Tour de France 2021 – O tira-teimas!

Arranca amanhã o 108º Tour de France, a competição mais prestigiante do ciclismo mundial! Ao longo de 21 dias de competição, um pelotão de 23 equipas e 216 corredores irá competir nas estradas gaulesas, começando a sua aventura em Brest, na Bretanha, e terminando, como é norma, no coração de Paris!

Esta será uma edição com inúmeros motivos de interesse, a começar desde logo pela presença de dois nomes grandes do ciclismo português: Rui Costa (UAE-Team Emirates) e Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo), este último a fazer a sua estreia no palco maior do ciclismo internacional. Tanto o antigo campeão do mundo como o rei da montanha do Giro 2020 terão à sua espera bastante trabalho em prol dos seus líderes, mas haverá certamente espaço para estes bravos lusitanos poderem brilhar, tentando alcançar uma vitória em etapa, ou até quem sabe discutir a camisola da montanha, que tão bem ficaria na galeria de troféus de Ruben Guerreiro.

Em 2013, Rui Costa venceu duas etapas no Tour, a segunda das quais em Le Grand Bornand, onde termina a etapa 8 da edição deste ano

Em termos de luta pela camisola amarela, a expetativa é enorme, com os amantes do ciclismo certamente “em pulgas” para assistirem a mais um confronto titânico entre dois super eslovenos pela supremacia do ciclismo global! Note-se, contudo, que à espreita está uma poderosa Ineos Grenadiers, que apresenta um alinhamento de sonho, na tentativa de recuperar o seu título mais precioso. Existe ainda um extenso leque de “voltistas” de topo no pelotão deste ano, que quererão certamente explorar alguma falha dos grande favoritos.

Na ausência do camisola verde de 2020, Sam Bennett, a classificação dos pontos estará debaixo de olho do inevitável Peter Sagan, embora o número elevado de sprints planos possa novamente abrir a porta a um velocista mais puro, como Caleb Ewan ou Tim Merlier.

Outros dos pontos de interesse deste Tour será a presença das duas bestas rivais, Wout “King Kong” Van Aert e Mathieu “Godzilla” Van der Poel, eles que poderão escrever mais alguns capítulos da sua lendária epopeia de duelos.

Refira-se, ainda, que se por um lado existem diversos jovens valores a tomar conta da modalidade (desde logo Tadej Pogacar, que aos 22 anos tenta somar já o seu segundo título), este será um Tour marcado pela presença de alguns veteranos, uma boa parte deles nomes incontornáveis da história recente do ciclismo. Falamos não só de Alejandro Valverde, Vincenzo Nibali, ou Philippe Gilbert, mas também de duas figuras maiores dos sprints da Grande Boucle, Mark Cavendish e Andre Greipel, além do tetracampeão da prova, Chris Froome. Contudo, no caso do britânico da Israel Start-Up Nation, em função dos baixos níveis de forma mostrados recentemente, não é esperado muito mais do que uma participação para satisfazer os patrocinadores e aumentar a visibilidade da equipa durante as três semanas.

O percurso

Para a edição de 2021, a organização da Volta à França escolheu um traçado interessante e com diversos pontos de destaque. Existirão dois contrarrelógios individuais, quatro etapas de média montanha, sete de alta montanha, e oito tiradas que poderão ser disputadas pelos sprinters.

O percurso do Tour de France 2021

A prova inicia-se no extremo noroeste de França, na região da Bretanha, com duas etapas algo semelhantes, e que irão fazer as delícias dos puncheurs do pelotão. A Grand Départ será em Brest, com os ciclistas a percorrerem 197.8 km, rumo a Landerneau. Num dia de muito sobe e desce, o final da etapa apresenta uma subida com 3.2 km a 5.4%, o que promete animar bastante a luta pela primeira camisola amarela do Tour! Na segunda etapa, teremos nova jornada com um final apropriado aos ciclistas mais explosivos. A chegada será no emblemático Mûr-de-Bretagne, uma ascensão de apenas 2 km, mas com 6.8% de inclinação média, e zonas acima dos 13%!

