamos tanto este contrarrelógio como poderíamos ter feito. A vantagem é que a equipa é semelhante à do último ano, conhecemo-nos bem, temos uma boa relação e isso pode ajudar-nos a conseguir um bom resultado. Vai ser difícil vencer, mas já será bom se terminarmos próximos dos principais adversários, sem quedas e sem percalços. Confio na equipa e sei que todos vamos dar tudo!
Há algum líder da equipa à partida ou será a estrada a decidir?
Almeida – Partimos ambos como líderes e será a estrada a ditar a nossa corrida e a nossa tática. Na nossa equipa a nacionalidade não quer dizer nada, é tudo uma questão de perceber quem está melhor e assim se decidirá.
Como vês a presença de 6 portugueses nesta Vuelta?
Almeida – Infelizmente o Ivo não estará presente devido a doença, senão poderíamos ter todos os portugueses no World Tour presentes, o que seria incrível. Mesmo assim, termos seis já é muito bom e acredito que todos faremos uma boa corrida!
Ciclismo Mundial – É a tua segunda grande volta, mas desta vez chegas após uma grande lesão no início da temporada. Como te sentes para a Vuelta e quais são os teus objetivos?
Juan Ayuso – Estou contente por estar aqui depois de todo este ano. Mentalmente e fisicamente foi difícil, mas sinto-me feliz por chegar aqui a 100% e ser capaz de desfrutar de uma corrida onde o ano passado cumpri um sonho.
Abdicaste das corridas após o Circuito de Getxo e fizeste apenas duas corridas por etapas em 2023. Sentes-te mais fresco do que outros que possivelmente têm mais dias nas pernas?
Ayuso – Gostava de ter mais dias nas pernas, mas não pude. Penso que isso pode ser uma vantagem para a terceira semana, e que o cansaço pese mais nos adversários. A primeira semana pode ser mais difícil, mas o plano foi sempre fazer estas corridas e depois regressar a altitude. Não ter corrido na primeira parte da temporada pode ser algo que me ajude agora.
Com uma startlist com esta qualidade, sentes a pressão de terminar a Vuelta outra vez no pódio?
Ayuso – Penso que agora há alguma pressão porque o ano passado estive no pódio, e por isso queres sempre voltar, pelo menos onde estavas. Este ano o pelotão é mais forte, vai ser ainda mais difícil e o traçado também é mais duro. Vai ser uma corrida completamente diferente e teremos de correr de outra forma, mas o objetivo é o mesmo, é dar o nosso melhor, e claro que gostava de ganhar uma etapa, fazê-lo em casa era bonito.
Os últimos dias em Espanha e em Barcelona foram muito afetados pelo calor. Poderá ser um problema para os corredores da tua geração?
Ayuso – O lado positivo é que as condições são iguais para todos. Ainda hoje saímos para treinar e estava tão húmido que parece tornar tudo tão mais difícil do que é. Se vamos correr nestas condições, temos de nos preparar bem e ter em conta o que podemos esperar. Mais do que uma subida ser fácil ou difícil, estes fatores podem ser também decisivos, mas felizmente sou de Xàbia, uma cidade bastante quente e sei o que esperar. Não que esteja adaptado porque estive em altitude, mas espero que possa jogar também a meu favor e que seja uma vantagem.
Disseste que terão de correr de forma diferente do último ano. Podes aprofundar mais esse tópico e relacionar com o teu crescimento como líder na UAE Team Emirates?
Ayuso – Quando o disse foi a pensar que o percurso é diferente do último ano. Penso que este ano a terceira semana é a mais difícil da corrida, enquanto o ano passado, a nível de traçado era a mais fácil. Temos o João que chega também muito forte e olhando às equipas que vamos defrontar, penso que ter mais cartas para jogar só nos favorece. A Jumbo é uma das melhores equipas que já vi numa grande volta, desde que vejo ciclismo, e temos também o Remco a defender o título, por isso é um pelotão mais forte que em 2022, e por isso teremos de correr de forma diferente. Sobre a liderança na UAE, este ano não corri muito, e por isso não é o melhor cenário para progredir relativamente ao ponto do ano passado, mas chego numa condição muito próxima de 100% e espero que tudo corra bem e que possa construir a partir de onde terminei o último ano.
Podes ganhar a La Vuelta?
Ayuso – Poder espero que sim! Evidentemente seria o máximo e o que sempre sonhei, e depois de fazer pódio o ano passado, acabas por sonhar sempre um pouco mais alto. Com o pelotão que temos nesta Vuelta será complicado, mas é para isso que treinamos e competimos!
O que tem o Juan Ayuso que está a começar a La Vuelta em 2023 que não tinha o ano passado?
Ayuso – Creio que alguns watts mais, não muitos, mas alguns mais! (risos) Sobretudo mais experiência e capacidade de sair de algumas situações difíceis. O ano passado tentei gerir cada situação que acontecia da melhor maneira, mas este ano sei um pouco mais e consigo prever melhor como me posso gerir em três semanas. A situação do início do ano deixou-me mais forte mentalmente e com muito mais confiança que no ano passado
Dentro da co-liderança da equipa há alguma hierarquia estabelecida?
Ayuso – Creio que a hierarquia vai ser a estrada a definir! Há equipas muito fortes, e é agora que mais temos que encontrar a união para poder superar a Jumbo e o Remco. No um para um é muito provável que eles sejam superiores, mas jogando bem as nossas cartas acredito que algum de nós os dois pode terminar lá em cima.