A Vuelta a Andalucia no olhar de Beatriz Pereira, Cristiana Valente, Liliana Jesus e Bruno Pires!

A Vuelta a Andalucia Women terminou no último domingo e à meta final chegaram Cristiana Valente e Liliana Jesus, da Glassdrive – Chanceplus – Allegro, com o seu diretor desportivo, Bruno Pires, e também Beatriz Pereira, da Bizkaia – Durango, no seu regresso à competição. O Ciclismo Mundial traz-vos as declarações de cada um dos quatro, em mais uma importante corrida para o ciclismo feminino português!

Cristiana Valente foi a melhor portuguesa na Vuelta a Andalucia! (Foto: Glassdrive – Chanceplus – Allegro)

Cristiana Valente foi a melhor classificada portuguesa na geral. A líder da Glassdrive – Chanceplus – Allegro cumpriu muito bem numa corrida com um belo nível, e fechou no 27º posto na geral, a 17:51 da vencedora, entrando no top20 na etapa final. Cristiana partiu “sem grandes expectativas para esta corrida uma vez que não tinha qualquer experiência numa corrida de 5 dias com um pelotão de elevada qualidade. Preparei-me o melhor possível e estava confiante no trabalho que tinha feito para esta prova. Sabia que a corrida ia ser difícil pelos perfis das etapas e pelas altas temperaturas que se iam fazer sentir.”

Cristiana e as restantes colegas de equipa da Glassdrive na apresentação da equipa (Foto: Bruno Pires)

Sobre a corrida, Cristiana contou-nos que “o pelotão era numeroso e os ritmos foram sempre bastante elevados e com muitos ataques o que endureceu bastante a corrida dia após dia. Sofri uma queda na segunda etapa enquanto seguia na cabeça do pelotão que me fez perder o contacto com o mesmo, ainda tentei, com a ajuda das minhas colegas, reentrar, mas não foi possível. Com o decorrer das etapas seguintes fui-me sentindo melhor o que me permitiu subir na classificação geral e terminar num 20º lugar na última etapa, o que me deixou bastante feliz. Adorei esta corrida, pedalar com algumas das melhores atletas do pelotão Mundial foi um sonho tornado realidade. Tenho muito a agradecer à minha equipa que foram incansáveis para nos darem as melhores condições possíveis quer na preparação quer no decorrer da corrida e às minhas colegas que trabalharam para me posicionar e proteger o melhor possível no pelotão.

Beatriz Pereira sendo a primeira de um dos grupos atrasados na etapa 3 da Vuelta a Andalucia!

Beatriz Pereira regressou à competição após quase dois meses de ausência, e pela primeira vez esteve numa corrida com cinco dias. Para a ciclista nortenha, “o balanço acaba por ser positivo. O objetivo era acabar que apesar de parecer muito simples e primário, tornava-se bastante difícil de conseguir devido à falta de ritmo competitivo e ao facto de me estrear numa corrida de 5 dias, que pode parecer algo inofensivo, mas era a duração da Volta a Espanha no ano passado e ainda há pouca corridas com essa extensão no pelotão feminino.”

Olhando a como se sentiu no pelotão, “as sensações, apesar de tudo, foram boas. A potência foi subindo ao longo dos dias, o que não é o esperado numa volta, mas sendo que levava algum tempo sem correr era sinal que me estava a adaptar. Foi sofrer, muitas vezes, de início a fim. Sofrer muito, e com certeza que a etapa 2 entra num top5 de dias mais duros na bicicleta. As grandes dificuldades acabavam por ser os prémios de montanha, que estavam quase sempre no início das etapas, o que tornava o objetivo passar a subida para conseguir fazer a etapa no pelotão ou arranjar um bom grupeto.

Beatriz Pereira aquecendo nos rolos ao lado das suas colegas de equipa!

“Depois das 3 clássicas na Bélgica e Países Baixos que tivemos no final de março serem canceladas por causa da neve, em abril, as duas corridas que tive da copa de Espanha a primeira estava com uma amigdalite e a segunda ainda estava a fazer antibiótico por causa da mesma infeção. A equipa decidiu não me levar às corridas em maio e enquanto isso treinei muito, não desmotivei e tentei rodear-me das pessoas certas. Esforcei-me muito para que esta época como sub23 de 2° ano fosse melhor que a época passada mas, infelizmente, alguns problemas de saúde física e mental não me deixaram estar ao nível que queria e que trabalhei. Apesar de tudo isso as coisas estão-se a compor e finalmente a sair bem, porque apesar de “apenas terminar” parecer pouco, só metade das atletas que saíram é que conseguiram terminar devido ao elevado nível. Agora é continuar a competir e afinar o motor para um dos grandes objetivos da época que são os Campeonatos Nacionais.”

Liliana Jesus na etapa 1 da Vuelta a Andalucia!

Liliana Jesus é a mais experiente das três ciclistas, já disputou várias corridas internacionais e leva também um “balanço bastante positivo” da corrida! “Num percurso que nada me era favorável, tocou tentar ajudar a equipa no que fosse possivel para o melhor resultado da Cristiana, que é uma trepadora nata. Vimos bastantes satisfeitos pelo resultado conseguido através da sua pessoa. Esse era o propósito da equipa. Foi conseguido! Não é fácil um resultado tão satisfatorio neste nivel competitivo e passamos a prova com distinção. No ciclismo, sendo um desporto coletivo, muitas vezes temos de “sacrificar algumas peças essenciais ao jogo” para atingir resultados. Eu… dei de coração tudo o que podia!” No entanto, a corrida teve também, “infelizmente, alguns azares pelo meio”. A equipa havia perdido Susana Freitas devido a uma avaria mecânica que a fez perder demasiado tempo, Tâmara Branco devido a uma queda aparatosa, a espanhola Rocio del Alba devido a problemas gástricos, e também Nádia Henriques. “Todas eramos importantes para o objetivo de equipa. Restei eu e a Cristiana, mas mesmo assim, foi digno o que fizemos!” (com um sorriso).