Depois de um início de Tour que favorece nomes como Julian Alaphilippe, mas também uma enorme panóplia de corredores, que vão desde Dan Martin, Michael Woods, Alejandro Valverde, Marc Hirschi, ou mesmo os dois super eslovenos, até ciclistas como Peter Sagan, Mathieu Van der Poel, Wout Van Aert, ou Sonny Colbrelli, entre tantos outros, a prova prossegue com duas etapas que deverão terminar com sprints puros e duros. Segue-se depois o primeiro contrarrelógio, um esforço individual de 27.2 km, tendencialmente planos, e que irão certamente mudar o figurino da classificação geral.

A 6ª etapa será novamente para os velocistas do pelotão, enquanto a 7ª jornada irá consistir num dia brutal, ao estilo de um monumento, com uma ligação de 249.1 km (!), entre Vierzon e Le Creusot. Apesar do perfil plano da primeira metade do percurso, a fase complementar apresenta cinco contagens de montanha, que deverão impossibilitar uma chegada em pelotão compacto.

A alta montanha faz a sua aparição à 8ª etapa, com a chegada aos Alpes, num dia em que o grande destaque vai para a subida de 1ª categoria ao Col de la Colombière, que irá anteceder a descida para a meta em Le Grand-Bornand. A 9ª etapa traz-nos, logo de seguida, a primeira chegada em alto deste Tour, com a meta colocada no topo do Montée de Tignes, uma ascensão com 20.8 km de extensão, embora com uma pendente média de apenas 5.6%.

Depois será dia de descanso, com a prova a retomar no dia seguinte, com mais uma etapa para sprinters antes do regresso à alta montanha. Na 11ª etapa, o pelotão irá enfrentar, não uma, mas duas ascensões ao lendário Mont Ventoux, fazendo-o por duas vertentes distintas, sendo a mais difícil a segunda subida, que irá anteceder a descida para a meta em Malaucène.

Seguem-se duas oportunidades para os sprinters e depois uma etapa de média montanha, que marca a entrada nos Pirinéus. A cordilheira que separa França de Espanha reserva depois quatro etapas, onde muito provavelmente se irá decidir boa parte da CG deste Tour. A etapa 15 terá três contagens de primeira categoria, a última das quais o Col de Beixalis (6.2 km a 8.6%), colocado antes da descida para Andorra-a-Velha. Já a etapa 16 será a mais suave da quadra pirenaica, com o maior destaque a ir para a subida ao Col de la Core, uma 1ª categoria com 13 km a 6.6% de pendente média, embora este topo esteja colocado sensivelmente a meio da tirada.

A etapa 17 terá um perfil curioso, com uma longa fase plana inicial e com 60 km finais duríssimos, com as subidas de 1ª categoria do Col de Peyresourde e Col de Val Louron, antes da ascensão final para o Col du Portet, um impressionante desafio com 16.3 km e 8.7 % de inclinação média.

Depois virá a 18ª etapa, a última jornada de montanha deste Tour, uma curta ligação de 129.7 km, mas que irá incluir a subida ao mítico Col du Tourmalet (17 km a 7.4%) e a ascensão final para Luz Ardiden (13.4 km a 7.5%).

A etapa 19 terá dois objetivos: fazer a ligação com a localidade de Libourne, onde se inicia o contrarrelógio do dia seguinte, mas também dar mais uma oportunidade aos sprinters, que assim terão mais uma motivação para superarem as montanhas deste Tour, além do sprint de Paris.

A penúltima etapa da Grand Boucle consistirá então num contrarrelógio individual de 30.8 km, entre Libourne e Saint-Émilion, num percurso praticamente plano, embora com várias zonas técnicas. Irá este contrarrelógio ser tão decisivo e surpreendente como no ano passado? Aceitam-se apostas!

Como é habitual, a 21ª etapa será a jornada de consagração, com um circuito nas ruas de Paris e o sprint massivo mais importante do ano, em plenos Champs-Élysées!

