Desistência de Avenir e vagas não ocupadas nos Europeus… O que a FPC não fala sobre o ciclismo em Portugal!
Portugal encerra um fim de semana prolongado da festa do ciclismo com o término da Volta a Portugal que aconteceu esta segunda, em Gaia. Os momentos celebrativos fizeram esquecer o caso da perda da licença desportiva da W52 – FC Porto, que muita polémica gerou antes de a Volta começar, mas também fizeram passar ao lado outras duas importantes decisões que a Federação Portuguesa de Ciclismo voltou a manter pela calada, sem qualquer explicação aos adeptos da modalidade. Falamos dos Europeus de Estrada, em que não ocupamos as vagas totais que tínhamos disponíveis, e da ausência do Tour de l’Avenir.
Os Campeonatos da Europa marcam sempre um momento importante da temporada em qualquer modalidade. No ciclismo, há bastantes pontos UCI em disputa, que podem, obviamente, afetar o ranking das nações, e consequentemente alterar o número de vagas para provas futuras. Devido à sua posição nesse mesmo ranking, Portugal tinha direito a levar 6 ciclistas à prova de fundo masculina. Mesmo com um percurso para sprinters, que não assentava tão bem nas características de muitos dos portugueses, seria sempre uma oportunidade de dar experiência internacional a muitos e bons talentos que temos dentro de portas. Aconteceu que foram inscritos apenas 3 ciclistas, Rui Oliveira, Ivo Oliveira e André Carvalho. Desde logo o não completar das 6 vagas nos fez confusão, mas mais ainda quando dos 3 inscritos se soube que apenas Rui Oliveira iria competir, já que André estaria na Noruega, a representar a Cofidis na Arctic Race, e Ivo não teria autorização da UAE Team Emirates, por estar a preparar a Vuelta a España ao lado de João Almeida.
Do lado feminino, o ranking de Portugal dava-nos o direito de levar 2 ciclistas à prova de fundo. Num percurso talhado para sprinters, Tata Martins seria a escolha mais óbvia para liderar, como muito bem foi feita, e teria a possibilidade de ter uma outra ciclista ao seu lado, ajudando-a no posicionamento, mas também no abastecimento, tarefas que despendem desde logo energia importante para quem quer lutar pelas primeiras posições. Foi inscrita apenas Tata Martins, sem qualquer esclarecimento ou justificação por parte da FPC.
Se quisermos entrar pelos contrarrelógios, nenhum atleta foi inscrito por parte de Portugal, e apesar de ser mais fácil adivinhar o porquê, a impossibilidade de os nossos melhores especialistas estarem presentes, é também uma decisão que nos preocupa bastante, porque a aposta na formação para ganhar experiência internacional na estrada volta a ser nula! Daniela Campos é a Campeã Nacional de contrarrelógio, e Daniel Dias foi segundo nos Sub23. Ambos já estavam em Munique para disputar os Campeonatos Europeus de Pista. Era assim tão grande o gasto ou a dificuldade em colocá-los a correr também na estrada? O leque de atletas que poderiam aqui estar é grande, felizmente, mas estes dois são os exemplos mais fáceis de dar porque já estavam em Munique, não era preciso ter despesas com viagens ou transporte de material extra.
Questionando diretamente a FPC, fica a pergunta a seguir. Porque não completamos todas as vagas que tínhamos nestes Europeus de Estrada?
O Tour de l’Avenir é, desde há muitos anos, a maior corrida por etapas para o pelotão Sub23. A prova representa uma importante janela do talento do futuro, e uma mostra de muitos talentos que depois dão o salto para o pelotão World Tour. A luta por vagas para a presença na corrida é sempre um fator muito importante para as diversas nações do ciclismo. Portugal não é exceção, e nos últimos anos, infelizmente, nem sempre essa qualificação tem sido conseguida. Em 2022, Portugal obteve os pontos necessários e estava qualificado para participar no Tour de l’Avenir!
Com o anúncio da lista dos inscritos no Tour de l’Avenir 2022, foi notória a ausência de Portugal, porque afinal tínhamos a qualificação garantida, e seria apenas necessário selecionar os nossos seis atletas para participar. Pesquisando um pouco, percebemos no DirectVelo que Portugal desistiu do Tour de l’Avenir antes de o mesmo sequer começar! Passamos anos e anos a lutar pela presença na maior corrida por etapas do calendário Sub23, e quanto temos a oportunidade de lá estar, desistimos, sem qualquer explicação. A FPC abdicou do Tour de l’Avenir e não o comunicou a ninguém!
Questionando diretamente a FPC, fica nova pergunta. Porque desistimos do Tour de l’Avenir quando finalmente voltamos a ter oportunidade de participar?
As decisões relativamente aos Europeus e ao Tour de l’Avenir são, na nossa perspetiva, incompreensíveis. É gravíssimo que não exista comunicação sobre as mesmas, o que só mostra que a FPC não se digna a explicar o porquê de retirar aos seus próprios atletas as oportunidades de disputarem as maiores competições internacionais!
O ciclismo português necessita urgentemente destas respostas, necessita de transparência! Infelizmente, é tudo o que a atual Direção da FPC não tem sido para com os seus ciclistas e para com os adeptos da modalidade. Enquanto isso, distribuem-se sorrisos e batem-se palmas. Por Portugal ou por Munique, Delmino Pereira desfrutou como um verdadeiro adepto com acessos privilegiados de diversas corridas, mas com tanta imprensa próxima de si, foi incapaz de se mostrar um verdadeiro líder e representante do ciclismo em Portugal, e de comunicar e explicar as ausências dos Europeus de Estrada e do Tour de l’Avenir. Numa palavra apenas, é triste!