Olhando às etapas mais detalhadamente, Liliana viu “na primeira etapa um pelotao mais nervoso, nós próprias com alguma ansiedade por estarmos em contacto com um pelotão destas caracteristicas. À medida que fomos avançando com as etapas fomos tendo mais a vontade e no fim já nos conseguíamos posicionar. Havia um andamento muito elevado. Nós mulheres estamos mesmo a andar muito no pelotão internacional. Eu própria ja me encontrei em reflexão, e detetei pontos em melhoria para conseguir suportar melhor este tipo de corridas.”

Olhando ao resultado global da euqipa, Liliana refere que “a montra que demos enquanto equipa foi ótima. Trouxe notoriedade e cuidado para com uma equipa que apenas tem 2 anos de existencia. Trará no futuro muitas mais valias, no que se refere a atletas e provas. Acredito que a participação da equipa foi um passo essencial para a sua evolução no futuro. Acredito e sinto que a estrutura, com trabalho árduo e ponderado, poderá construir um projeto coeso e de destaque.” No seu lado mais, pessoal, Liliana é “grata pela oportunidade que a Glassdrive me deu em representar esta equipa, nesta corrida, assim como estou grata à Extremo Sul, equipa que represento e na qual estou filiada, por me ceder para esta experiência fantástica! Foi uma uniao muito boa!”

Bruno Pires com Cristiana Valente numa das corridas da Taça de Portugal (Foto: UVP/FPC)

Bruno Pires é o Diretor Desportivo desta recente equipa da Glassdrive – Q8 – Anicolor. Campeão Nacional de Fundo em 2006, fez parte da equipa que venceu a La Vuelta a España de 2012, liderada por Alberto Contador, e ingressou neste projeto em 2022, no seu nascimento, para ajudar ao crescimento e à promoção do ciclismo feminino.

Bruno faz “um balanço positivo” da corrida, dizendo que “o objetivo da equipa era ganhar ritmo competitivo, era dar uma experiência internacional às nossas atletas e a atletas portuguesas, e isso foi conseguido“. A corrida teve alguns percalços, “com várias quedas e problemas que nos impediram de fazer uma melhor classificação e terminar com mais atletas, mas o objetivo principal foi cumprido e temos de estar orgulhosos do que a Glassdrive – Chanceplus – Allegro fez nesta corrida!“.

A equipa da Glassdrive à partida para a Vuelta a Andalucia! (Foto: Glassdrive – Chanceplus – Allegro)

Ao longo dos vários dias, Bruno disse-nos que “a equipa se foi comportando bem, apesar de ter perdido dois elementos no primeiro dia, um devido à falta de experiência e juventude, outro devido a uma avaria mecânica num momento decisivo e não conseguiu mais retomar. Dia a dia elas foram-se encontrando bem, apesar de termos muitas viagens para fazer, do hotel para a partida, da chegada para o hotel e é uma dinâmica totalmente diferente, são corridas por etapas, mas a equipa foi-se adaptando bem e a prova disso é que no último dia conseguimos o nosso melhor resultado“.

Sobre os resultados conseguidos por Cristiana Valente, com o top20 na etapa final e o top30 na geral, Bruno diz que “para mim não é uma surpresa, porque a Cristiana é uma atleta com uma qualidade muito acima da média em Portugal. É ciclista para estar àquele nível, e não me surpreende. Sei que podia ter feito melhor porque houve o dia da segunda etapa em que ela caiu, e claro que uma queda afeta sempre, tira a concentração, e as mazelas e a dor acabam por dificultar. Aquilo que ela teve de perseguir para voltar a reentrar foi a energia que lhe faltou para ela poder estar nessa etapa no lugar em que terminou a última, esse que foi um dia em que tudo correu bem. Penso que esta foi a demonstração que estamos a trabalhar bem, que a Cristiana está a fazer as coisas corretamente, e isso dá-nos uma perspetiva para o futuro a nível desta corredora de fazer coisas realmente importantes, e a prova disso é que a nível internacional com algumas das melhores equipas, esta atleta bateu-se com elas e isso não é sorte, é apenas trabalho, dedicação e capacidade“.

A equipa da Glassdrive à partida para a etapa 2 da corrida Andaluza (Foto: Glassdrive – Chanceplus – Allegro)

Olhando já para o futuro após a corrida, Bruno contou-nos que “O nosso objetivo é que cada vez mais possamos ter um calendário internacional e ao momento em que recebemos o convite desta organização e estivemos ali com dignidade, com respeito e profissionalismo, acho que pode abrir portas tanto para que no próximo ano possamos estar outra vez nesta corrida, como para sermos convidados para estar noutro tipo de corridas no país vizinho. Esse é o meu objetivo, que a equipa cada vez mais tenha um calendário mais internacional, porque é isso que vai fazer evoluir as nossas atletas, e as fazer sonhar com participações e prestações muito melhores do que as que estamos a ter quando estamos num ciclismo mais limitado a nível de calendário e claro que aquilo que faz a condição são as competições, é isso que dá o extra às atletas.”

O Ciclismo Mundial agradece aos quatro pela disponibilidade e deseja um continuar de uma excelente época a todos!

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