Os favoritos

A Volta a França representa, de forma destacada, a mais importante competição velocipédica a nível global, com pergaminhos centenários e com uma presença bem forte no imaginário de todos os fãs da modalidade, e mesmo daqueles que não seguem o ciclismo de forma regular.

Esta é a corrida que todos sonham ganhar e aquela onde as equipas apostam a grande parte das suas fichas. Em 2021, a nata do ciclismo volta a reunir-se em terras gaulesas, numa startlist assombrosa, com o grande destaque a ir para a dupla de monstros eslovenos que discutiu a vitória no ano passado e que se arrisca a fazer o mesmo nesta temporada. Na edição de 2020, o título ficou para Tadej Pogacar, o jovem prodígio de Komenda, depois de uma das mais fantásticas exibições na história da modalidade, em particular no contrarrelógio final, onde dizimou toda a concorrência, incluindo o então camisola amarela e favorito destacado, o “Padrinho” do ciclismo esloveno, Primoz Roglic.

Em 2020, Roglic parecia ter a amarela no bolso, mas o jovem Pogacar tinha outras ideias

Os dois ocupam os lugares cimeiros da lista de candidatos a vencer este Tour, tornando-se difícil de dizer, neste momento, quem será o grande favorito. No entanto, a nossa aposta irá recair no “Pequeno Pogi”, Tadej Pogacar, sendo que a motivação será grande para tentar repetir o feito de 2020! Os resultados do chefe de fila da UAE-Team Emirates têm sido simplesmente demolidores nesta temporada, com vitórias no UAE Tour, no Tirreno-Adriático, na Liège-Bastogne-Liège, e mais recentemente na Volta à Eslovénia. Refira-se que a formação dos Emiratos Árabes Unidos irá alinhar de forma completamente dedicada a Pogacar, sem sprinter, e com nomes como Rafal Majka, Davide Formolo, Brandon McNulty, Marc Hirschi, e claro Rui Costa. Perante esta armada em torno do rei do Tour, o português poderá até ser o escudeiro com mais liberdade para tentar atacar uma vitória em etapa, em especial na segunda e na terceira semana, com o suíço Hirschi a ser possivelmente o oportunista da equipa nos primeiros dias.

Quanto a Primoz Roglic, não se pode dizer que está atrás do seu compatriota em termos de domínio nas provas onde participa. Em particular, destaquem-se as três vitórias em etapa no Paris-Nice, onde os azares do último dia o impediram de levar a geral, algo que não aconteceu na Volta ao País Basco, onde juntou uma etapa à vitória final e ainda às classificações dos pontos e da montanha. Note-se que Pogacar foi 3º na prova basca, atrás de Roglic e de outra abelha assassina da Jumbo-Visma, Jonas Vingegaard. Se a Emirates tem um “8” bastante forte, a Jumbo não fica atrás, fazendo alinhar no apoio a Rogla, além do norueguês, homens como Steven Kruijswijk, Sepp Kuss, Robert Gesink, ou Wout Van Aert, o mesmo enxame que dominou o pelotão do Tour 2020.

Importa realçar que o traçado da prova, em especial o contrarrelógio plano final, acaba até por favorecer Rogla, restando saber que pernas terá o esloveno voador face a Pogi, depois da lição que o aluno deu ao professor no contrarrelógio montanhoso que encerrou o Tour 2020. A vitória de Pogacar foi verdadeiramente épica, como atestam as icónicas imagens de absoluta incredulidade por parte dos homens da Jumbo-Visma nesse dia. Se as pernas forem as mesmas, não será um contrarrelógio plano que irá salvar Roglic.

Apesar dos holofotes estarem colocados sobre estes dois adamastores da Europa Central, não se pode menosprezar o extraordinário alinhamento da Ineos Grenadiers para o Tour de 2021. No papel, os dois líderes, e também eles sérios candidatos à vitória final, são Richard Carapaz e Geraint Thomas, com eventual vantagem inicial para o equatoriano, vencedor da Volta à Suíça, com o galês, vencedor da Volta à Romandia e 3º no Critérium du Dauphiné, certamente com ganas de recuperar o título de 2018, ele que irá beneficiar bastante dos dois contrarrelógios planos.

Contudo, a powerhouse britânica apresenta mais dois ases para completar o poker: Richie Porte, vencedor do Dauphiné e 3º no Tour do ano passado, e ainda Tao Geoghegan Hart, campeão do Giro 2020, sendo que qualquer um deles poderá ser uma séria ameaça para a geral, particularmente o australiano. A restante equipa é formada por Dylan Van Baarle, Luke Rowe, Jonathan Castroviejo, e Michal Kwiatkowski, pelo que um dos quatro líderes terá de trabalhar com toda a certeza, restando saber, na eventualidade de Hart ou Porte estarem na liderança do Tour, se a equipa vai sacrificar Carapaz ou Thomas. Será interessante de analisar qual a tática da equipa, sendo que se a Ineos jogar bem as suas cartas, pode conseguir obter uma clara vantagem tática sobre a Jumbo e a Emirates e levar a amarela com um dos seus quatro cavaleiros do apocalipse!

A Ineos apresenta-se com nomes Tao Geoghegan Hart, Geraint Thomas, e Richard Carapaz, todos já vencedores de grandes voltas, e haverá ainda Richie Porte, ele que foi o melhor do Tour 2020, a seguir aos eslovenos

Recorde-se que a vitória de Pogacar em 2020 quebrou o domínio do conjunto Ineos (antiga Sky) na Grande Boucle, que acumulou sete vitórias em oito anos, através de Egan Bernal, Geraint Thomas, Chris Froome, e Bradley Wiggins, sendo que apenas Vincenzo Nibali tinha conseguido imiscuir-se neste domínio britânico, no ano de 2014.

Apostar em alguém que não seja esloveno ou ciclista da Ineos para vencer o Tour é, nesta altura, extremamente arriscado, portanto a melhor alternativa será, porventura, chamar um Superman! De facto, Miguel Ángel López, 6º classificado do Tour no ano passado, tem estado em bom nível esta temporada, conseguindo vitórias na Volta à Andaluzia e no Mont Ventoux Challenge. O colombiano pode ainda apoiar-se numa Movistar que apresenta um “8” de peso, com uma fortíssima alternativa para a geral, na forma do 5º classificado de 2020, Enric Mas, e ainda homens como Marc Soler e o veterano Alejandro Valverde, ele que poderá ser também uma eventual e remota aposta da equipa para a geral, se tal se proporcionar, mas que será certamente alguém de olhos postos na possibilidade de atacar a amarela nos primeiros dias!

Neste momento, é difícil de imaginar que a vitória no Tour vá para um ciclista que ainda não tenha sido referido, sendo que aqueles que parecem em melhores condições de, pelo menos, lutar por um top 5, são dois franceses: David Gaudu (Groupama-FDJ) e o campeão mundial, Julian Alaphilippe (Deceuninck Quick-Step). O foco de “Loulou” será, de forma inequívoca, chegar à amarela numa das duas primeiras etapas, tentando depois levar a liderança tão longe quanto consiga, à imagem do que aconteceu em 2019, quando andou 14 dias de amarelo, fechando no 5º posto da geral final.

O campeão do mundo, Julian Alaphilippe, aqui a bater a concorrência na etapa 2 do Tirreno-Adriático, ele que quer voltar a brilhar na prova maior do seu país natal

Importa destacar também um ciclista que já fez 2º no Tour, e que fechou em 8º no ano passado: Rigoberto Urán (EF Education-Nippo). O colombiano ficou no 2º posto da Volta à Suíça, o que o coloca entre os homens em melhor forma neste momento, além de se tratar de um corredor muito experiente, que se defende bem nos contrarrelógios, e que terá ao seu serviço uma equipa bastante consistente. Refiram-se, em particular, o Iceman de Pegões, Ruben Guerreiro, e também Sergio Higuita, sendo que ambos poderiam ser eventuais alternativas para tentar um lugar honroso na geral, no entanto, ambos deverão ter um papel semelhante: proteger Urán ao máximo, tentando encontrar espaço para lutar por uma vitória em etapa ou, quem sabe, pela montanha.

A partir daqui, o leque de candidatos torna-se extremamente alargado.

A BORA-hansgrohe terá como líder Wilco Kelderman, ele que poderá ser um nome interessante para a luta pelo top 10, se estiver a bom nível nas altas montanhas, mas haverá também Emanuel Buchmann, que poderá ser claramente um dark-horse nesta corrida. O alemão, que foi 4º no Tour de 2019, tem estado longe do seu melhor, mas um regresso à boa forma poderá ser assustador para a concorrência!

A Cofidis irá apostar as suas fichas em Guillaume Martin, ele que anda a bater à porta do Top 10 em grandes voltas há algum tempo (12º no Tour 2019, 11º no Tour 2020, 14º na Vuelta 2020), e que poderá finalmente conseguir esse objetivo. No entanto, o francês tem estado um pouco longe da melhor forma, e será um dos mais castigados nos dias de contrarrelógio.

A Bahrain-Victorious apresenta um interessante trio de candidatos a fazerem uma boa geral: Jack Haig, Wout Poels, e Pello Bilbao. Já a Israel Start-Up Nation terá como líder Michael Woods, ele que poderá também estar com ideias para as duas primeiras etapas, enquanto a AG2R Citröen terá como chefe de fila alguém que poderá ser um osso duro de roer na luta pelo top 10 final: Ben O’Connor.

Refira-se depois o caso da Astana e da BikeExchange, que terão como líderes naturais Jakob Fuglsang e Simon Yates, respetivamente, embora ambos estejam com a sua mente focada nos Jogos Olímpicos, pelo que dificilmente serão opções reais para lutar pelos lugares cimeiros no Tour. A melhor alternativa da equipa cazaque deverá ser Ion Izagirre, enquanto a formação australiana apresenta um forte outsider na forma de Lucas Hamilton, estes dois ciclistas que foram 3º e 4º no Paris-Nice, respetivamente.

A Trek-Segafredo apresenta-se com um alinhamento com foco na luta por etapas, sendo que o líder será Bauke Mollema. O holandês tem todos os atributos para poder fazer um grande Tour, mas será uma incógnita como irá responder depois do desgaste do Giro. Muito possivelmente o objetivo será novamente procurar uma vitória em etapa, tal como a alternativa da equipa para a geral, embora de forma bastante remota: o antigo campeão do Tour, do Giro, e da Vuelta, o Tubarão do Estreito de Messina, Vincenzo Nibali!

Não poderíamos deixar de referir Nairo Quintana, mais um grande nome deste pelotão, sendo que ele apenas não surge mais acima nesta lista devido à fraca forma apresentada no Dauphiné. De qualquer forma, mesmo que possa dar um ar da sua graça, o colombiano da Arkéa Samsic sabe que será difícil ameaçar as posições cimeiras da tabela, pelo que este poderá ser um ano para virar o seu foco para a luta por etapas.

Como super dark-horse para o Tour de 2021, apontamos para Mattia Cattaneo, ele que será a grande (e porventura única) ajuda de Alaphilippe nas montanhas. Perante alguma quebra do chefe de fila da Deceuninck Quick-Step, será o italiano a assumir as despesas da equipa belga na luta pela geral. Recorde-se que Cattaneo fechou top 10 no UAE Tour e na Volta à Suíça, sendo alguém que tem estado muito forte nos contrarrelógios, em particular nos campeonatos italianos, onde foi 3º, atrás de Matteo Sobrero e Edoardo Affini, mas à frente do campeão do mundo, Filippo Ganna.

Favoritos Ciclismo Mundial – Classificação Geral:

⭐⭐⭐⭐⭐ Tadej Pogacar

⭐⭐⭐⭐ Primoz Roglic e Richard Carapaz

⭐⭐⭐ Geraint Thomas, Miguel Angel Lopez, e Richie Porte

⭐⭐ David Gaudu, Julian Alaphilippe, Rigoberto Uran, e Enric Mas

⭐ Tao Geoghegan Hart, Wilco Kelderman, Emanuel Buchmann, Guillaume Martin, Jack Haig, Wout Poels, Pello Bilbao, Michael Woods, Ben O’Connor, Bauke Mollema, Ion Izagirre, Lucas Hamilton, Jakob Fuglsang, Simon Yates, Nairo Quintana, Alejandro Valverde, Vincenzo Nibali, Dan Martin, e Mattia Cattaneo

Os sprinters

Tradicionalmente, a Volta a França representa, das três grandes voltas, aquela que é mais simpática para os velocistas do pelotão internacional. As chegadas são mediáticas e prestigiantes, surgindo habitualmente em número superior em relação ao que sucede no Giro e na Vuelta. A última etapa, em plenos Campos Elísios, representa uma espécie de campeonato do mundo de sprint não-oficial, e todos sabem que um triunfo naquele local tem uma aura especial e inigualável.

Assim, como é hábito, o lote de sprinters presente à partida para o Tour é de enorme qualidade, apesar das ausências de alguns nomes, em especial alguns que estiveram no Giro, como Giacomo Nizzolo, Elia Viviani, ou Dylan Groenewegen, mas também Pascal Ackermann e ainda Sam Bennett, o irlandês voador da Deceuninck Quick-Step, cujo afastamento do alinhamento da equipa para o Tour está a fazer correr bastante tinta.

Assim, dois nomes surgem como grandes candidatos nas possíveis oito chegadas em pelotão compacto, eles que tão boa conta deram de si no Giro d’Italia, e que no papel serão aqueles com maior velocidade de ponta neste pelotão: Caleb Ewan (Lotto Soudal) e Tim Merlier (Alpecin-Fenix). Tanto o australiano como o belga mostraram-se em grande forma na primeira grande volta do ano, tendo saído mais cedo da prova, certamente com a mente focada em atacar o Tour. Refira-se que, se por um lado o Pocket Rocket talvez esteja acima de Merlier na hierarquia dos velocistas, o possante belga terá ao seu serviço um comboio extraordinário na Alpecin-Fenix, com nomes como Petr Vakoc, Kristian Sbaragli, Jonas Rickaert, e ainda Jasper Philipsen e Mathieu Van der Poel, qualquer um dos últimos a poder também lutar pela vitória em alguns dos sprints, em especial Philipsen, com MVDP mais focado talvez em atacar a amarela nos primeiros dias.

Na discussão das chegadas rápidas (e não só) estará certamente o campeão eslovaco, o Hulk de Zilina, Peter Sagan (BORA-hansgrohe), ele que irá em busca da sua 8ª camisola verde, o símbolo da regularidade na Volta a França, tentando aumentar um recorde que já lhe pertence. A ausência de Sam Bennett, que venceu a classificação no ano passado, será benéfica para Sagan, no entanto, com um elevado número de etapas planas e com poucas tiradas de média montanha ao estilo do eslovaco, pode ser difícil para o antigo tricampeão do mundo obter pontos que compensem aqueles que possivelmente irá ceder face a Ewan e Merlier nos dias mais planos. A estratégia do Tourminator terá, certamente, de passar por procurar pontos nos sprints intermédios, especialmente os que estiverem colocados após algumas dificuldades montanhosas, De qualquer forma, com Bennett fora do Tour, Sagan tem de ser encarado como o grande favorito a levar a verde, ele que não desdenhará também tentar ameaçar a amarela nos primeiros dias.

O Hulk quer voltar a reinar na “sua” classificação

A equação da camisola verde será algo complexa neste Tour, graças também à presença de dois colossos que podem ameaçar a concorrências nas chegadas mais rápidas e que terão capacidade para ir buscar pontos em dias mais complicados. Na luta com o Hulk, poderemos muito bem ver o King Kong, Wout Van Aert (Jumbo-Visma), e o Godzilla, Mathieu Van der Poel (Alpecin-Fenix), ficando no ar a possibilidade de assistirmos a mais alguns capítulos na espetacular saga de duelos sagrados entre os rivais de longa data (quem sabe logo no primeiro dia?). Note-se, contudo, que WVA deverá estar limitado pela ajuda que terá de dar a Roglic, enquanto MVDP deverá ter, na maior parte dos dias, um papel mais de apoio a Tim Merlier, algo que pode mudar caso o holandês vista a amarela no primeiro dia.

Outros dois ciclistas versáteis que poderão estar com ideias para a luta pela verde são o australiano Michael ‘Bling’ Matthews e também o novo campeão italiano, Sonny Colbrelli.

Entre os sprinters mais puros, refiram-se os franceses Arnaud Démare e Nacer Bouhanni, além do incontornável Manx Missile, Mark Cavendish, que surge como principal aposta da Deceuninck Quick-Step, face à ausência de Sam Bennett. Note-se que o britânico, uma verdadeira lenda viva do sprint, parece ter renascido das cinzas para um último assalto a um dos marcos mais míticos e inexpugnáveis do ciclismo internacional. Cavendish tem 30 vitórias em etapas do Tour, estando a quatro do recorde do “Canibal”, Eddy Merckx! A formação belga irá levar também Davide Ballerini, que poderá ser a aposta da equipa em algumas das chegadas rápidas.

Mark Cavendish, aqui a triunfar em plenos Campos Elísios, no Tour de 2011, ele que marcou uma época nos tempos da HTC

Refiram-se ainda nomes como Cees Bol (DSM), Christophe Laporte (Cofidis), Bryan Coquard (B&B), Danny Van Poppel (Intermarché-Wanty), Max Walscheid (Qhubeka), e ainda o veterano Andre Greipel (Israel), vencedor de 11 etapas no Tour. Pode ainda haver espaço para alguns homens versáteis poderem baralhar as contas dos sprints em etapas pontuais, nomeadamente Alex Aranburu (Astana), Edvald Boasson Hagen (TotalEnergies), Iván García Cortina (Movistar), Magnus Cort (EF-Nippo), ou a tripla da Trek-Segafredo: Mads Pedersen, Jasper Stuyven, e Edward Theuns.

Favoritos Ciclismo Mundial – Classificação por pontos:

⭐⭐⭐⭐⭐ Peter Sagan

⭐⭐⭐⭐ Caleb Ewan e Tim Merlier

⭐⭐⭐ Wout Van Aert, Mathieu Van der Poel, e Michael Matthews

⭐⭐ Sonny Colbrelli, Arnaud Demare, Nacer Bouhanni, Mark Cavendish, e Cees Bol

⭐ Christophe Laporte, Bryan Coquard, Danny Van Poppel, Max Walscheid, Andre Greipel, Alex Aranburu, Edvald Boasson Hagen, Iván García Cortina, Magnus Cort, Mads Pedersen, Jasper Stuyven, e Edward Theuns

Uma última palavra para a classificação da montanha, que o ano passado acabou por ficar para Tadej Pogacar, com o sistema de pontuação a beneficiar bastante os homens da geral, em relação aos ciclistas das fugas. Para 2021, a conjuntura da camisola das bolinhas será semelhante, o que será prejudicial para corredores como Ruben Guerreiro e para os muitos franceses que terão esta classificação debaixo de olho, como Warren Barguil, Pierre Rolland, Benoît Cosnefroy, ou Aurélien Paret-Peintre.

Os dados estão lançados para mais uma edição da grande festa do ciclismo, com um conjunto de grandes estrelas, preparado para esgrimir argumentos durante as próximas três semanas. Quem vão ser os grandes triunfadores desta Volta a França? Que feitos irão alcançar Rui Costa e Ruben Guerreiro? Apertem os cintos, senhoras e senhores, que a viagem vai começar!

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